Jota Parente - No dia 27 de novembro vai acontecer
na vila de São Luiz, um grande encontro religioso-político com o objetivo de
manifestar posição contrária à construção de usinas hidrelétricas no Rio
Tapajós. Estão sendo convidados, padres, lideranças de movimentos da Igreja
Católica, pastores de igrejas evangélicas, lideranças comunitárias, a imprensa
e quem mais desejar participar.
Tudo indica que o maior número de
participantes virá de Santarém, pois é lá que o evento está sendo montado.
Porém, deverão vir moradores de Belterra, Aveiro, Jacareacanga e, naturalmente,
também estarão em São Luiz representantes do município de Itaituba. Está
prevista a saída de ônibus, de Santarém, conduzindo as pessoas interessadas,
mas, alguns deverão vir de barco. O padre Edilberto Sena é um dos
organizadores, o qual já confirmou a vinda de um palestrante de São Paulo.
Em Itaituba, pouco se tem discutido
sobre o assunto. Alguma coisa que foi feita durante o curto período de vida do
movimento Somos Todos Tapajós foi com relação aos impactos e sobre as
contrapartidas, pois o entendimento que se tem por aqui, diferentemente do que
ocorre em Santarém, é de que não adianta lutar contra as obras das
hidrelétricas, pois elas vão sair de qualquer jeito por serem consideradas imperativas
para o desenvolvimento do País. Então, de um modo geral, compreende-se que
combater a construção é desperdício de tempo e de energia. Em vez disso, há
consenso na ideia de que o melhor que Itaituba tem a fazer é organizar-se para
conseguir o máximo que puder de contrapartidas. Mas, esse processo de
organização está demorando.
Dito isso, as questões que devem ser
colocadas são: tem algum sentido esse movimento contrário? Será que ele poderá
trazer problemas, em vez de soluções? Não seria melhor todos reunidos em torno
de um mesmo objetivo que seria em torno das compensações?
Faz todo sentido esse movimento do
dia 27 de novembro na vila de São Luiz, porque o governo não entende outra
linguagem que não seja a pressão popular. O exemplo mais claro disso está bem
ali em Altamira, que por mais de vinte anos lutou contra a construção da
hidrelétrica de Belo Monte, e mesmo assim a obra começou e não vai demorar
muito para estar pronta, deixando a cidade com um rastro problemas que a
prefeitura local não terá como resolver.
Para o pessoal do governo, incluindo
o Ibama e o Ministério de Minas e Energia, na região do Tapajós a natureza está
intacta, pois foi publicado um edital, no meio de setembro, marcando a
licitação da obra da hidrelétrica de São Luiz para o dia 15 de dezembro. Só não
vai acontecer devido à pressão pela não inclusão de condicionantes, o que é um
absurdo, conquanto para esse pessoal que manda no Brasil, aqui não vivem seres
humanos.
A melhor notícia que tivemos nos últimos
meses a respeito desse assunto é esse ato religioso-político do qual Itaituba
deve participar intensamente, uma vez que o tema está adormecido neste
município, à espera de que soluções milagrosas caiam do Céu. As diferenças
pessoais tem sido maior do que a capacidade das pessoas de discutir diferenças
de pontos de vista. Às vezes, as vaidades pessoais tem falado mais alto.
Que ninguém se iluda achando que o governo
federal vai chegar aqui perguntando o que é que o município de Itaituba deseja
receber como contrapartida, ou qualquer outro que venha a ser afetado por essas
obras. O governo não está em aí para nós! A sociedade é que precisa
organizar-se para se impor por todos os meios possíveis para não ficar apenas
com a conta das mazelas sociais para pagar.
Se não nos cuidarmos, Itaituba vai sofrer um desordenado
processo de crescimento, que muitos chamam de progresso, como em parte já está
acontecendo, com crescimento dos negócios, com inchaço populacional, porém, sem
o ingrediente do desenvolvimento, que só se materializa quando a população em
geral é beneficiada. Ou seja, vamos continuar tendo uma enorme concentração de
renda nas mãos dos que tem dinheiro, quando o ideal seria a distribuição desse
crescimento econômico através da geração de bons empregos para os itaitubenses.
O movimento do dia 27
de novembro significa uma grande oportunidade para as lideranças de Itaituba,
que de fato se preocupam com o que está prestes a acontecer com este município,
se situarem a respeito de como esta sociedade deve agir para reagir contra o
rolo compressor do governo federal, que tenta passar por cima da gente, sem dó,
nem piedade. Por tudo isso que foi dito, nossa participação nesse encontro será
muito importante.
Artigo publicado na edição 189 do Jornal do Comércio,
que está circulando desde o final da manhã de sábado, 1º de novembro
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