O jornalista Manuel Dutra, após o encerramento da I Jornada de Comunicação de Itaituba conversou com a reportagem do Jornal do Comércio. Ele fez uma avaliação do encontro que reuniu profissionais dos mais diversos segmentos da mídia de Itaituba e da região do sudoeste. Dentre as afirmações fortes desse doutor em comunicação social ao JC destaca-se, "É possível ser concorrente e buscar objetivos comuns". Ele ressaltou, também, que não vê grande diferença na qualidade dos profissionais de Itaituba, Santarém e Belém.
JC – Como você avalia a I Jornada de Comunicação de Itaituba
Dutra - Eu destaco, em primeiro lugar, a coragem que vocês do Jornal do Comércio tiveram de realizar um evento como este, trazendo as pessoas para conversarem sobre o seu trabalho do dia-a-dia. Todo profissional precisa, em algum momento, parar para pensar naquilo que faz e que gostaria de fazer melhor. Eu achei positivo, muito menos pela minha presença, mas, pela participação das pessoas, pelo interesse demonstrado. Quem sabe, vocês lançaram um embrião de maior união da classe nos objetivos, a partir de agora, dentro de uma concorrência, que não quer dizer inimizade. É possível ser concorrente e buscar objetivos comuns, como informar bem, melhorando ainda mais a comunicação de massa em Itaituba.
JC – Um encontro como esse pode servir para despertar nos profissionais o interesse por estarem sempre atualizados, de lerem mais e de se prepararem cada vez melhor para fazer seu trabalho?
Dutra – Eu não tenho nenhuma dúvida, até pelo nível de participação que eu vi, que foi o maior dessas jornadas que eu tenho participado, com gente de todas as mídias presente. Eu acredito que um percentual bem alto pareceu ter ficado muito entusiasmado em ler mais, conhecer melhor aquilo que faz, não ficar apenas na rotina superficial do dia-a-dia, mas, compreender a essência do que faz e a responsabilidade que é ser um comunicador público. Eu conversei com diversos colegas que me perguntaram nomes de autores que gostariam de ler para aprimorar o conhecimento da essência do jornalismo, da comunicação.
JC – Estabelecendo-se um comparativo com Santarém, como está o nível do trabalho feito pelos profissionais de comunicação de Itaituba?
Dutra – Creio que os profissionais desses dois municípios estão mais ou menos em pé de igualdade. Santarém é um centro um pouco maior, com uma concorrência bem mais acirrada, onde as pessoas se espelham muito nos programas nacionais. Especialmente o pessoal de TV. Da mesma forma, não vejo grande diferença entre essas duas cidades e Belém. Ao contrário! Tenho assistido a reportagens em Belém, mandadas por municípios do interior do Estado que nada deixam a dever àquelas feitas por repórteres lá da capital. Às vezes são até melhores.
JC – O fato da maioria dos veículos de comunicação estar atrelada a algum grupo político dificulta a ação dos jornalistas, impedindo-os de fazerem um bom trabalho?
Dutra – Isso aí é uma questão nacional e eu diria até mundial. Eu não vejo porque um grupo de comunicação, uma empresa, ou um empresário do meio não possa ter sua paixão partidária ou sua preferência política. Desde que não deixe de fazer jornalismo, desde que seu telespectador, ouvinte ou leitor seja informado do andamento da campanha e que seja alertado de que torce por esse ou aquele grupo. Com esse tipo de diálogo entre o comunicador e o destinatário da sua notícia não há grande problema. Não pode haver interferência na imparcialidade, na busca da boa informação, na honestidade e assim por diante.
JC – Até que ponto os profetas catastróficos têm razão quando apregoam que a Internet vai acabar com a imprensa escrita?
Dutra – Eu não vejo este perigo. Os profetas existem há mais de cem anos, na medida que os meios de comunicação foram evoluindo. Desde o século passado, quando surgiu a fotografia, eles disseram que a pintura e as artes plásticas iam acabar porque a Natureza seria retratada fielmente pela máquina fotográfica. Quando a televisão surgiu disseram que o rádio ia acabar. Quando o jornal diário apareceu falaram que o livro ia acabar e assim por diante. E nada se acabou. Pelo contrário! Tudo evoluiu, porque uma mídia termina complementando a outra. Agora, as mudanças, ultimamente, têm sido rápidas e cada mídia tem que encontrar o seu lugar. Eu não vejo como o jornalismo da Internet possa acabar com o jornalismo impresso, até por uma questão operacional. Não se pode ficar horas na frente do computador lendo notícias, quando você tem oportunidade de pegar o jornal que lhe dá uma visão completa do trabalho e muito mais comunidade para ler onde você quiser. Portanto, a Internet tem a sua linguagem, sua dinâmica própria de antecipar os fatos. Já o jornalismo impresso tem que encontrar o seu lugar porque ele não pode ficar repetindo o que a Internet está dizendo, pois se assim for ele vai realmente ter problemas. O jornal impresso tem um grande desafio que é a exclusividade, a matéria discutida em profundidade e não repetir o que todo mundo já sabe. Repetir pode, mas com novos ângulos, com aprofundamento, novas questões, etc... Assim o jornal impresso terá sempre o seu lugar.
JC – O Jornal do Comércio agrade por você ter aceitado o convite para participar dessa jornada de comunicação, que para nós foi histórico...
Dutra – Eu é que agradeço, porque quando eu vou para essas jornadas eu acho que eu lucro tanto ou mais do que as pessoas que participam, pois é uma oportunidade de me reabastecer com pessoas que ainda não conhecia, vivendo novas experiências. É realmente muito enriquecedor para mim participar desse tipo de evento. Geralmente, desses encontros eu levo muita coisa para sala de aula, seja em Santarém ou em Belém.
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