Matéria de capa da edição 186 do Jornal do Comércio

Enquanto o aterro controlado não for desativado, mais de duas dezenas de pessoas vão continuar tirando de lá o seu sustento diário. São pessoas que vivem, literalmente, no meio do lixo, do nascer ao por do Sol, catando o que é possível de materiais que podem render algum dinheiro. Já foram mais de sessenta. Muitas conseguiram alguma coisa melhor, outras se mudaram. Nem seria necessário falar sobre as condições precárias em que elas desempenham suas atividades de catadores. A água para beber ou fazer as coisas tem que ser buscada a quase um km de distância. Não há informações a respeito da qualidade da mesma, mas, a possibilidade do igarapé que fica a uma distância de 700 metros já ter sido contaminado não deve ser descartada.
O aterro controlado é um meio termo
entre o lixão e o aterro sanitário, que será a solução final, a qual ainda deve
demorar cerca de dois anos para ficar pronto, se não houver atraso. O lixo é
despejado pelos carros de coleta e empurrado em seguida para uma vala
especialmente cavada para esse fim. Os catadores trabalham para tirar o máximo
que podem, mas, não dão conta, porque são várias carradas todos os dias.
Retiram apenas uma pequena parte, que não excede a 20%.
O lixo doméstico ou comercial que é
coletado na cidade de Itaituba, não passa por nenhum tipo de seleção que
deveria ser feita por quem produz seus resíduos. Caso isso ocorresse, haveria
um aproveitamento de uma quantidade muito maior de materiais que deixariam de
ser enterrados, o que geraria uma renda bem maior para os catadores, assim como
possibilitaria que um número maior deles pudesse ganhar a vida com esse
trabalho duro.
A reportagem do Jornal do Comércio
foi ao aterro sanitário que fica na estrada do Degredo, especialmente para
constatar o que está acontecendo nesse processo de destinação do lixo coletado
em Itaituba. O que se viu foi o esforço das vinte e seis pessoas que sobrevivem
daquele trabalho. Homens e mulheres atravessam semanas catando garrafas pet,
latinhas de alumínio, derivados de ferro, cobre, alguns tipos de plásticos, vidros,
papelão e até sacos são reciclados.
Alguns catadores tomam certos
cuidados, mas, ainda estão longe do ideal de proteção para um ser humano que
trabalha em um meio onde proliferam urubus, ratos e todo tipo de inseto. O
máximo que se vê é gente usando camisas de mangas compridas, botinas, luvas e
chapéu. Nem todos tem esse cuidado. Mas, tanto os garis que recolhem o lixo,
quanto os catadores, deveriam obrigatoriamente usar máscaras, um utensílio
barato, que pode evitar que muitas doenças sejam contraídas. A SEMINFRA e a
SEMSA deveria cuidar disso.
Desde 2011, não muito tempo depois
que o aterro controlado começou a funcionar, o cidadão que é conhecido como
Ceará começou a trabalhar no local, como catador. Ele disse que estava blefado,
e quando viu que dava para faturar entre R$ 800,00 e R$ 900,00 por quinzena, gostou
e ficou. Pouco tempo após sua chegada foi convidado para trabalhar como
servidor municipal, lá mesmo. Durante um ano e sete meses do governo do
ex-prefeito Valmir Climaco e agora no governo da prefeita Eliene Nunes ele tem
atuado como fiscal do aterro controlado e é o responsável por receber os
caminhões papa lixo e caçambas.
Ceará veio de Marabá, onde viveu por
oito anos. As coisas não deram mais certo por lá e por isso ele se mandou para
Itaituba. Chegando aqui, sem querer ir para a região de garimpo, ficou
procurando alguma atividade que lhe rendesse o suficiente para sobreviver. Foi
quando apareceu a possibilidade de começar uma nova experiência, agora como
catador de lixo. Ele diz que fez a coisa certa, pois está satisfeito com o
trabalho que faz.
Não existe uma associação
formalizada dos catadores do aterro controlado, porque alguns deles ainda não
despertaram para a importância disso. Principalmente quando o aterro sanitário
entrar em operação. Mesmo assim, Ceará funciona como uma liderança entre esses
catadores, sendo que ele e mais dois moram naquele local. No seu caso, ele fica
direto à disposição, porque pode chegar carro de lixo a qualquer hora. No
inverno o trabalho fica ainda mais pesado, porque acontece de carros pesados
atolarem e é ele mesmo quem opera o trator nessas horas para desatolar.
O faturamento mensal depende da disposição de
cada um. No seu caso, mesmo tendo que dividir o tempo entre o trabalho como
responsável por receber os caminhões de lixo e de fiscal do local, ele ainda
consegue uma renda extra que supera seu salário como servidor. Outros catadores
que se dedicam somente a esse serviço, do nascer ao por do Sol faturam mais do
que ele nessa atividade de separar os diversos tipos de materiais.
É impressionante o volume de
materiais que rendem dinheiro, mas, que vão para baixo da terra, porque os
catadores não dão conta de separar mais do que 20% de tudo que é transportado
para o aterro controlado. Por mês, somente de garrafas pet, são recolhidas
cerca de seis toneladas. Isso quer dizer que pelo menos 24 toneladas somente
desse tipo de material, sem contar os outros mais diversos materiais, vão para
baixo da terra prejudicar o meio ambiente, pois todos eles, em maior ou menor
grau, afetam a natureza.
Aqui cabe uma reflexão a respeito do
mal que cada pessoa causa ao meio ambiente quando manda para o lixo o que pode
e deve ser reciclado. Uma garrafa pet pode passar até 100 anos para se
decompor, de acordo com pesquisa da Unifesp. Se for reciclada pode se
transformar em material para fazer peças de jeans, camisas, vassouras,
almofadas e outros produtos.
Peças de aço que muita gente joga no
lixo podem precisam de cerca de um século para se decomporem. A situação do
alumínio é muito pior, porque pode demorar entre 200 e 500 anos no processo de
decomposição. No caso do vidro, a ciência ainda nem descobriu quanto tempo ele
leva para desaparecer, sendo classificado na tabela de decomposição de matérias,
com tempo indeterminado. Um simples copo de plástico que se jogam aos milhares
por todos os cantos demora em torno de 50 anos para ser totalmente decomposto
pelo meio ambiente.
Quem tiver oportunidade de ler esta
matéria deve por a mão na consciência na hora de arrumar o lixo para ser
coletado. Cada um tem a obrigação de refletir sobre sua responsabilidade para
com o meio ambiente, pois, se os problemas que existem no momento, não lhe
afligem, certamente irão causar dificuldades para seus filhos, netos, etc...,
afetando a qualidade de vida deles. Trata-se de um problema de todos. Os
catadores tentam tirar o que podem. Mas, da maneira como o lixo vai, pois chega
ao aterro totalmente misturado, não dá para fazer muito. Vai tudo quanto é
porcaria junto.
Proibido
para crianças – Ceará disse para a reportagem, que nenhuma criança
trabalha, atualmente, na coleta de lixo. No local só ficam pessoas adultas.
Isso fez com que o numero de catadores tenha diminuído e se mantenha em pouco
mais de vinte pessoas, pois vez por outra aparece gente da cidade querendo
trabalhar, mas, não fica muito tempo.
A primeira informação passada para quem busca
esse tipo de ocupação é a proibição da utilização de crianças como mão de obra,
ou mesmo, a simples permanência no local. Muitos começam, e nos primeiros dias
só vão os adultos. Porém, alguns dias depois aparecem os filhos. Aí é hora de
botar ordem para que as crianças sejam retiradas. O Conselho Tutelar aparece de
vez em quando para ver se há menores trabalhando ou circulando no local, mas,
faz tempo que não encontra nada, garante Ceará.
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