Apostar na sustentabilidade é coisa pra lá de atual. Esse foi o caminho tomado pelo empresário Wagner Arouca, na área de reflorestamento, para garantir um futuro tranqüilo, muito mais rentável e tão ou mais seguro que investimento em poupança convencional de banco. Wagner conversou com a reportagem do Jornal do Comércio sobre essa decisão tomada há muitos anos, da qual não tem do que se arrepender.
JC – Quando começou seu interesse por reflorestamento?
WA – Há muito tempo eu leio sobre sustentabilidade. Desde a época da Eco 92, no Rio de Janeiro, esse assunto já chamava minha atenção. Passados alguns anos daquele evento eu resolvi começar a plantar por conta própria, numa área de um sítio que eu já tinha, onde havia cacaueiros. Experimentalmente, eu plantei quatro mil mudas de Mogno brasileiro. Para minha surpresa as árvores começaram a crescer muito depressa. Isso me deixou animado, motivando-me a fazer pesquisas mais profundas sobre o assunto. Vi que tinha um valor comercial alto.
Naquela época ainda não se falava em proibição do corte do magno. Eu tratei de pesquisar que tipo de árvore eu poderia plantar, sem correr esse risco de proibição de extração. Foi então que eu descobri a existência de uma árvore chamada Teca, de origem asiática, que na Ásia leva até oitenta anos para chegar à idade adulta, enquanto no Brasil essa idade é no máximo de vinte e cinco anos. Ela se adaptou bem no Brasil, porque precisa de calor e umidade, o que nós temos de sobra.
A primeira empresa que trouxe essa espécie para o Brasil foi a Cáceres Florestal, de Mato Grosso. Isso aconteceu em 1970. De lá começou a se expandir o plantio por outros lugares do Brasil, mais para as regiões Norte e Nordeste. Existem hoje em dia cerca de vinte mil hectares dessa árvore no Mato Grosso. Eu comecei a plantar a Teca aqui, comprando sementes da Cáceres Florestal. Uma agradável surpresa foi ver as sementes produzidas aqui ter uma germinação muito maior do que da citada empresa, no Mato Grosso. Enquanto lá a germinação chega ao máximo a 40%, aqui a gente consegue mais de 90%. Isso significa que houve uma adaptação muita grande da árvore à Amazônia.
Com o passar do tempo eu fui fazendo experimentos com outros tipos de madeira, como o Nim, de origem indiana, conhecida na Índia como Árvore da Vida, porque ela tem uma serie de utilidades. Mas sua madeira não é tão nobre quanto a Teca. Para se ter uma idéia do valor comercial da Teca, ela vale três vezes mais do que o Mogno nacional. No caso do Nim, uma das vantagens é o ciclo de vida. Com oito anos pode-se começar a cortar.
JC – Quando começou seu plantio de Teca?
WA – Comecei há dez anos. Com cinco anos elas começaram a dar semente, uma vez que seu ciclo na Amazônia é mais breve. Essas primeiras árvores já estão no ponto de corte. Já tem valor comercial.
JC – O senhor está habilitado para vendê-las, se desejar?
WA – Não. Eu ainda estou trabalhando para finalizar a documentação do projeto.
JC – Quantas árvores desse tipo foram plantadas?
WA – Nesse primeiro projeto do qual estou falando foram plantadas treze mil árvores, com idade até dez anos.
JC – Pretende esperar mais para cortar, mesmo que receba logo autorização para fazer isso?
WA – Vou esperar, porque vislumbro a venda de sementes. Eu consegui fazer um registro no Ministério da Agricultura, registrando minhas mudas como matrizes, o que é uma novidade para cá. Então, a gente está conseguindo fazer com que esta região se transforme em fornecedora oficial de sementes de Teca.
JC – Onde fica essa terra desse projeto?
WA – Fica na Transforlândia, km 22, bem no meio da rodovia, no município de Aveiro.
JC –O plantio de Mogno ficou estagnado?
WA – Não. Eu tenho um total de oito mil pés de Mognos plantados. Desse total, mil árvores de Mogno já tem doze anos de idade, com um metro e vinte de circunferência. Mas, existem árvores com apenas três anos. Esses pés de Mogno eu não tenho intenção nenhuma de cortar, pelo menos em curto prazo, pois as sementes já estão no ponto de começar a dar retorno. Uma árvore dessas pode dar de R$ 8 mil a R$ 10 mil por ano. Nesse caso, compensa deixar a árvore em pé como quer o governo. Então, podem pensar que eu já estou faturando alto. Não estou porque ainda não comecei a vender em larga escala, mas tem mercado comprador para isso.
JC – Você já tem autorização para vender árvores de Mogno, se quiser?
WA – Ainda não. Finalmente, o governo começa a despertar para a necessidade de documentar quem quer produzir. Tudo era proibido. A gente batia nas portas e não conseguia nada. Ainda não está como a gente espera, mas, melhorou bastante. Eu fiz um projeto, agora, através do qual eu espero obter a licença para trabalhar com essas árvores. Eu acredito que dentro de no máximo doze meses eu consiga essa documentação.
JC – Existe um segundo projeto. Onde ele se situa e como vai?
WA – De fato, eu estou tocando um segundo projeto, que fica numa vicinal do km 65 da Transamazônica, sentido Rurópolis, quatro quilômetros distante da margem da estrada, ainda no município de Itaituba. É um projeto financiado pelo BASA. É bom ressaltar que o primeiro projeto do qual a gente estava falando tem sido tocado apenas com recursos próprios, o que não tem sido fácil. Eu precisaria que o cacau estivesse produzindo para amenizar as despesas. Mas, deu a praga da vassoura de bruxa, que eu estou trabalhando para erradicar. Já fui procurado por madeireiros da região, interessados em comprar árvores no ponto de corte. Mas, por enquanto não estou habilitado para vender.
JC – No segundo projeto a terra está totalmente regularizada?
WA – O projeto funciona da seguinte maneira: o banco só empresta o dinheiro se você tiver uma terra titulada pelo INCRA e quitada. O financiamento é feito tendo a terra e o plantio como garantia.
JC – E como está esse projeto?
WA – Eu estou concluindo. Fiz a limpeza da juquira. Eu vou receber a licença da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), o que vai me dar a garantia de que eu vou poder vender a madeira quando ela alcançar o ponto de corte, porque vai ser uma madeira certificada. Eu posso vender o projeto pronto, para alguém que se interessar, caso eu queira vender, como posso esperar a maturidade das árvores. A SEMA tem que dar um documento chamado LAR, que significa, Licença de Atividade Rural. Eles só dão esse documento depois que a gente começa a plantar. Acontece que o banco não dá o dinheiro se não tiver o LAR e não se tem esse documento sem começar o plantio. No meu caso a SEMA concordou em fazer a vistoria. Eu assinei um documento nesse sentido e o banco resolveu liberar o dinheiro. Eu preciso chegar ao total de vinte e cinco mil árvores, das quais eu já plantei dezoito mil. Vou concluir por estes dias o plantio das vinte e cinco mil árvores de Teca.
JC – É melhor plantar árvore do que criar gado?
WA – O gado dá uma rentabilidade em curto prazo. O retorno é mais Rápido. Já a madeira demora mais, mas, tem uma lucratividade muito maior. Isso, falando apenas da madeira, pois ainda tem a venda de sementes, venda de mudas, venda crédito de carbono.
JC - Você poderia vender crédito de carbono no mercado externo, para a Europa ou Estados Unidos?
WA - Poderia sim. Mas, não com essa quantidade de árvores. Não adianta eu chegar à bolsa de Chicago e falar que eu tenho vinte mil ou trinta mil árvores plantadas. É preciso chegar com 500 mil ou um milhão de árvores plantadas. Hoje, o crédito de carbono é pago somente pelo reflorestamento. Existe uma corrente que defende o pagamento, também, pela mata nativa existente.
JC – Existem outras pessoas fazendo esse tipo de plantio?
WA – Existem, sim. Mas, financiados, só existe esse meu projeto e um em Trairão, que foi implantado ano passado, antes do meu. Há madeireiros de Rurópolis como o Esdras, o vice-prefeito Vilson, tem o Mineu, além de outros. Eu acho que se a gente juntar todo esse pessoal que tem reflorestado, passamos das 500 mil árvores.
JC – Esse pessoal todo tem tido a preocupação de regularizar seus plantios?
WA – Tem se preocupado, mas, não tem buscado isso, em parte, eu acredito que por causa das dificuldades. Por exemplo: se alguém vai à SEMA e informa que plantou tantas mil árvores, o pessoal de lá diz: que bacana, você vai nos ajudar a alcançar a meta de um bilhão de árvores, mas, não move uma palha para ajudar. Não deveria ser assim, pois quanto mais árvores a gente plantar, melhor, uma vez que a demanda por madeira, no mundo inteiro, é muito grande.
* - Esta matéria está na edição escrita do Jornal do Comércio, de número 104, que está circulando.
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