domingo, dezembro 07, 2014

Tem empresário pagando para trabalhar este ano em Itaituba

Alguns empresários estão trocando de ares, deixando Itaituba em busca de cidades onde se sintam melhor. Sempre que isso acontece, surgem questionamentos. Será que essas pessoas estão decepcionadas com o município, deixando de acreditar no crescimento da economia, como está previsto, ou esse é apenas um comportamento normal no meio empresarial? Enquanto uns chegam, outros saem. Assim é a dinâmica da economia.
Cleber e Estela Bergo venderam o Supermercado Duvalle. Os compradores são dois irmãos da cidade de Altamira, que há mais ou menos um mês assumiram o controle da empresa. O prédio não foi negociado. Cleber e família estão retornando para o estado de Mato Grosso.
Outra empresa que foi negociada foi a loja Negão Auto Peças. O empresário Carlos Alberto, mais conhecido por Negão, está mudando com a família para a cidade de Santarém.
Para alguns setores da economia do município de Itaituba, 2014 não está sendo um bom ano. Mesmo antes da economia nacional chegar ao ponto que chegou, antes mesmo do meio do ano, muitos comerciantes reclamavam de retração nas vendas. Com a chegada do arrocho econômico no país, a tendência é de que os problemas aumentem.
Foto: Jota Parente
 João Lúcio (Jolosan) - Tem empresário afirmando que este ano está pagando para trabalhar. De três ouvidos pelo Jornal do Comércio, dois disseram isso. Foi o caso de João Lúcio (Jolosan), que disse ter ficado alarmado com o que está acontecendo aqui. “Minhas vendas caíram em torno de 30% este ano, enquanto os custos de qualquer empresário só crescem. O governo não quer nem saber. É tributo em cima de tributo, e a gente tem que se esforçar para pagar em dia” disse João Lúcio.
“O meu custo mensal da empresa fica em torno de 15% a 20%, enquanto o faturamento caiu de 20% a 30%. Com o custo se mantendo no mesmo nível e o faturamento caindo, não é preciso de muito esforço para se concluir que estamos nos equilibrando na corda bamba neste ano de 2014.
Fica difícil manter os compromissos, como pagamento em dia de funcionários e obrigações trabalhistas, loja aberta, impostos que estão sempre aumentando, se o faturamento está caindo. Eu digo com segurança, que este ano eu estou pagando para trabalhar.
O problema vai muito além de Itaituba. Vendedores que negociam comigo me disseram no mês de outubro, que no Paraná e no Rio grande do Sul, a indústria moveleira enfrenta séria crise, com fechamento de algumas fábricas de médio e grande porte, desempregando bastante gente. Tudo por causa da pesada carga tributária, aos desacertos do governo na condução da economia, aliado à queda nas vendas”, disse João Lúcio.
O dono da Jolosan esteve mês passado em Manaus, onde pôde observar que por lá a situação também está causando dores de cabeça. Na área da antiga Zona Franca, no centro velho da capital amazonense, mais de 20% dos pontos comerciais estão fechados. A City Lar, grande empresa de eletroeletrônicos de Manaus fechou três das quatro lojas do centro comercial.
Foto: Jota Parente
Patrick (Ótica Tapajós) – “No meu ponto de vista, o que está acontecendo é um descontentamento em nível municipal, porque nós já temos o empresário Carlos Alberto(Negão Auto Peças), que já vendeu sua loja e está indo embora, tem o caso do empresário Cleber Bergo, que vendeu o Supermercado Duvalle e também está deixando Itaituba. Há uma especulação de que o pessoal do Tradição pode seguir o mesmo caminho. Eu tenho companheiros de Rotary que estão insatisfeitos, porque não estão vendo perspectivas de crescimento em Itaituba.
Poucas vezes eu vi uma situação como essa. Final de ano, quando é para todo mundo estar vendendo bem, mas, o que se vê em Itaituba é o comércio reclamando de vendas em baixa. As pessoas reclamam que faltam incentivos do governo do município para incrementar a economia. As reclamações são direcionadas à administração municipal, que não possibilita que se vislumbrem boas perspectivas para o futuro. Falta gestão ao governo”, disse Patrick Sousa.
Foto: Jota Parente
Davi (Pontocom e presidente da CDL) – Davi Menezes vê isso tudo com preocupação. “Eu não vejo isso com bons olhos. O processo de desenvolvimento que estava para acontecer na nossa região não está acontecendo. Eu confirmo que esses dois empresários citados (Cleber e Carlos Alberto) estão deixando Itaituba.
Isso é muito preocupante, porque nossa economia está desacelerada, há problema da falta de investimentos e de planejamento para que as coisas possam acontecer para que as pessoas que vem para cá encontrem um local em condições de montarem seus negócios, gerando emprego, renda e fomentando a economia.
Observa-se que de uns dois anos para cá, a gente não viu mais empresários de fora chegando aqui para instalar suas empresas. Há uma certa especulação imobiliária. Simplesmente isso. Nosso comércio e nossa economia se encontram em um momento de decadência. Não conseguimos definir neste momento se isso se deve ao contexto nacional e também o mundial, que se encontram em processo de desaceleração.
Esperamos que aconteça algo que possa mexer com o ânimo de todos, como a volta de investimentos de empresários de fora que venham investir na nossa região. E assim como vem acontecendo com outros empresários, eu também posso afirmar que este ano estou pagando para trabalhar.
Se não houver uma ação conjunta, que envolva os governos do município, do Estado e a União, com projetos concretos, com a desburocratização que tanto se espera e que nunca chega, corremos o risco de ficar no isolamento e sermos sempre colônia para exploração das nossas riquezas.
Foi assim no tempo da borracha, no ciclo do ouro, que ainda continua, da exploração da madeira, e agora, os portos e as hidrelétricas, que estão utilizando e vão usar muito mais os nossos recursos naturais, com a possibilidade de não ficar nada de positivo para o município. Vejam os casos das hidrelétricas. O governo afirma que vai construir de qualquer jeito, gostemos, ou não. Diz que as audiências públicas serão meramente consultivas, sem poder de deliberação. Ameaça até mandar a Força Nacional, como fez há pouco tempo, se houver muita resistência ao projeto. É assim que somos tratados.

*Na edição 191 do Jornal do Comércio, circulando.

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