Jota Parente
Eu sempre disse nas minhas falas, durante as reuniões das quais fiz parte na condição de coordenador do Movimento Pela Criação do Estado do Tapajós, em Itaituba, que
não estava lutando, nem conclamando meus ouvintes para deixarmos ser paraenses, naturalidade da qual sempre me orgulhei. Nosso objetivo não tinham cunho exclusivamente separatistas, pelo prazer de separar. O queríamos era ter o direito de gerenciar os nossos próprios destinos, sem nenhum tipo de sentimento xenofóbico.
Por causa do meu estado de saúde, fiquei totalmente alheio ao que aconteceu domingo, durante a votação no plebiscito no qual o não venceu com números arrasadores, graças ao terrorismo imposto pelo governo do estado, usando de todos os expedientes, até sórdidos, para que o que poderia vir a ser o Pará remanescente votasse maciçamente no não.
Somente hoje, do meio dia para tarde senti-me em condições de dar minha opinião, na
certeza de que muitos leitores aguardam por ela.
Confesso que, diante das circunstâncias em que aconteceu esse plebiscito, SAIO MENOS PARAENSE desse processo. Sei que isso vai geral muitos comentários de apoio e tantos outros raivós, podendo até haver quem deseje que eu me mude de estado, se não estou satisfeito com este. Sei qual for o comentário, desde que identificado seu autor, será publicado.
Hoje, posso afirmar que se tivesse que recomeçar essa luta, já não repetiria mais que não estaria lutando para deixar ser paraense, pois dada a sordidez dos comandantes do Poder, em Belém na condução da campanha e a conivência silenciosa de figuras ilustres como o vice-governador Helenilson Pontes, como democrata que sou, aceito o resultado das urnas, mas, aceito não sem estrilar pelo modo como esses eleitores foram motivados a votar no não.
O Pará já entrou fracionado nessse plebiscito, como foi dito por inúmeros colegas por meio de artigos brilhantes, como fizeram os doutores Manuel Dutra e Raimunda Monteiro, para citar apenas dois deles. E eu, mais do que antes, tenho convicção de que essa divisão passa a ser muito mais evidente, a partir de agora, pois além do velho sonho da emancipação pelos motivos amplamente conhecidos, passa a existir um rancor, que deixa de ser latente para tornar-se manifesto.
Que ninguém se iluda. A próxima campanha estadual vai ter contornos de xenofobia, sim. Os vereadores desses municípios da área do que pretendia ser o estado do Tapajós vão ter trabalho para vender candidatos a deputados estaduais e federais, sobretudo de Belém e adjacências.
Pelo amor de Deus, não confundir com candidatos de fora, colocando tudo num mesmo saco, pois tem gente como José Megale, Alexandre Von, Airton Faleiro, Júnior Ferrari, Josifina Carmo e todos os outros que são da região e vestiram a camisa do SIM.
E não somente vereadores que terão essa dificuldade. Prefeitos que fizeram corpo mole também terão que explicar para seus eleitores porque fizeram menos do que podiam.
Meus companheiros dessa reta final da luta, aí em Itaituba, parabéns a todos vocês. Certamente vou cometer alguma injustiça, pois não conseguirei lembrar os nomes de todos. Mas sintam-se homenageados em nome de Afábio Borges (CDL), Patrick Sousa (ACEII), Cleris (CDL), Wagner Arouca (Teletrin), Diego Mota (API), Ivan Araújo (Tapajoara), Loramar Santos e Antônio Santana (Alternativa FM), Vereador César Aguiar (Câmara Municipal) e tantos outros que a memória não recorda neste momento.
Companheiros, vocês fizeram o que tinha que ser feito; fizeram um ótimo trabalho. A gente sabia que nossa luta era contra um girante infinitamente maior do que nós. Mas, nem isso nos amedrontou. Perdemos, sim, pois os números nos foram amplamente desfavoráveis. Mas, vencemos, ao mostramos para os comandantes da metrópole e adjacências, que existe, sim uma enorme insatisfação de todos nós do oeste com o que eles fazem com conosco.
Mais do que apenas reclamarmos entre nós o que acontece no dia a dia, reclamações que entram por um ouvido e saem do outro, dos seguidos governos do Pará, nosso grito, dessa vez ecoou bem mais longe. Não há como deixar de reconhecer que os comentários feitos pela Rede Globo, para todo o Brasil, no balanço geral, nos foram favoráveis. Agora os nosso líderes não podem mais dizer que não sabiam que o governo faz tão pouco por nós. Nisso estou convencido que saímos vencedores dessa contenda.
Hoje, valendo-me da ajuda de minha mulher, Marilene, para produzir este texto, estou preste a completar dois meses ausente de minha cidade querida, Itaituba, cuidando de recuperar minha saúde, porque o incompetente governo do meu Estado, o que passou, o da Ana Júlia, conseguiu o supremo milagre de sucatear a rede de saúde pública que o Dr. Almir Gabriel deixou muito bem montada, sendo referência em toda a região Norte, que o Jatene no seu primeiro governo conseguiu manter mais ou menos e que até agora só tem falado e nada tem feito nessa área para diminuir o estrago provocado por sua antecessora.
A referência em qualidade de serviço de saúde e qualidade no atendimento é Manaus. De cada 10 médicos com quem se fala Santarém, dificilmente um só não sugere ao paciente vir para Manaus, sobretudo em se tratando de casos de Câncer. Alguns mais próximos da gente e mais diretos chegam a dizer: não perca tempo indo para Belém, o caminho é Manaus.
Aqui no Amazonas, municípios muito menos populosos dos que Itaituba contam até com tomógrafo em hospital público. É por isso que lutamos tanto para emancipar, para tirar esse atraso enorme. Mas, a metrópole não queria perder a colônia, que foi como sempre fomos e continuaremos sendo tratados.
Tapajós e Carajás perderam, principalmente nós que somos considerados os primi os pobres, perdemos. Mas estou mais do que nunca, convencido de que perdeu muito mais o Pará, assim como o Brasil, que analisou a criação de dois novos estados, somente como despesa, despesa e despesa, quando se deveria olhar como um investimento futuro com resultados positivos para a balança comercial brasileira em pouco tempo. Olhou-se apenas pelo lado político, no caso dos detentores do poder, do Sul e do Sudeste. Mais seis senadores para equilibrar ainda mais o jogo do Senado e mais 16 deputados federais para também equilibrar as forças na Câmara Federal. Eles tem um pavor disso.
Certamente, há muito mais coisas a serem ditas sobre esse assunto, mas, concluo reiterando o que disse lá no começo. Sinto-me apenas em parte derrotado, porque os números são incontestáveis. Entretanto, junto com todos os companheiros que empunharam essa bandeira, considero-me vitorioso diante dos números apresentados por Itaituba, que deixou bem claro seu sentimento em relação ao governo do estado do Pará.
Saio dessa luta, tão tapajônico quanto entrei, porém, bem menos Paraense. Hoje sou um paraense por obrigação, sem o mesmo entusiasmo que sempre tive com as coisas do meu estado.
Autor: Jota Parente
Redigido por Marilene Parente