Jota Parente - A 20ª Copa do Mundo, que está sendo realizada no Brasil,
tem provocado muitas discussões de todos os tipos e de diversos níveis, dos
mais civilizados, aos mais irracionais. Foi cercada de muitas expectativas
negativas por causa do atraso nas obras e de muitas críticas por boa parte da
população brasileira em virtude dos elevados gastos para a construção de
estádios superfaturados.

Certamente, Manaus é uma das capitais
estaduais onde mais seria necessário investir em mobilidade urbana, pois a
ligação entre as zonas norte e sul da cidade é muito complicada porque é muito
pequeno o número de vias que a cortam. Da mesma forma, ir da zona leste para a
zona oeste é muito difícil, mesmo para quem mora lá. Quem não mora, mesmo com
auxilia de um GPS tem muitas dificuldades. Mas, na capital amazonense, que
conheço muito bem, construíram apenas a Arena da Amazônia.
O prometido BRT (Bus Rapid Transit), um
sistema muito rápido de trânsito com utilização de ônibus, criado pelo
arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, que ganhou fama até nos
Estados Unidos e na Europa, ficou de ser implantado em várias capitais como uma
contrapartida do governo para a população das cidades sedes. Mas, na maioria
dos casos ficou na promessa. Inclusive em Manaus.
Na edição 181 do Jornal do Comércio, circulando
Na edição 181 do Jornal do Comércio, circulando
Mas, a Copa do Mundo começou, já completou duas
semana e agora o melhor que a gente tem a fazer é curtir os jogos pela
televisão, como um dos maiores espetáculos da Terra, sem muito ufanismo, sem
esquecer que se trata de um grande negócio de bilhões de dólares, cujos maiores
lucros irão para os cofres da FIFA, todavia, sem esse complexo de cachorro
vira-latas que acomete tantos brasileiros.
Desde abril de 2008 circula um texto na
internet, o qual é atribuído a uma escritora holandesa que existe na vida real,
mas sem prova alguma de sua autoria. Aliefka
Bijlsma, a escritora de verdade, veio ao Brasil em 2008 para lançar seu segundo
livro, “Mede namens mijn
vrouw”, tendo ficado
encantada com o país, como disse mais tarde em uma entrevista a uma revista
alemã. Na conversa com a reportagem, ela ressaltou muitas das coisas boas das
quais gostou na Terra Brasilis, mas, também falou a respeitos de vários dos
nossos problemas, como seria de esperar de alguém com espírito crítico e que
diz o que pensa com coerência.
Tem muita coisa interessante
no texto apócrifo cujo autor deve ser algum brasileiro travestido de patriota,
que no entanto, colocou muitas comparações que nada tem de verdadeiras. Mas, se
tem algo que não se pode negar é quando ele diz que os brasileiros acham que o mundo
todo presta, menos o Brasil; realmente, parece que é um vício falar mal do
Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles
maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam os negativos. Esse
é o tal do complexo de vira-latas que nos persegue, inclusive agora, nos
momentos de preparação e de execução do evento Copa do Mundo de Futebol.
Nós estamos jogando fora a
maior oportunidade que o nosso País já teve de mostrar para o mundo tudo do que
somos capazes, quem somos de verdade e nossa capacidade de superar dificuldades.
Vai demorar muitas décadas para surgir outra oportunidade igual a esta, porque
a Copa do Mundo mexe com o Brasil de ponta a ponta e é mostrada para o mundo
inteiro. Daqui a dois anos vamos ter as Olimpíadas, mas, o evento acontecerá,
exclusivamente na cidade do Rio de Janeiro.
Na Copa das Confederações,
houve momentos em que o mundo prestou mais atenção aos atos que misturaram
protestos com banditismo, do que nos jogos. Na Copa do Mundo as atenções são
maiores para os jogos, mas, isso não impede que sejam vistas imagens negativas
de protestos e novamente de vandalismo. A polícia tem sido mais enérgica e tem
baixado o cacete nos radicais, como é feito em qualquer país. Protestar é um
direito do cidadão de bem; destruir patrimônio, público ou privado é coisa de
bandido, de malfeitor, de vândalo. Como disse o Ronaldo Fenômeno, nesse pessoal
que quer quebrar tudo a política tem que baixar o porrete.
Façamos uma analogia entre o
Brasil e a família da gente. Toda família tem os seus problemas internos, que
devem ser discutidos no seio familiar. Se alguém de fora vem se intrometer a
gente pula e diz: Espera aí! Isso é assunto nosso, não se meta! Da mesma forma
deveríamos agira quando mexem com nosso País. Mas, nosso complexo de vira-latas
nos impede de agir dessa maneira.
Três dias após a estreia do
Brasil contra a Croácia, o mais respeitado jornal do mundo, o The New York
Times publicou matéria, sem inferências, retoques e
muito menos truques; o jornal mais influente do planeta mostra a importância decisiva
do futebol, da Seleção e da Copa do Mundo no Brasil como fatores de união
nacional; explosão de alegria a cada gol da equipe na abertura do Mundial é
mostrada de ponta a ponta do País, em diferentes estratos da sociedade; câmeras
foram instaladas pelo NYT do Oiapoque a Porto Alegre; vídeo de repercussão
global mostra o que a mídia tradicional brasileira (Globo, Folha, Veja, Estadão
etc...) não quis ver: povo de braços abertos festeja a copa das copas.
Considerado o
jornal mais influente do mundo há muitos anos, o The New York Times acaba de
dar uma lição de como fazer mídia. Sem retoques, artifícios e, muitos menos,
truques, o setor eletrônico da publicação instalou câmeras automáticas para
documentar a reação de brasileiros comuns, de ponta a ponta do País, durante a
partida de abertura da Copa do Mundo, entre Brasil e Croácia. O que se vê nas
imagens da explosão de alegria a cada gol da Seleção Brasileira é uma festa
real e autêntica, que ressalta a importância do futebol, da equipe nacional e
da Copa do Mundo no Brasil como fatores imprescindíveis para a unidade de um
país de território continental.
O vídeo do NYT que
pode ser acessado na internet mostra cenas das reações aos gols entre militares
no Rio de Janeiro, aposentados em Porto Alegre e ribeirinhos do Oiapoque, no
extremo norte do Brasil, entre outras. A reação é sempre a mesma, de incontida
alegria. Exatamente como sempre acontece, aconteceu e continuará acontecendo.
Ainda que, neste 2014, a mídia familiar e tradicional tenha se esforçado para
desviar esse traço do caráter nacional, acentuando todos os problemas na
organização do Mundial, que existem e estão ai, mas sem, no entanto, mostrar
corretamente as qualidades da iniciativa. Na prática, boicotando-a.
Com o vídeo que repõe para o mundo, em milhões de
reproduções, o inabalável amor dos brasileiros pelo seu time e seu País, o New
York Times, sem uma usar uma única palavra, fez mesmo um golaço.
Somos
um país heterogêneo, com 200 milhões de habitantes? Sim, somos, mas, os Estados
Unidos, onde fica a sede do The New York Time, tem 314 milhões de habitantes,
com uma população muito mais heterogênea do que a brasileira e quando alguém de
fora resolve intrometer-se em assuntos que dizem respeito à nação americana, o
sentimento de defesa da pátria aflora e todo mundo parte para a briga.
A
Copa do Mundo não deve funcionar como um tapete para baixo do qual devamos
jogar toda a sujeira. Os problemas existem, e muitos deles por causa de nossa
passividade histórica, que parece estar mudando um pouco. Entretanto, perder
uma oportunidade como esta de mostrar para o mundo o que o Brasil tem de bom é,
no mínimo, uma baita falta de inteligência. A roupa suja a gente lava em casa.
Não adianta falar para os de fora que ela está suja, porque eles não virão
lavá-la para nós. Então, aproveitemos o que há de bom na Copa do Mundo do
Brasil.
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