Jota Parente
Comandante Luiz Feltrin, com Parentinho, antes de uma viagem para Santarém em agosto de 2010 Foto: Jota Parente |
Juntávamos as famílias, eu, Luiz
Feltrin, Eduardo Augusto, Leo Rezende, Marlúcio Couto, comandante Atílio e Ivan
Araújo. Devo ter esquecido alguém, mas, vamos em frente, pois o mais importante
neste momento de dor é lembrar que tivemos oportunidade de solidificar a nossa
convivência por intermédio das agradáveis conversas ao redor do churrasco que o
Eduardo preparava, e nas excitantes peladas que jogávamos quando o Sol já
estava um pouco mais camarada. Luiz Feltrin, Ivan e Marlúcio eram os craques da
pelada. A gente dava nossas corridinhas, pois o que importante naquelas
memoráveis ocasiões era nos divertirmos sadiamente. Nossos filhos eram mais ou
menos da mesma idade.
O tempo passou, Luiz foi fazendo com
que sua jovem empresa Jotan crescesse com consistência até tornar-se o que é
hoje, uma das mais respeitadas de toda a região. Veio o Jornal do Comércio e
Luiz participou da solidificação deste periódico na condição de um dos mais
antigos anunciantes. Nunca nos faltou o seu apoio. Quando o procurei, ano
passado, para falar de minha intenção de publicar um livreto com um modesto
poema de minha lavra, O Garimpeiro, o qual até agora só divulguei no Jornal do
Comércio, em capítulos, ele se prontificou de imediato a colaborar para que eu
pudesse arcar com os custos de impressão. A estrofe na qual ele é citado diz: Luiz Feltrin está vivo/com sua Jotan
crescendo/O Sadi por onde anda/Nunca seu labor desanda/Esses todos vão vivendo.
Quinta-feira, 13 de março, nos
encontramos pela última vez. Jamais poderia imaginar que aquele seria o dia de
nossa despedida. Foi na chegada à escola Pequeno Polegar, na hora da entrada,
onde estuda meu filho Parentinho, e o Américo Neto, o Netinho. Aliás, foi por
indicação de minha esposa Marilene, que Marília e Luiz decidiram colocar o
filho nessa escola.
Naquela quinta-feira que nunca vai sair da nossa lembrança, estava
caindo uma chuva fina quando eu cheguei para deixar meu filho. Luiz acabara de
chegar ao seu carro após deixar o Netinho, quando a Marilene pegou uma toalha para cobrir a
cabeça do Parentinho. O agora saudoso amigo disse: Marilene, pega o meu guarda-chuva para você levar o Parentinho, para
que ele não se molhe. Não precisa, respondeu ela, agradecendo. Mas, ele
insistiu e ela pegou o guarda-chuva, levou o Parentinho e na volta aconteceu
uma cena engraçada, pois a Marilene foi devolver o guarda-chuva, mas errou de
carro, pois bem à frente do carro do amigo havia outro semelhante.
Luiz e Marília deram boas
gargalhadas com o engano da Marilene. Nesse mesmo dia, pela parte da manhã,
quando a Marilene parou na Jotan para tratar algum assunto com o casal, ele fez
o seguinte comentário: Marilene, será que
vai ser preciso eu ir embora de Itaituba para que a Câmara Municipal se lembre
de me fazer alguma homenagem? Vivo em Itaituba há de trinta anos, já fiz muita
coisa neste município, mas nunca fui lembrado.
Quando ele disse que seria preciso
ele ir embora, para o Legislativo municipal lembrar-se dele, referiu-se a
mudar-se de Itaituba para outra cidade, uma vez que ele analisava com calma
essa possibilidade. Porém, quis o destino que suas palavras tenham se
transformado em uma despedida de duas pessoas que o queriam muito bem, as quais
o guardarão na memória para sempre.
Ele foi um profissional da mais
elevada qualidade, bom pai de família, além de empresário competente. Venceu
todas as dificuldades operacionais dos tempos do auge do garimpo, conduzindo
seu aparelho sempre com muita responsabilidade, fugindo da tentação de voar com
excesso de cargas, motivo de grande número de acidentes com mortes naquele
tempo. Pousou nas pistas mais precárias possíveis tornando-se um dos mais
respeitados pilotos de toda a região, fazendo parte de um seleto grupo no qual
estão inseridos Pai Velho, Leo Rezende, Sadi, Davi Riker, Dário, Atílio, Careca
e tantos outros. Quis o destino, que esse exemplar profissional fosse vítima de
uma tragédia que enlutou a região do Tapajós, pilotando uma aeronave nova,
segura, com manutenção rigorosamente em dia e sendo ele um dos que melhor
conheciam toda esta região. No caso de Luiz Feltrin e seus passageiros só há
uma coisa a dizer: foi pura fatalidade.
Descanse em paz, comandante Luiz
Feltrin. Nossa eterna admiração por tudo que você representou nesta passagem
pela Terra, seja como filho, como pai, como marido, como amigo, como
profissional ou como empresário. Tenha certeza que você deixou uma marca que
nunca se apagará, pois você não passou por esta vida apenas a passeio. Você
edificou uma obra em terreno firme, a qual fica para a posteridade.
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