Alguns empresários estão trocando de ares,
deixando Itaituba em busca de cidades onde se sintam melhor. Sempre que isso
acontece, surgem questionamentos. Será que essas pessoas estão decepcionadas
com o município, deixando de acreditar no crescimento da economia, como está
previsto, ou esse é apenas um comportamento normal no meio empresarial?
Enquanto uns chegam, outros saem. Assim é a dinâmica da economia.
Cleber e Estela Bergo venderam o Supermercado
Duvalle. Os compradores são dois irmãos da cidade de Altamira, que há mais ou
menos um mês assumiram o controle da empresa. O prédio não foi negociado.
Cleber e família estão retornando para o estado de Mato Grosso.
Outra empresa que foi negociada foi a loja
Negão Auto Peças. O empresário Carlos Alberto, mais conhecido por Negão, está
mudando com a família para a cidade de Santarém.
Para alguns setores da economia do município
de Itaituba, 2014 não está sendo um bom ano. Mesmo antes da economia nacional
chegar ao ponto que chegou, antes mesmo do meio do ano, muitos comerciantes
reclamavam de retração nas vendas. Com a chegada do arrocho econômico no país,
a tendência é de que os problemas aumentem.
Foto: Jota Parente |
“O meu custo mensal da empresa fica em torno
de 15% a 20%, enquanto o faturamento caiu de 20% a 30%. Com o custo se mantendo
no mesmo nível e o faturamento caindo, não é preciso de muito esforço para se
concluir que estamos nos equilibrando na corda bamba neste ano de 2014.
Fica difícil manter os compromissos, como
pagamento em dia de funcionários e obrigações trabalhistas, loja aberta,
impostos que estão sempre aumentando, se o faturamento está caindo. Eu digo com
segurança, que este ano eu estou pagando para trabalhar.
O problema vai muito além de Itaituba.
Vendedores que negociam comigo me disseram no mês de outubro, que no Paraná e
no Rio grande do Sul, a indústria moveleira enfrenta séria crise, com
fechamento de algumas fábricas de médio e grande porte, desempregando bastante
gente. Tudo por causa da pesada carga tributária, aos desacertos do governo na
condução da economia, aliado à queda nas vendas”, disse João Lúcio.
O dono da Jolosan esteve mês passado em
Manaus, onde pôde observar que por lá a situação também está causando dores de
cabeça. Na área da antiga Zona Franca, no centro velho da capital amazonense,
mais de 20% dos pontos comerciais estão fechados. A City Lar, grande empresa de
eletroeletrônicos de Manaus fechou três das quatro lojas do centro comercial.
Foto: Jota Parente |
Patrick
(Ótica Tapajós)
– “No meu ponto de vista, o que está acontecendo é um descontentamento em nível
municipal, porque nós já temos o empresário Carlos Alberto(Negão Auto Peças),
que já vendeu sua loja e está indo embora, tem o caso do empresário Cleber
Bergo, que vendeu o Supermercado Duvalle e também está deixando Itaituba. Há
uma especulação de que o pessoal do Tradição pode seguir o mesmo caminho. Eu
tenho companheiros de Rotary que estão insatisfeitos, porque não estão vendo
perspectivas de crescimento em Itaituba.
Poucas vezes eu vi uma situação como essa.
Final de ano, quando é para todo mundo estar vendendo bem, mas, o que se vê em
Itaituba é o comércio reclamando de vendas em baixa. As pessoas reclamam que
faltam incentivos do governo do município para incrementar a economia. As
reclamações são direcionadas à administração municipal, que não possibilita que
se vislumbrem boas perspectivas para o futuro. Falta gestão ao governo”, disse
Patrick Sousa.
Foto: Jota Parente |
Davi
(Pontocom e presidente da CDL) – Davi Menezes vê isso tudo com
preocupação. “Eu não vejo isso com bons olhos. O processo de desenvolvimento
que estava para acontecer na nossa região não está acontecendo. Eu confirmo que
esses dois empresários citados (Cleber e Carlos Alberto) estão deixando
Itaituba.
Isso é muito preocupante, porque nossa
economia está desacelerada, há problema da falta de investimentos e de
planejamento para que as coisas possam acontecer para que as pessoas que vem
para cá encontrem um local em condições de montarem seus negócios, gerando
emprego, renda e fomentando a economia.
Observa-se que de uns dois anos para cá, a
gente não viu mais empresários de fora chegando aqui para instalar suas
empresas. Há uma certa especulação imobiliária. Simplesmente isso. Nosso
comércio e nossa economia se encontram em um momento de decadência. Não
conseguimos definir neste momento se isso se deve ao contexto nacional e também
o mundial, que se encontram em processo de desaceleração.
Esperamos que aconteça algo que possa mexer
com o ânimo de todos, como a volta de investimentos de empresários de fora que
venham investir na nossa região. E assim como vem acontecendo com outros
empresários, eu também posso afirmar que este ano estou pagando para trabalhar.
Se não houver uma ação conjunta, que envolva
os governos do município, do Estado e a União, com projetos concretos, com a
desburocratização que tanto se espera e que nunca chega, corremos o risco de
ficar no isolamento e sermos sempre colônia para exploração das nossas
riquezas.
Foi assim no tempo da
borracha, no ciclo do ouro, que ainda continua, da exploração da madeira, e
agora, os portos e as hidrelétricas, que estão utilizando e vão usar muito mais
os nossos recursos naturais, com a possibilidade de não ficar nada de positivo
para o município. Vejam os casos das hidrelétricas. O governo afirma que vai
construir de qualquer jeito, gostemos, ou não. Diz que as audiências públicas
serão meramente consultivas, sem poder de deliberação. Ameaça até mandar a
Força Nacional, como fez há pouco tempo, se houver muita resistência ao
projeto. É assim que somos tratados.
*Na edição 191 do
Jornal do Comércio, circulando.
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