segunda-feira, setembro 01, 2014

Que eleição mais sem graça

            Jota Parente - Os atores entraram em cena, mas, a peça não tem a menor graça. Muitos são canastrões, velhos conhecidos da plateia, vezeiros em fazerem mágica com o dinheiro alheio, com o nosso dinheiro. Diferente dos mágicos comuns, um grande número desses políticos só sabe fazer os recursos do erário público desaparecer. Quando muito, nós, expectadores, que pagamos caro para eles atuarem, temos notícia de que foi tudo parar nas contas deles, num final que poucas vezes merece aplausos. Mas, as vaias parece não incomodar essa gente.
            A atual campanha eleitoral, que tem eleição de deputado estadual a presidente da República, transcorrida quase dois terços, não conseguiu empolgar o eleitor brasileiro. Provavelmente, isso se deva a alguns fatores, como a falta de candidatos que entusiasmem e pela decepção constante e quem sabe crônica pelo modo como se desenvolve a atividade política em nosso País.
            Não me compreendam mal os leitores; não se trata de saudosismo, ou de achar que o que vou relatar deveria continuar acontecendo nos dias de hoje, pois sei que a vida é dinâmica e precisamos viver o nosso tempo presente. O objetivo é só lembrar que não faz tanto tempo assim, a paixão pela política no Brasil se assemelhava muito à dos torcedores de futebol. Quem era de um lado, ia até o fim. Quem votava no PSD (o do Juscelino Kubistchek), dificilmente mudava seu voto. A mesma coisa acontecia com quem era da UDN. O PTB era a terceira força. Em alguns momentos chegou a ser a primeira, como no tempo do grande estadista Getúlio Vargas. Mas, quando a disputa se concentrava entre as duas maiores forças, e quando ela estava equilibrada, se o PTB pendesse para um dos lados, esse tinha tudo para ganhar a eleição.
            Meu avô materno, Vicente Freire Parente, era pessedista roxo. Sendo simpatizante do PSD, era mais do que lógico que também fosse baratista de quatro costados (aficionado do grande líder político do Pará nos anos 1950, General Joaquim Cardoso de Magalhães Barata). Mas, ele não se limitava a ser um simples eleitor do partido. Era, também, um militante apaixonado pela política e pelo PSD. Tanto era assim, que em sua casa, onde eu estive sempre presente desde muito pequeno, nos dias da eleição era servido churrasco para os eleitores, que lá se concentravam para irem para o local de votação devidamente instruídos.
            Seu Vicente Freire Parente, que não sei por que cargas d’água era conhecido como Seu Praxedes, a vida toda, fez eu me interessar pela política desde muito jovem. Com ele tive incontáveis prosas a respeito dos acontecimentos políticos, mesmo quando eu já era bem grande. E foi por causa desse envolvimento dele que eu passei a gostar dessa coisa que tinha tudo para continuar sendo apaixonante, não tivesse a política sido tão vilipendiada, tão aviltada quanto foi ao longo das últimas décadas. Ele nunca recebeu um centavo para fazer aquilo; nunca pediu emprego político para ninguém; fazia tudo por pura paixão e por acreditar que seu partido era o que melhor sabia conduzir os destinos do seu Município, do seu Estado ou do seu País.
            O tempo não retroage, mas, a história precisa ser contada. Todavia, voltemos aos dias de hoje, dias de apatia da maioria dos cidadãos brasileiros em relação à política. São tempos em que o vigor da disputa deu lugar à indiferença. Até mesmo partidos como o PT, outrora, de militância muito aguerrida, virou uma agremiação partidária pragmática, depois que chegou ao poder central, em Brasília, há mais de onze anos. Chegamos quase a uma situação do tanto faz ganhar José ou João, pois na maioria das vezes o resultado tem sido trocar seis por meia dúzia.
            Se os candidatos em geral não me empolgam, preocupa-me a perpetuação de um partido no poder, em qualquer nível. A alternância é salutar para a democracia, embora nem sempre dê bons resultados, como aconteceu no Pará. Depois de doze anos consecutivos de governos do PSDB, com Almir e Jatene, o PT assumiu com Ana Júlia, e todos lembram bem o desastre que foi o governo dela. Mesmo assim, alternar partidos e ideologias no poder faz bem para a saúde da democracia. Em Brasília, o PT vai completar doze anos ocupando a cadeira da presidência da República, com o risco de elevar esse tempo para vinte e quatro anos, caso Dilma Rousseff se reeleja e Lula ganhe em 2018. Mas, o problema é que as opções apresentadas não conseguiram empolgar a maioria dos eleitores, até agora.
            Um dos poucos candidatos que eu já tinha definido meu voto era para presidente da República. Ele era Eduardo Campos. Todavia, quis o destino nos pregar essa peça, privando-nos de um homem público digno, que não tinha a menor chance nesta eleição, mas, que tinha chance de vir a ser presidente no futuro. Agora, vou ter que pensar. Como já escrevi antes, para deputado estadual e para deputado federal voto em candidatos daqui, ou no máximo, que sejam desta região. Para governador, não tenho, nem terei candidato. Enfim, essa eleição sem graça, ficou ainda mais insossa depois que o avião de Eduardo Campos caiu, ceifando sua vida e tirando de muitos brasileiros a oportunidade de votar em um homem público de vergonha, governante competente, com toda pinta de um futuro grande estadista.

Artigo publicado na edição 185 do Jornal do Comércio, circulando

Nenhum comentário:

Postar um comentário