segunda-feira, setembro 22, 2014

Só 20% do lixo de Itaituba são reaproveitados

    Matéria de capa da edição 186 do Jornal do Comércio


         Enquanto o aterro controlado não for desativado, mais de duas dezenas de pessoas vão continuar tirando de lá o seu sustento diário. São pessoas que vivem, literalmente, no meio do lixo, do nascer ao por do Sol, catando o que é possível de materiais que podem render algum dinheiro. Já foram mais de sessenta. Muitas conseguiram alguma coisa melhor, outras se mudaram. Nem seria necessário falar sobre as condições precárias em que elas desempenham suas atividades de catadores. A água para beber ou fazer as coisas tem que ser buscada a quase um km de distância. Não há informações a respeito da qualidade da mesma, mas, a possibilidade do igarapé que fica a uma distância de 700 metros já ter sido contaminado não deve ser descartada.
            O aterro controlado é um meio termo entre o lixão e o aterro sanitário, que será a solução final, a qual ainda deve demorar cerca de dois anos para ficar pronto, se não houver atraso. O lixo é despejado pelos carros de coleta e empurrado em seguida para uma vala especialmente cavada para esse fim. Os catadores trabalham para tirar o máximo que podem, mas, não dão conta, porque são várias carradas todos os dias. Retiram apenas uma pequena parte, que não excede a 20%.
            O lixo doméstico ou comercial que é coletado na cidade de Itaituba, não passa por nenhum tipo de seleção que deveria ser feita por quem produz seus resíduos. Caso isso ocorresse, haveria um aproveitamento de uma quantidade muito maior de materiais que deixariam de ser enterrados, o que geraria uma renda bem maior para os catadores, assim como possibilitaria que um número maior deles pudesse ganhar a vida com esse trabalho duro.
            A reportagem do Jornal do Comércio foi ao aterro sanitário que fica na estrada do Degredo, especialmente para constatar o que está acontecendo nesse processo de destinação do lixo coletado em Itaituba. O que se viu foi o esforço das vinte e seis pessoas que sobrevivem daquele trabalho. Homens e mulheres atravessam semanas catando garrafas pet, latinhas de alumínio, derivados de ferro, cobre, alguns tipos de plásticos, vidros, papelão e até sacos são reciclados.
            Alguns catadores tomam certos cuidados, mas, ainda estão longe do ideal de proteção para um ser humano que trabalha em um meio onde proliferam urubus, ratos e todo tipo de inseto. O máximo que se vê é gente usando camisas de mangas compridas, botinas, luvas e chapéu. Nem todos tem esse cuidado. Mas, tanto os garis que recolhem o lixo, quanto os catadores, deveriam obrigatoriamente usar máscaras, um utensílio barato, que pode evitar que muitas doenças sejam contraídas. A SEMINFRA e a SEMSA deveria cuidar disso.
            Desde 2011, não muito tempo depois que o aterro controlado começou a funcionar, o cidadão que é conhecido como Ceará começou a trabalhar no local, como catador. Ele disse que estava blefado, e quando viu que dava para faturar entre R$ 800,00 e R$ 900,00 por quinzena, gostou e ficou. Pouco tempo após sua chegada foi convidado para trabalhar como servidor municipal, lá mesmo. Durante um ano e sete meses do governo do ex-prefeito Valmir Climaco e agora no governo da prefeita Eliene Nunes ele tem atuado como fiscal do aterro controlado e é o responsável por receber os caminhões papa lixo e caçambas.
            Ceará veio de Marabá, onde viveu por oito anos. As coisas não deram mais certo por lá e por isso ele se mandou para Itaituba. Chegando aqui, sem querer ir para a região de garimpo, ficou procurando alguma atividade que lhe rendesse o suficiente para sobreviver. Foi quando apareceu a possibilidade de começar uma nova experiência, agora como catador de lixo. Ele diz que fez a coisa certa, pois está satisfeito com o trabalho que faz.
            Não existe uma associação formalizada dos catadores do aterro controlado, porque alguns deles ainda não despertaram para a importância disso. Principalmente quando o aterro sanitário entrar em operação. Mesmo assim, Ceará funciona como uma liderança entre esses catadores, sendo que ele e mais dois moram naquele local. No seu caso, ele fica direto à disposição, porque pode chegar carro de lixo a qualquer hora. No inverno o trabalho fica ainda mais pesado, porque acontece de carros pesados atolarem e é ele mesmo quem opera o trator nessas horas para desatolar.
             O faturamento mensal depende da disposição de cada um. No seu caso, mesmo tendo que dividir o tempo entre o trabalho como responsável por receber os caminhões de lixo e de fiscal do local, ele ainda consegue uma renda extra que supera seu salário como servidor. Outros catadores que se dedicam somente a esse serviço, do nascer ao por do Sol faturam mais do que ele nessa atividade de separar os diversos tipos de materiais.
            É impressionante o volume de materiais que rendem dinheiro, mas, que vão para baixo da terra, porque os catadores não dão conta de separar mais do que 20% de tudo que é transportado para o aterro controlado. Por mês, somente de garrafas pet, são recolhidas cerca de seis toneladas. Isso quer dizer que pelo menos 24 toneladas somente desse tipo de material, sem contar os outros mais diversos materiais, vão para baixo da terra prejudicar o meio ambiente, pois todos eles, em maior ou menor grau, afetam a natureza.
            Aqui cabe uma reflexão a respeito do mal que cada pessoa causa ao meio ambiente quando manda para o lixo o que pode e deve ser reciclado. Uma garrafa pet pode passar até 100 anos para se decompor, de acordo com pesquisa da Unifesp. Se for reciclada pode se transformar em material para fazer peças de jeans, camisas, vassouras, almofadas e outros produtos.
            Peças de aço que muita gente joga no lixo podem precisam de cerca de um século para se decomporem. A situação do alumínio é muito pior, porque pode demorar entre 200 e 500 anos no processo de decomposição. No caso do vidro, a ciência ainda nem descobriu quanto tempo ele leva para desaparecer, sendo classificado na tabela de decomposição de matérias, com tempo indeterminado. Um simples copo de plástico que se jogam aos milhares por todos os cantos demora em torno de 50 anos para ser totalmente decomposto pelo meio ambiente.
            Quem tiver oportunidade de ler esta matéria deve por a mão na consciência na hora de arrumar o lixo para ser coletado. Cada um tem a obrigação de refletir sobre sua responsabilidade para com o meio ambiente, pois, se os problemas que existem no momento, não lhe afligem, certamente irão causar dificuldades para seus filhos, netos, etc..., afetando a qualidade de vida deles. Trata-se de um problema de todos. Os catadores tentam tirar o que podem. Mas, da maneira como o lixo vai, pois chega ao aterro totalmente misturado, não dá para fazer muito. Vai tudo quanto é porcaria junto.
            Proibido para crianças – Ceará disse para a reportagem, que nenhuma criança trabalha, atualmente, na coleta de lixo. No local só ficam pessoas adultas. Isso fez com que o numero de catadores tenha diminuído e se mantenha em pouco mais de vinte pessoas, pois vez por outra aparece gente da cidade querendo trabalhar, mas, não fica muito tempo.

A primeira informação passada para quem busca esse tipo de ocupação é a proibição da utilização de crianças como mão de obra, ou mesmo, a simples permanência no local. Muitos começam, e nos primeiros dias só vão os adultos. Porém, alguns dias depois aparecem os filhos. Aí é hora de botar ordem para que as crianças sejam retiradas. O Conselho Tutelar aparece de vez em quando para ver se há menores trabalhando ou circulando no local, mas, faz tempo que não encontra nada, garante Ceará.

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