Levando a vida que não pedi à Deus

*** É comum a gente ouvir alguém dizer: fulano está levando a vida que pediu a Deus. Está dando tudo certo, o vento está favor. O outro lado da moeda é: fulano está comendo o pão que o diabo amassou, que dentre outras conotações pode significar que está dando tudo errado. Não é esse o sentido que quero dar ao título deste artigo.

Quando digo que estou levando a vida que não pedi a Deus, refiro-me ao fato de ter tido meu cotidiano virado de cabeça pra baixo, de uma hora para outra. E isso também não é uma ladainha de reclamações contra tudo que está acontecendo comigo e com minha família. Muito pelo contrário! O que desejo e deixar patenteado, que se a vida lhe deu um limão, mas, você não tem açúcar para fazer a limonada, quando menos você menos esperar, vai aparecer alguém com o açúcar, resolvendo seu problema.

A doença do me marido Jota Parente tem me levado a rever muitos conceitos de vida. A vida moderna absorve quase todo o nosso tempo. Para a dona de casa que trabalha fora, falta tempo para quase tudo. A gente tem dificuldade para conciliar nosso tempo para os filhos e para o marido; a casa, de vez em quando, fica de pernas para ar e assim a gente vai levando.

No exato momento em que nos deparamos com uma situação extrema dessa que vivemos, entra em ação aquele ditado que o Parente colocou no blog há poucos dias. Conhecemos os amigos que temos, nos momentos difíceis e nos bons momentos; nos bons momentos conhecemos a quantidade deles, enquanto nos momentos difíceis conhecemos a qualidade. E neste momento estamos podendo colocar em cheque esse ditado.

O Parente viajou de Itaituba para Manaus, dia 15 de outubro, um sábado. Na segunda-feira seguinte já estava iniciando sua peregrinação por consultórios e laboratórios. Trata-se de uma maratona necessária, porque qualquer médico que se preze, só inicia qualquer tratamento nos dias de hoje, se tiver 100% de dizer da origem e do tipo de problema. Isso é ainda mais rigoroso quando se trata de um câncer.

Felizmente faltam pouco dias para o início efetivo do tratamento. (Já começou). Não existe mais nenhuma dúvida a respeito do tipo de neoplasia, bem como da classificação do tipo de célula contida na mesma. Agora, é começar o tratamento e rezar bastante para que o Senhor abençoe esse medicamento que será injetado. Aliás, nesse particular, agradecemos a todos os irmãos e irmãs das mais variadas denominações religiosas, pelas orações pedindo a Deus o restabelecimento da saúde do meu marido.

Como até no máximo dia 14 de dezembro ele receberá a primeira aplicação de quimioterapia, esta deve ser a última edição que ele diagrama sob pressão de fortes dores, pois há horas em que nem o remédio tarja preta faz com elas desapareçam totalmente. Tenho digitado um bocado de linhas para ele, no que pese minha falta de agilidade. Mas, como diz o ditado, se não tem tu, vai tu mesmo. O Parente, com seus tantos anos de experiência, é de uma agilidade impressionante.

Só nos dois sabemos o sacrifício que ele está fazendo para diagramar esta edição, pois eu não entendo nada de Corel. Não há como ter quebra galho nessa parte. E ele tem me dito com frequência, que será a última, com ou sem a aplicação do medicamento para a doença, pela simples razão dele não ter mais condições para continuar fazendo algum trabalho mais demorado, mesmo na parte na qual eu posso ajudar. Tem diagramado nos espaços em que as dores, mesmo que não cessem completamente, dão uma trégua e ficam mais leves.

Ele lamenta direto não poder estar presente nessa reta final de campanha pró-Tapajós e Carajás. Quando pode, via internet, mesmo que seja deitado, dá uma olhada no que está acontecendo nessa luta. Infelizmente não poderemos dar nossos dois votos para Tapajós e Carajás, mas, nossa torcida para o 77 seja vencedor continua sendo muito grande. Assim vai nossa vida neste momento de angústia e sofrimento por causa dessa inesperada doença que virou nossas vidas de cabeça para baixo, como disse lá no começo do artigo. Vou levando a vida que não pedi a Deus, mas, fazendo de tudo para cumprir Sua vontade.

O Parente me diz, enquanto chego ao final deste artigo, que agradece pelo fato de não estar precisando ser tratado na Fundação Centro Oncológico ( CECON), referência em todo o Norte no tratamento e combate ao câncer. Não por desconfiar da qualidade do serviço, que é de primeira, mas, pela quantidade de pessoas que passam por lá todos os dias, vindas de tudo quanto é parte. A gente parece estar na anti sala do Inferno, quando se depara com rostos deformados, bem como outras partes do corpo. Que Deus bote sua mão sobre aqueles irmãos, a maioira dos quais só tem aquela opção muito disputada.

Obrigada a todos pela força

Marilene Parente

Bacharel em Direito.

*** - Este artigo foi publicado na edição do Jornal do Comércio, que circulou nos dias 9 e 10 de dezembro, antes do plebiscito. Hoje, sexta, 16 de dezembro, o Parente está indo até a clínica Sensumed para retirar a bomba de remédio com a qual ficou cinco dias seguidos, 24 por dia, recebendo um complemento medicamentoso de 278 ml.

Sente-se um tanto debilitado pela força das drogas, mas, tem se alimentado razoavelmente bem, para que o organismo possa reagir bem ao tratamento. Com a graça de Deus, temos confiança que estamos no caminho certo.

Não cansamos de agradecer às inúmeras manifestações de solidariedades que chegam de Itaituba todos os dias. A todos os irmãos em Cristo, independetente do nome da religião que professam, que Deus os recompensem por suas preces pela recuperação deste amigo amigos. Quando estivermos de voltar, com a vitória, em nome do Senhor, agradeceremos pessoalmente a cada um dos que for possível, inclusive, visitando casas de orações que nos convidarem.

Amém e amém