terça-feira, outubro 29, 2013

Destino: Aconcágua

 Não foi uma decisão fácil, por tudo que aconteceu comigo, falando de saúde. Mas, depois de muita relutância, há pouco mais de dois meses eu caí em campo para viabilizar a ideia da próxima expedição de motocicleta. Havia muita preocupação da família e dos amigos mais próximos, a ponto de um deles me perguntar se eu não achava que estava muito cedo. Eu respondi que a pessoa que poderia fazer essa pergunta seria o Dr. Willian Fuzita. Ele, pelo contrário, há seis meses perguntou quando eu iria sair na próxima viagem de moto, reafirmando que eu estava liberado para viver a vida plena e intensamente. E com um projeto bem montado, visitei diversas empresas, recebendo o sim de um número expressivo delas, que decidiram encarar essa empreitada. Graças a isso, estou pronto para pegar a estrada na Expedição Aconcágua.

Eu deveria ter partido de Itaituba no dia 5 de junho do ano passado, na Expedição Alasca. Para tornar isso possível, montei um projeto com muita antecedência, que estava praticamente viabilizado. Entretanto, oito meses da data marcada para a largada, o sonho teve que ser adiado para cuidar da saúde. Apenas adiado, pois continua o sonho de realizá-lo.

No dia 7 de outubro passado completaram-se cinco anos da primeira jornada, a Expedição Amazônia, junto com o amigo Jadir Fank, quando percorremos quase toda a América do Sul, eu, pilotando um motocicleta 125 cilindradas, ele montado em uma 150 cilindradas, porque nossos recursos não nos permitiam estar em motos grandes. Mas, nossas pequenas nos levaram por todos os cantos.

Na fronteira da Colômbia com o Equador, antes de adentrarmos à aduana do Equador, encontramos dois motociclistas mexicanos em duas motos que deixaram a gente de queixo caído. Eles vinham do México e iriam muito mais longe, em duas BMW 1.200 cilindradas, uma covardia, comparadas às nossas. Jadir disse a um deles, que fazer a viagem em motos daquele tipo era moleza. Queria vê-los encarar o desafio de fazer isso em motos pequenas.

Temos grandes e boas recordações daqueles 54 dias que permanecemos na estrada. Aprendemos muita coisa a respeito do trânsito nas rodovias do Brasil e dos outros países sulamericanos, convivemos com culturas diferentes da nossa, tivemos oportunidade de viajar em grandes altitudes, a maior delas, na região conhecida como Abra Apacheta, entre Pisco, à beira mar, e Aycucho, no oeste do Peru, onde chegamos a 4.746 metros acima do nível do mar, na Carretera de los Desbravadores, em plena Cordilheira dos Andes.

Aquele foi um momento muito complicado, por causa do frio terrível e pelos efeitos da altitude no organismo. Particularmente, meu corpo reagiu bem, sem náuseas, ou dor de cabeça. Mas, não podia andar depressa mais do que vinte metros, pois ficava cansado como se tivesse feito uma corrida. Já o Jadir sentiu bem mais, além de sua moto também ter respondido muito pior do que a minha.

Em 2010 encarei sozinho o desafio que me levou até o extremo Sul de nosso País, tendo chegado a Bagé, no Rio Grande do Sul, distante poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai. Saí de Belém pela costa e retornei pelo centro, até a capital paraense. Foi uma experiência diferente, porque não é o ideal viajar só, sobretudo em uma jornada tão longa. Além do mais, pela primeira vez na vida, com quase 60 anos de idade, fui de navio, de Santarém para Belém.

Agora, estou pronto para a Expedição Aconcágua, infelizmente, sozinho. Os dois candidatos que poderiam fazer parte desta nova aventura, os amigos Jadir Fank e Wagner Arouca, não conseguiram adequar suas agendas para que pudéssemos compartilhar esta nova experiência. Torci muito para que isso fosse possível. Mas, não depende da minha vontade, ou até da deles.

Dia 31 de outubro, sexta-feira da próxima semana é a data escolhida para a largada. Desta vez, diferente das vezes anteriores, sairei montado em minha moto, a partir de Itaituba, pois irei pela Santarém-Cuiabá, rumo ao Sul. Nas duas primeiras viagens, fomos de barco para Santarém, e de lá para Manaus, e saí sozinho de barco de Itaituba para Santarém e de lá para Belém, também de barco, na segunda jornada.

Irei a Montevidéu e a Buenos Aires, aonde não estive nas viagens passadas. De lá viajarei para Mendoza, ainda na Argentina, de onde seguirei até uma área do Pico do Aconcágua que é acessível para simples mortais como eu, pois não tenho mais idade, muito menos, preparado para pensar em escalar o ponto mais elevado de todo o continente americano.

No meu retorno pretendo editar o livro referente a essas aventuras, para que tais acontecimentos não caiam no esquecimento, como tanta coisa que está se perdendo em Itaituba, por falta de registro, seja por áudio, por imagem ou por escrita. Todos os que me ajudaram nas duas jornadas passadas, e mais os da atual expedição, estarão nas páginas desse livro. As próximas gerações terão registrada, e bem registrada, a saga deste caboclo, misturado com cearense, povo que não tem medo de enfrentar o desconhecido. Seja onde for. E lá vou eu, de novo!

* - Publicado na edição do Jornal do Comércio, que circulou sexta-feira passada.


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