segunda-feira, abril 28, 2014

Tributo ao comandante Luiz Feltrin: A crônica que eu não gostaria de ter escrito

Jota Parente

Comandante Luiz Feltrin, com Parentinho, antes de uma
viagem para Santarém em agosto de 2010
Foto: Jota Parente
            Conheci o comandante Luiz Feltrin no início dos anos 1990 por intermédio de outro piloto do mesmo nível, o amigo Léo Rezende. A partir dali desenvolvemos uma amizade sadia que nos permitiu uma proximidade até mesmo em alguns momentos de lazer. Naquela época eu costumava passar os domingos de verão nas praias de Itaituba, a maioria das vezes na praia do Curral.
            Juntávamos as famílias, eu, Luiz Feltrin, Eduardo Augusto, Leo Rezende, Marlúcio Couto, comandante Atílio e Ivan Araújo. Devo ter esquecido alguém, mas, vamos em frente, pois o mais importante neste momento de dor é lembrar que tivemos oportunidade de solidificar a nossa convivência por intermédio das agradáveis conversas ao redor do churrasco que o Eduardo preparava, e nas excitantes peladas que jogávamos quando o Sol já estava um pouco mais camarada. Luiz Feltrin, Ivan e Marlúcio eram os craques da pelada. A gente dava nossas corridinhas, pois o que importante naquelas memoráveis ocasiões era nos divertirmos sadiamente. Nossos filhos eram mais ou menos da mesma idade.
            O tempo passou, Luiz foi fazendo com que sua jovem empresa Jotan crescesse com consistência até tornar-se o que é hoje, uma das mais respeitadas de toda a região. Veio o Jornal do Comércio e Luiz participou da solidificação deste periódico na condição de um dos mais antigos anunciantes. Nunca nos faltou o seu apoio. Quando o procurei, ano passado, para falar de minha intenção de publicar um livreto com um modesto poema de minha lavra, O Garimpeiro, o qual até agora só divulguei no Jornal do Comércio, em capítulos, ele se prontificou de imediato a colaborar para que eu pudesse arcar com os custos de impressão. A estrofe na qual ele é citado diz: Luiz Feltrin está vivo/com sua Jotan crescendo/O Sadi por onde anda/Nunca seu labor desanda/Esses todos vão vivendo.
            Quinta-feira, 13 de março, nos encontramos pela última vez. Jamais poderia imaginar que aquele seria o dia de nossa despedida. Foi na chegada à escola Pequeno Polegar, na hora da entrada, onde estuda meu filho Parentinho, e o Américo Neto, o Netinho. Aliás, foi por indicação de minha esposa Marilene, que Marília e Luiz decidiram colocar o filho nessa escola.
            Naquela quinta-feira que  nunca vai sair da nossa lembrança, estava caindo uma chuva fina quando eu cheguei para deixar meu filho. Luiz acabara de chegar ao seu carro após deixar o Netinho, quando a  Marilene pegou uma toalha para cobrir a cabeça do Parentinho. O agora saudoso amigo disse: Marilene, pega o meu guarda-chuva para você levar o Parentinho, para que ele não se molhe. Não precisa, respondeu ela, agradecendo. Mas, ele insistiu e ela pegou o guarda-chuva, levou o Parentinho e na volta aconteceu uma cena engraçada, pois a Marilene foi devolver o guarda-chuva, mas errou de carro, pois bem à frente do carro do amigo havia outro semelhante.
            Luiz e Marília deram boas gargalhadas com o engano da Marilene. Nesse mesmo dia, pela parte da manhã, quando a Marilene parou na Jotan para tratar algum assunto com o casal, ele fez o seguinte comentário: Marilene, será que vai ser preciso eu ir embora de Itaituba para que a Câmara Municipal se lembre de me fazer alguma homenagem? Vivo em Itaituba há de trinta anos, já fiz muita coisa neste município, mas nunca fui lembrado.
            Quando ele disse que seria preciso ele ir embora, para o Legislativo municipal lembrar-se dele, referiu-se a mudar-se de Itaituba para outra cidade, uma vez que ele analisava com calma essa possibilidade. Porém, quis o destino que suas palavras tenham se transformado em uma despedida de duas pessoas que o queriam muito bem, as quais o guardarão na memória para sempre.
            Ele foi um profissional da mais elevada qualidade, bom pai de família, além de empresário competente. Venceu todas as dificuldades operacionais dos tempos do auge do garimpo, conduzindo seu aparelho sempre com muita responsabilidade, fugindo da tentação de voar com excesso de cargas, motivo de grande número de acidentes com mortes naquele tempo. Pousou nas pistas mais precárias possíveis tornando-se um dos mais respeitados pilotos de toda a região, fazendo parte de um seleto grupo no qual estão inseridos Pai Velho, Leo Rezende, Sadi, Davi Riker, Dário, Atílio, Careca e tantos outros. Quis o destino, que esse exemplar profissional fosse vítima de uma tragédia que enlutou a região do Tapajós, pilotando uma aeronave nova, segura, com manutenção rigorosamente em dia e sendo ele um dos que melhor conheciam toda esta região. No caso de Luiz Feltrin e seus passageiros só há uma coisa a dizer: foi pura fatalidade.
            Descanse em paz, comandante Luiz Feltrin. Nossa eterna admiração por tudo que você representou nesta passagem pela Terra, seja como filho, como pai, como marido, como amigo, como profissional ou como empresário. Tenha certeza que você deixou uma marca que nunca se apagará, pois você não passou por esta vida apenas a passeio. Você edificou uma obra em terreno firme, a qual fica para a posteridade.

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