Jota Parente - Os atores entraram em cena, mas, a
peça não tem a menor graça. Muitos são canastrões, velhos conhecidos da plateia,
vezeiros em fazerem mágica com o dinheiro alheio, com o nosso dinheiro.
Diferente dos mágicos comuns, um grande número desses políticos só sabe fazer
os recursos do erário público desaparecer. Quando muito, nós, expectadores, que
pagamos caro para eles atuarem, temos notícia de que foi tudo parar nas contas
deles, num final que poucas vezes merece aplausos. Mas, as vaias parece não
incomodar essa gente.
A atual campanha eleitoral, que tem
eleição de deputado estadual a presidente da República, transcorrida quase dois
terços, não conseguiu empolgar o eleitor brasileiro. Provavelmente, isso se
deva a alguns fatores, como a falta de candidatos que entusiasmem e pela
decepção constante e quem sabe crônica pelo modo como se desenvolve a atividade
política em nosso País.
Não me compreendam mal os leitores;
não se trata de saudosismo, ou de achar que o que vou relatar deveria continuar
acontecendo nos dias de hoje, pois sei que a vida é dinâmica e precisamos viver
o nosso tempo presente. O objetivo é só lembrar que não faz tanto tempo assim,
a paixão pela política no Brasil se assemelhava muito à dos torcedores de
futebol. Quem era de um lado, ia até o fim. Quem votava no PSD (o do Juscelino Kubistchek),
dificilmente mudava seu voto. A mesma coisa acontecia com quem era da UDN. O
PTB era a terceira força. Em alguns momentos chegou a ser a primeira, como no
tempo do grande estadista Getúlio Vargas. Mas, quando a disputa se concentrava
entre as duas maiores forças, e quando ela estava equilibrada, se o PTB
pendesse para um dos lados, esse tinha tudo para ganhar a eleição.
Meu avô materno, Vicente Freire
Parente, era pessedista roxo. Sendo simpatizante do PSD, era mais do que lógico
que também fosse baratista de quatro costados (aficionado do grande líder
político do Pará nos anos 1950, General Joaquim Cardoso de Magalhães Barata).
Mas, ele não se limitava a ser um simples eleitor do partido. Era, também, um
militante apaixonado pela política e pelo PSD. Tanto era assim, que em sua
casa, onde eu estive sempre presente desde muito pequeno, nos dias da eleição
era servido churrasco para os eleitores, que lá se concentravam para irem para
o local de votação devidamente instruídos.
Seu Vicente Freire Parente, que não
sei por que cargas d’água era conhecido como Seu Praxedes, a vida toda, fez eu
me interessar pela política desde muito jovem. Com ele tive incontáveis prosas
a respeito dos acontecimentos políticos, mesmo quando eu já era bem grande. E
foi por causa desse envolvimento dele que eu passei a gostar dessa coisa que
tinha tudo para continuar sendo apaixonante, não tivesse a política sido tão
vilipendiada, tão aviltada quanto foi ao longo das últimas décadas. Ele nunca
recebeu um centavo para fazer aquilo; nunca pediu emprego político para
ninguém; fazia tudo por pura paixão e por acreditar que seu partido era o que
melhor sabia conduzir os destinos do seu Município, do seu Estado ou do seu
País.
O tempo não retroage, mas, a
história precisa ser contada. Todavia, voltemos aos dias de hoje, dias de
apatia da maioria dos cidadãos brasileiros em relação à política. São tempos em
que o vigor da disputa deu lugar à indiferença. Até mesmo partidos como o PT, outrora,
de militância muito aguerrida, virou uma agremiação partidária pragmática,
depois que chegou ao poder central, em Brasília, há mais de onze anos. Chegamos
quase a uma situação do tanto faz ganhar José ou João, pois na maioria das
vezes o resultado tem sido trocar seis por meia dúzia.
Se os candidatos em geral não me
empolgam, preocupa-me a perpetuação de um partido no poder, em qualquer nível.
A alternância é salutar para a democracia, embora nem sempre dê bons
resultados, como aconteceu no Pará. Depois de doze anos consecutivos de
governos do PSDB, com Almir e Jatene, o PT assumiu com Ana Júlia, e todos
lembram bem o desastre que foi o governo dela. Mesmo assim, alternar partidos e
ideologias no poder faz bem para a saúde da democracia. Em Brasília, o PT vai
completar doze anos ocupando a cadeira da presidência da República, com o risco
de elevar esse tempo para vinte e quatro anos, caso Dilma Rousseff se reeleja e
Lula ganhe em 2018. Mas, o problema é que as opções apresentadas não
conseguiram empolgar a maioria dos eleitores, até agora.
Um dos poucos candidatos que eu já
tinha definido meu voto era para presidente da República. Ele era Eduardo
Campos. Todavia, quis o destino nos pregar essa peça, privando-nos de um homem
público digno, que não tinha a menor chance nesta eleição, mas, que tinha
chance de vir a ser presidente no futuro. Agora, vou ter que pensar. Como já
escrevi antes, para deputado estadual e para deputado federal voto em
candidatos daqui, ou no máximo, que sejam desta região. Para governador, não
tenho, nem terei candidato. Enfim, essa eleição sem graça, ficou ainda mais
insossa depois que o avião de Eduardo Campos caiu, ceifando sua vida e tirando
de muitos brasileiros a oportunidade de votar em um homem público de vergonha,
governante competente, com toda pinta de um futuro grande estadista.Artigo publicado na edição 185 do Jornal do Comércio, circulando
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