domingo, novembro 02, 2014

Itaituba não pode ficar de fora

            Jota Parente - No dia 27 de novembro vai acontecer na vila de São Luiz, um grande encontro religioso-político com o objetivo de manifestar posição contrária à construção de usinas hidrelétricas no Rio Tapajós. Estão sendo convidados, padres, lideranças de movimentos da Igreja Católica, pastores de igrejas evangélicas, lideranças comunitárias, a imprensa e quem mais desejar participar.
            Tudo indica que o maior número de participantes virá de Santarém, pois é lá que o evento está sendo montado. Porém, deverão vir moradores de Belterra, Aveiro, Jacareacanga e, naturalmente, também estarão em São Luiz representantes do município de Itaituba. Está prevista a saída de ônibus, de Santarém, conduzindo as pessoas interessadas, mas, alguns deverão vir de barco. O padre Edilberto Sena é um dos organizadores, o qual já confirmou a vinda de um palestrante de São Paulo.
            Em Itaituba, pouco se tem discutido sobre o assunto. Alguma coisa que foi feita durante o curto período de vida do movimento Somos Todos Tapajós foi com relação aos impactos e sobre as contrapartidas, pois o entendimento que se tem por aqui, diferentemente do que ocorre em Santarém, é de que não adianta lutar contra as obras das hidrelétricas, pois elas vão sair de qualquer jeito por serem consideradas imperativas para o desenvolvimento do País. Então, de um modo geral, compreende-se que combater a construção é desperdício de tempo e de energia. Em vez disso, há consenso na ideia de que o melhor que Itaituba tem a fazer é organizar-se para conseguir o máximo que puder de contrapartidas. Mas, esse processo de organização está demorando.
            Dito isso, as questões que devem ser colocadas são: tem algum sentido esse movimento contrário? Será que ele poderá trazer problemas, em vez de soluções? Não seria melhor todos reunidos em torno de um mesmo objetivo que seria em torno das compensações?
            Faz todo sentido esse movimento do dia 27 de novembro na vila de São Luiz, porque o governo não entende outra linguagem que não seja a pressão popular. O exemplo mais claro disso está bem ali em Altamira, que por mais de vinte anos lutou contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, e mesmo assim a obra começou e não vai demorar muito para estar pronta, deixando a cidade com um rastro problemas que a prefeitura local não terá como resolver.
            Para o pessoal do governo, incluindo o Ibama e o Ministério de Minas e Energia, na região do Tapajós a natureza está intacta, pois foi publicado um edital, no meio de setembro, marcando a licitação da obra da hidrelétrica de São Luiz para o dia 15 de dezembro. Só não vai acontecer devido à pressão pela não inclusão de condicionantes, o que é um absurdo, conquanto para esse pessoal que manda no Brasil, aqui não vivem seres humanos.
A melhor notícia que tivemos nos últimos meses a respeito desse assunto é esse ato religioso-político do qual Itaituba deve participar intensamente, uma vez que o tema está adormecido neste município, à espera de que soluções milagrosas caiam do Céu. As diferenças pessoais tem sido maior do que a capacidade das pessoas de discutir diferenças de pontos de vista. Às vezes, as vaidades pessoais tem falado mais alto.
Que ninguém se iluda achando que o governo federal vai chegar aqui perguntando o que é que o município de Itaituba deseja receber como contrapartida, ou qualquer outro que venha a ser afetado por essas obras. O governo não está em aí para nós! A sociedade é que precisa organizar-se para se impor por todos os meios possíveis para não ficar apenas com a conta das mazelas sociais para pagar.
Se não nos cuidarmos, Itaituba vai sofrer um desordenado processo de crescimento, que muitos chamam de progresso, como em parte já está acontecendo, com crescimento dos negócios, com inchaço populacional, porém, sem o ingrediente do desenvolvimento, que só se materializa quando a população em geral é beneficiada. Ou seja, vamos continuar tendo uma enorme concentração de renda nas mãos dos que tem dinheiro, quando o ideal seria a distribuição desse crescimento econômico através da geração de bons empregos para os itaitubenses.
O movimento do dia 27 de novembro significa uma grande oportunidade para as lideranças de Itaituba, que de fato se preocupam com o que está prestes a acontecer com este município, se situarem a respeito de como esta sociedade deve agir para reagir contra o rolo compressor do governo federal, que tenta passar por cima da gente, sem dó, nem piedade. Por tudo isso que foi dito, nossa participação nesse encontro será muito importante.


Artigo publicado na edição 189 do Jornal do Comércio, que está circulando desde o final da manhã de sábado, 1º de novembro

Nenhum comentário:

Postar um comentário