sábado, setembro 01, 2007

Crédito consignado é bom mesmo para os bancos

A propaganda diz que é bom para o trabalhador. O governo chama de ação social para estimular a economia pessoal e familiar dos servidores. Mas a história mostra que a relação de amor e ódio entre trabalhadores e empréstimos consignados é um negócio bom mesmo só para os bancos. Enquanto eles lucram milhões por ano, do outro lado cresce a fila de endividados que, não raro, desconhecem completamente o momento em que começaram a dever e, o pior, não têm a mínima idéia de quando vão parar de pagar.
Em Itaituba existem diversas representações desses bancos que não têm agências nesta região, além dos bancos oficiais que trabalham com crédito consignado. Já houve alguns problemas que foram parar na polícia. Mas, o negócio continua prosperando, enquanto aposentados, pensionistas e servidores públicos continuam se endividando. Os comerciantes de Itaituba reclamam que parte do dinheiro que deveria circular todo mês está sendo retirado para o pagamento das parcelas dos empréstimos. O movimento no comércio, que era bom até o dia 10 ou 12 de cada mês, em agosto não passou do dia 8. Depois disso, as vendas despencaram.
No Pará, a maioria dos endividados, 80%, são funcionários públicos estaduais, federais e municipais, que, 'beneficiados' pela estabilidade funcional, são os principais alvos das 'facilidades' de crédito descontado em folha ou direto em conta corrente. Regulado em 2003 pelo governo federal para aquecer o consumo, o crédito consignado saiu de R$ 11 bilhões em junho de 2004 para R$ 48 bilhões em dezembro de 2006, um crescimento de 46,7%. No Pará, os números não são menores.
O coordenador geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Pará, Agnaldo Silva, diz que os empréstimos são um poço sem fundo e que a culpa é do governo, que achatou os salários e não deu esperanças de reajustes para os trabalhadores. 'Só é bom no dia que vai receber o empréstimo. Não conheço ninguém que não se arrependeu', disse. O coordenador jurídico do Sindicato, Cedício Vasconcelos, diz que há casos de servidores que sequer receberam o empréstimo e mesmo assim são descontados. É o caso de um militar que, em abril do ano passado, recebeu um telefonema de um suposto funcionário do Banco do Brasil avisando que havia R$ 1.200,00 na conta que, se não fossem descontados, seriam recolhidos. O aposentado foi ao caixa eletrônico, mas, quando passou o cartão, o terminal apagou sem liberar o dinheiro. 'Voltei pra casa desconfiado de que era fraude'. O pior foi ouvir do gerente que a dívida teria que ser paga em 24 meses. 'Desde abril, eles descontam R$ 108 da minha conta'.
Bancos se banqueteiam com lucros exorbitantes - Hoje em dia, nenhuma instituição financeira, por maior que seja ela, pode viver sem o crédito pessoal. Em todas, os empréstimos consignados representam lucros exorbitantes e uma maneira de movimentar o dinheiro dos correntistas. Outro interesse dos bancos é o chamado 'nível de reciprocidade'. Isso significa que, para conseguir juros menores e outras 'vantagens' nos empréstimos, o servidor deve contrair serviços do banco, como seguros, cartões de crédito, cheque especial, títulos de captação, consórcios e outros, sob os quais invariavelmente incidem taxas, taxas e mais taxas.
Apesar dos problemas, o mercado aponta para o crescimento dos consignados. O Banco do Brasil, por exemplo, tem metas ambiciosas e se orgulha de ter R$ 1 bilhão de empréstimos em junho de 2004 e chegar a R$ 8,2 bilhões até dezembro de 2007, um crescimento de 101,5% ao ano. O Banpará também deve aumentar sua carteira com a volta, nos próximos meses, do empréstimo consignado em folha, suspenso desde 2001 porque alguns servidores deviam tanto que não tinham mais salário. A verdade é que o governo federal, mais uma vez, trabalhou em favor do segmento econômico que nada tem a reclamar, que é o segmento bancário. Isso vale para o Brasileiro inteiro.

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