Esta entrevista está na edição 133 do Jornal do Comércio, de Itaituba, que circulará amanhã cedo, com o devido crédito para quem produziu e publicou. Eu recomendo a leitura.
Jota Parente
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Ao avaliar o plebiscito pelo “sim” ou pelo “não” da divisão do estado do Pará, que ocorrerá no dia 11 de Dezembro, Manuel José Sena Dutra, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU) On-Line, acredita que há uma grande indiferença quanto ao plebiscito. Na verdade, para ele as pessoas estão mais preocupadas com seu dia a dia, com a violência que ameaça a população de Belém e do interior do estado, as migrações, etc. “Por isso imagino que haverá uma grande abstenção no dia na consulta popular.
Quanto aos resultados, são uma incógnita, tanto para os favoráveis como para os contrários. As pesquisas publicadas até agora são visivelmente viciadas e inautênticas para os dois lados”. E questiona: permanecendo a atual situação, de um Pará “unido”, haverá mais igualdade? Haverá mais honestidade no trato do dinheiro público? Há riscos, sim, para os novos estados. Porém, onde, em que estado do país não há desmandos?
Dutra é jornalista profissional. Detentor de três Prêmios Esso Região Norte. Possui graduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, especialização em Educação Ambiental (Núcleo de Meio Ambiente – Numa/UFPA), mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pará – UFPA e doutorado em Ciências Socioambientais pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA da Universidade Federal do Pará, com disciplinas cursadas em programa interinstitucional com a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia – Facom e estágio doutoral no Centro de Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. É autor, entre outros, de O Pará dividido: discurso e construção do estado do Tapajós e A natureza da mídia: os discursos da TV sobre a Amazônia, a biodiversidade e os povos da floresta.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais as principais razões para que o senhor seja favorável à criação do estado do Tapajós. E Carajás?
Dutra – Em relação ao Tapajós, sou favorável porque se trata de uma demanda histórica, mais que secular. O desejo de autonomia faz parte da cultura de gerações de paraenses da banda oeste do estado. Quanto ao Carajás, sou solidário com a luta do sudeste paraense, embora se trate de uma demanda historicamente recente.
IHU On-Line – De acordo com pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, Carajás e Tapajós seriam estados inviáveis, pelo que demonstram cálculos econômicos. Como avalia a frase que diz que Tapajós e Carajás "serão estados de boca aberta, esperando o dinheiro do governo federal”?
Dutra – O Estado brasileiro sempre foi avesso a qualquer alteração nos seus limites internos. O Ipea é um órgão do governo central; logo, ele é contra. A redução da demanda autonomista ao seu aspecto econômico e fiscal é um discurso de desqualificação dos objetivos do plebiscito. Adquirindo a autonomia, estas duas regiões amazônicas, Tapajós e Carajás, poderão dispor de maior poder de barganha junto ao governo central e assim conseguir os investimentos que o governo paraense nunca se interessou em buscar.
IHU On-Line – As propostas para dividir o estado do Pará não são novas. Desde 1950, a pauta já existia. Quem se favorece com a criação dos estados de Tapajós e Carajás?
Dutra – A demanda por autonomia não vem de 1950. Ela começou após 1850, quando o hoje estado do Amazonas se separou do Pará. A cidade de Santarém, naquele tempo, possuía o mesmo status jurídico do Pará e do Amazonas, como Comarca que era. Isso alimentou o desejo das elites locais por autonomia. Mas foi em 1883 que se fundou, na cidade, uma entidade que se propunha a lutar pela separação do Pará, criando assim uma outra província, que se chamaria Província do Baixo Amazonas. De lá para cá o movimento nunca parou, embora com ímpetos distintos ao longo das décadas. Essa questão de favorecimento é parte dos argumentos contrários. Os estados do Tapajós e do Carajás vão favorecer a Amazônia como um todo, uma imensa região mal representada no Congresso Nacional. Com os novos estados, o Novo Pará vai ficar com a maior parte da riqueza hoje existente e assim poderá resolver os gravíssimos problemas de uma região metropolitana, em torno de Belém, que hoje já se mostra uma cidade quase inviável e com enormes bolsões de pobreza extrema.
IHU On-Line – Quais os prejuízos com a criação dos dois novos estados? E quem serão os prejudicados?
Dutra – Prejuízos o oeste do Pará sofre agora, com a discriminação das elites de poder de Belém. Nos últimos 20 anos, o governo paraense vem boicotando a conclusão da BR-163, a Santarém-Cuiabá, o que impede o oeste de ser um centro exportador do Brasil Central e da Zona Franca de Manaus.
IHU On-Line – Com a criação do estado do Tapajós, como ficaria a situação da atual construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte?
Dutra – Não vejo como isso pode se alterar. Belo Monte é iniciativa do governo federal e não importa em que estado se situe.
IHU On-Line – Em relação à agropecuária, população indígena e a posse de terra, que tanto vêm afligindo o estado com a criação de dois novos, como ficariam estas situações?
Dutra – Também não vejo como novos limites internos na Amazônia venham a alterar questões que estão na ordem da Constituição. Sejam quais forem os limites internos, essas questões serão sempre da alçada nacional, e não da responsabilidade direta de governos locais.
IHU On-Line – Existem circulando hoje no Congresso Nacional propostas para a criação de 13 novos estados e territórios. Caso todas se concretizem, teremos uma federação com 37 estados, três territórios e cerca de 13 bilhões a mais de gastos. Como o senhor vê esta situação?
Dutra – Quando a Comarca de Curitiba decidiu se separar de São Paulo para formar a Província do Paraná, ou quando os amazonenses tomaram a decisão de se separar do Pará, mais ou menos à mesma época, os argumentos foram os mesmos. Não haveria recursos para tal. A questão é histórica: o poder central brasileiro nunca quis mexer nos limites internos. Na Constituição de 1824 o assunto foi levantado, mas o que ficou, no Brasil independente, foi uma configuração provincial parecida com a divisão do tempo das capitanias hereditárias. Se formos olhar para os Estados Unidos, lá o capitalismo exigiu racionalidade nos limites internos e isso foi feito sem traumas. No nosso país, do Império à República, são mais de 40 propostas de reorganização dos limites territoriais internos. Mas as oligarquias sempre impediram o debate.
IHU On-Line – Quais suas expectativas quanto ao plebiscito que será realizado no dia 11 de dezembro? Acredita que a população do Pará está consciente do papel que tem nas mãos?
Dutra – Creio que há uma grande indiferença quanto ao plebiscito. As pessoas estão é preocupadas com seu dia a dia, com a violência que ameaça a população de Belém e do interior do estado, as migrações, etc. Por isso imagino que haverá uma grande abstenção no dia na consulta popular. Quanto aos resultados, são uma incógnita, tanto para os favoráveis como para os contrários. As pesquisas publicadas até agora são visivelmente viciadas e inautênticas para os dois lados.
IHU On-Line – Como a mídia da região vem se posicionando com relação ao assunto? Acredita que a população do Pará está tendo acesso a informações variadas e conseguindo formar sua própria opinião crítica em relação à divisão?
Dutra – A mídia está, como sempre, sonorizando as vozes dos grupos de poder que a sustenta. Não há esclarecimento público sobre a questão. Há muito emocionalismo, tanto em Belém como nas duas regiões que desejam separar-se.
IHU On-Line – Como o governo tem reagido com relação à divisão? Tem algum posicionamento formal?
Dutra – O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), tem dito que agirá como “magistrado”. Ao mesmo tempo, incentiva forças políticas a darem início a uma campanha severa contra a divisão. Igualmente como está vorazmente cooptando lideranças políticas do oeste e do sudeste do estado. O vice-governador Helenilson Pontes, que era separatista, agora se cala. O ex-vice, Odair Correa, está falando agora porque saiu do governo. Ambos são de Santarém e sempre foram adeptos da separação. O governo está agora prometendo investimentos no interior do estado, com dinheiro que não existe, até porque o estado não tem crédito. Por que esses investimentos não foram feitos antes, já que o interior paraense é uma chaga aberta de pobreza, tanto quanto as imensas periferias da capital?
IHU On-Line – O senhor afirma que “a criação do estado do Tapajós será uma etapa no contexto de uma luta maior, luta amazônica e brasileira contra a desigualdade e tudo que impede o país de deslanchar como uma democracia efetiva”. Acredita que, com a divisão, haverá mais igualdades que desigualdades?
Dutra – Não se pode resumir a presente jornada tão somente à institucionalização de novos limites estaduais. Da parte de alguns movimentos populares do oeste paraense, solidários ao movimento, há toda uma pauta de reivindicações que não coincidem com as reivindicações das elites políticas tradicionais. Entre essas reivindicações está o desejo da participação da sociedade organizada na elaboração da constituição estadual.
IHU On-Line – Em sua opinião, qual o papel da informação e da imprensa para a consciência crítica da população, com sua consolidação no dia 11 de dezembro, com o plebiscito?
Dutra – Até agora, quase nenhum. Como disse, a mídia expressa o pensamento de grupos políticos que desejam encontrar novas formas de exercício do poder.
IHU On-Line – Com a divisão do estado, o volume de área desflorestada cresceria de 17,5% para 30,7%. O “novo” Pará também perderia seis das suas 13 bacias hidrográficas. Como analisa estes dados?
Dutra – As áreas desmatadas ou não terão o mesmo tamanho, independentemente dos limites estaduais. Com os novos estados ou não, a questão ambiental sempre será uma decisão de âmbito nacional a partir do Congresso e do governo federal. Veja, por exemplo, os desvãos do Código Florestal.
IHU On-Line – Um dos comentários feitos pelas pessoas que se manifestam contra a divisão do estado do Pará é o fato de que, com os dois novos estados, haverá mais desigualdades, com maior número de políticos e verbas que pouco ou nada irão mudar a realidade dos nativos, causando apenas mais desigualdades. Como o senhor avalia essa informação?
Dutra – Permanecendo a atual situação, de um Pará “unido”, haverá mais igualdade? Haverá mais honestidade no trato do dinheiro público? Você deve ter lido sobre o que ocorre na Assembleia Legislativa do Pará atualmente: uma verdadeira casa de horrores, tantos são os atos de corrupção. Igualdade, o combate à corrupção e a busca de um Brasil mais equânime podem ser objetivos de estados autônomos, mas a decisão será sempre nacional, de todos os brasileiros a exigir mudanças nas leis penais, pondo fim aos privilégios dos poderosos que raramente são alcançados pela lei e pela cadeia. Há riscos, sim, para os novos estados. Porém, onde, em que estado do país não há desmandos?
A EMANCIPAÇÃO DO ESTADO DO TAPAJÓS E CARAJÁS SERÁ O MAIOR INVESTIMENTO NA AMAZÔNIA.
ResponderExcluirNo dia 11 de dezembro o Brasil verá, pela primeira vez, o povo se manifestando num plebiscito sobre a reorganização territorial e criação de novos Estados. Todos os demais Estados criados após a Independência foram resultado de decisões autoritárias. O Tocantins seria a exceção, mas neste caso quem se manifestou foi o Congresso constituinte e não o povo.
Mato Grosso foi dividido por uma canetada do general-presidente Figueiredo. Amapá, Acre, Rondônia e Roraima foram decisões do ditador Getúlio Vargas que os fez Territórios Federais depois transformados em Estados pelos constituintes de 1988. Muito antes, dom Pedro II criou Paraná e Amazonas. A própria capital federal, Brasília, cujo território foi retirado de Goiás, foi decisão solitária de Juscelino Kubistchek, projeto que enterrou o país na onda inflacionária que até hoje nos atemoriza.
O plebiscito pelo Tapajós e Carajás é, portanto, uma experiência sócio-política inédita e por isso o Brasil deveria prestar mais atenção, ao invés de as elites nacionais, especialmente a "grande" imprensa, ficarem desdenhando e externando o seu conhecido preconceito a respeito de tudo que se faz e tenta fazer na Amazônia. Seu preconceito só não se manifesta em relação ao saque dos recursos naturais daqui para lá.
Os que se opõem usam os mesmos surrados argumentos do passado, de que uma nova unidade autônoma sairia muito caro. Caro ao país é o projetado "trem-bala" Rio-S.Paulo, bilhões que poderiam ser empregados na construção de rodovias e ferrovias decentes por todo o país.
Caro aos milhões de amazônidas são os mega-projetos de gigantescas hidrelétricas e de mineração que carregam as riquezas da região para fora, muito pouco ou nada deixando aos brasileiros da Amazônia, tão brasileiros quanto os demais. Caro, caríssimo ao Brasil é a percepção de governos tanto ditatoriais como democráticos que continuam a encarar a região como colônia do Brasil e do grande capital, nacional e estrangeiro.
Bilhões estão sendo gastos para despoluir o rio Tietê, em São Paulo, bilhões estão sendo gastos para o Rodoanel, em São Paulo, bilhões serão gastos para o trem bala em São Paulo, bilhões estão sendo gastos em reforma de aeroporto em São Paulo, e o povo do Pará pensam que estão pendindo demais ao governo federal duas novas capitais, Santarém e Marabá.
São Paulo tem 70 deputados federais , o Estado do Tapajós terá 8 e Carajás 8.
Estão reclamando do que ?
Como o Pará pensa pequeno !
São Paulo não é grande, mas é maior que o Pará.
SIM AO NOVO PARÁ.
SIM AO DESENVOLVIMENTO
MANAUS APÓIA A EMANCIPAÇÃO DO ESTADO DO TAPAJÓS.
ResponderExcluirSOMOS IRMÃOS DO ESTADO DO TAPAJÓS, MAS NÃO SOMOS DO PARÁ.
Evento Canta Tapajós em Manaus
No próximo dia 21 de outubro a UNASP- União das Associações Paraenses em Manaus, realizará no Amazon City Hall às 22 horas, um evento denominado Canta Tapajós, para comemorar o aniversário de Manaus e divulgar informações sobre o plebiscito que ocorrerá no Pará dia 11 de dezembro. No evento se apresentarão artistas regionais, entre eles estão: Cristina Caetano, Val Luc, João Otaviano, Nicolas Junior, Banda Amazon Beach, Nelson Vinenci e muito mais.
Em Manaus, segundo os últimos levantamentos do IBGE, moram mais de 300 mil paraenses oriundos principalmente do oeste do Pará. Segundo os depoimentos de quem veio morar no Amazonas, um dos motivos para essa migração se dá por conta da falta de oportunidades na terra natal. Hoje o Pará vive um momento histórico ao passar por um processo democrático em que o povo decidirá no dia 11 de dezembro se divide ou não o estado em mais duas novas unidades federativas, o Tapajós e Carajás. Aqui em Manaus a mobilização está intensa por parte dos paraenses que ainda sonham em um dia voltar para suas terras caso seja criado o Estado do Tapajós.
Com a aprovação da consulta plebiscitária na câmara dos deputados no último dia 05 de maio, a União das Associações Paraenses em Manaus, que desenvolve trabalhos na capital desde 2006, intensificou o debate sobre o tema de criação do estado do Tapajós, indo para feiras realizar panfletagem, debates e programações que reúnem centenas de pessoas.
Atualmente a UNASP conta com um espaço para discussões a cerca do tema e durante estudos e pesquisas realizadas, foi constatado que da região oeste do Pará, saem semanalmente para Manaus 14 barcos e para Belém apenas 5 barcos, o que comprova a afinidade desses moradores com o estado do Amazonas.
SIM AO DESENVOLVIMENTO
Em Belém taxis, órgãos públicos, escolas e faculdades públicas e particulares (dentro das salas, inclusive) estão todas adesivadas com o NÃO. Praticamente todos os ônibus têm um adesivo na entrada, no para-brisas ou no interior. Esse tipo de manifestação é proibida pela legislação eleitoral, porém não há qualquer vontade de fiscalizar, o MP eleitoral se faz de cego e os responsáveis pelos comitês do SIM também nada fazem. Maia e Queiroz precisa saber que, se de um lado a improvável vitória do sim pode torná-los heróis, o fracasso pode arruinar suas carreiras políticas. Mãos à obra!
ResponderExcluirSIM AO DESENVOLVIMENTO