domingo, agosto 24, 2014

Cuidado com o Chicungunha!

Chicungunha é risco maior que ebola no Brasil (Foto: Ricardo Amanajás)
Com a suspensão da maioria dos voos internacionais vindos do continente africano e o alerta em execução nos portos e aeroportos brasileiros, é mínimo o risco da chegada do vírus ebola ao Brasil, afirma o Ministério da Saúde. Mesmo assim, o Instituto Evandro Chagas, referência em investigações e pesquisas em medicina tropical e no diagnóstico de doenças infectocontagiosas na região Norte, está incumbido pelo MS de analisar toda e qualquer suspeita da doença no país. Ao mesmo tempo, outro vírus preocupa tanto o Ministério quanto o IEC: o Chicungunha, que provoca uma doença semelhante à dengue, só que com o agravante de deixar sequelas físicas, e que pode estar na iminência de chegar por aqui, visto que já alcançou as três Guianas e a vizinha Venezuela.
O chefe da seção de arbovirologia do IEC, Pedro Fernando Vasconcelos, esteve em Brasília na última semana participando de reunião do MS e Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) para o estabelecimento de diretrizes do alerta dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação ao Ebola. Os casos registrados em áreas urbanas acenderam a luz vermelha dos órgãos brasileiros. “Discutimos o ebola, que tem riscos mínimos de nos atingir, e também outros vírus com risco potencial de entrar no país, como o Chicungunha, que, se não entrar ainda esse ano, tem grande risco de entrar no ano que vem”, confirmou Vasconcelos. Confira a entrevista:

P: Existe risco de o vírus ebola chegar ao Brasil?
R: Sim. Há um alerta do Ministério da Saúde como um todo. Estive com a direção do IEC em Brasília para discutir todos os protocolos que seriam utilizados, não só para o diagnóstico do ebola, mas também de outros vírus que têm risco potencial de entrar no Brasil, como é o caso do Chicungunha, uma doença muito semelhante à dengue e que deve mesmo entrar no país em algum tempo pelo fato de ser transmitido também pelo mosquito Aedes aegypti. Mas trata-se de uma doença um pouco pior, especialmente no que diz respeito às dores articulares. Há pacientes que ficam anos em processos reumatológicos, de artrite reumatoide, com articulações permanentemente danificadas e até mesmo com as mãos deformadas. O Chicungunha começou na África, se espalhou pelo Velho Mundo, tanto na Ásia quanto na Europa, onde agora ocorre um surto na França, depois de se enfrentar um na Itália. Chegou ao Caribe em novembro passado e se disseminou. Aqui na América do Sul já é intensa a transmissão na Venezuela, nossa vizinha, e nas três Guianas, e o risco de transmissão é alto porque o Aedes está em todos os estados brasileiros.

P: O Chicungunha então chega este ano por aqui?
R: Nós não temos bola de cristal, mas acredito que, se não entrar ainda esse ano, talvez entre no próximo. Temos diagnosticado casos importados, mas muito provavelmente para o ano que vem o risco é muito grande. Voltando ao ebola, na reunião o MS e a Secretaria de Vigilância e Saúde estabeleceram os protocolos de como devem ser colhidas as amostras de sangue, como seriam encaminhadas e prazos para diagnóstico, como seriam referenciados os casos suspeitos para os hospitais de referência…
P: Então a real preocupação do IEC agora é mais com o Chicungunha?
R: Acho que o MS tem essa mesma preocupação. Com o ebola o risco é mínimo que seja, mas temos outros riscos de outros vírus, como o Chicungunha, que está na iminência de ser introduzido por aqui e que, quando entrar, será difícil de ser contido, sendo o Aedes o transmissor. Mesmo com vigilância atuando, notificando governos quando casos suspeitos são registrados, com a coordenação nacional da SVS realizando bloqueios. O problema é que pode haver casos não reconhecidos, facilmente confundidos com a dengue. E o Chicungunha pode ser letal como a dengue. Tive um informe no último dia 15, pela Organização Pan-Americana de Saúde, que os EUA já tinha 585 mil casos autóctones, além do Caribe, América Central, e nos países da América do Sul que eu já citei, com ocorrência de 37 óbitos. Mas a letalidade, embora seja pequena, exige atenção quando se observa o universo de suscetíveis que temos no continente. Mais de 500 milhões de pessoas, ou mais, por exemplo. Já tem autóctone na Florida. Só no Brasil são 200 milhões, mais Caribe, América Latina são 700, 800 milhões de pessoas suscetíveis, porque é vírus exótico, que não ocorria antes nas Américas e agora está ocorrendo e tem transmissão facilitada pelos vetores, que estão nas áreas metropolitanas, urbanas e rurais, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus.

P: Como o Brasil está preparado para esse tipo de endemia? Na hora que o Chicungunha chegar, como o nosso hospital de referência estadual está preparado para lidar? Tem como dar conta?
R: O IEC também é laboratório de referência nacional do Chicungunha. Nós já treinamos sete laboratórios de outros estados para a ocorrência do vírus, suprimos reativos para esses laboratórios, porque nós produzimos antígenos contra esse vírus. Recebemos no acordo entre o governo brasileiro e dos EUA, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta, o vírus para produzir reativo e distribuí-lo dentro do país. (DOL)

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