No entanto, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, aumentar a oferta de combustível tende a reduzir o preço, porém, importar diesel da Rússia, país alvo de sanções econômicas das potências ocidentais, pode ter um custo alto para o Brasil.
Há duas semanas, ele já havia afirmado que a possibilidade existia e que o tema havia sido tratado em uma conversa telefônica com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ontem, porém, foi mais enfático, dizendo que a possibilidade é consequência de sua viagem a Moscou, pouco antes da invasão da Ucrânia pela Rússia.
- Está quase certo um acordo para comprarmos diesel bem mais barato da Rússia. Onde a Petrobras, alguns, compravam mais caro — afirmou Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, onde voltou ao tema mais tarde.
Alinhamento indesejado
O advogado Fábio Pimentel, sócio do escritório Pimentel e Aniceto Advogados, diz que, legalmente, não há impedimento na importação em si. Porém, ao transacionar com a Rússia neste momento, o Brasil acaba explicitando um alinhamento econômico enquanto outros parceiros comerciais do país estão impondo embargos ao país. O melhor, diz o jurista, seria buscar alternativas neutras.
Bolsonaro defendeu a medida afirmando que o país importa cerca de 30% do diesel consumido e que é preciso importar de quem está vendendo mais barato e não de quem pratica preços maiores. A aquisição seria feita pela Petrobras, que compraria o combustível russo por meio de traders (comercializadoras), segundo uma fonte do setor. Procurada, a companhia não se manifestou.
Operação não é simples
Segundo Sérgio Araujo, presidente da Abicom, associação dos importadores, o Brasil não importa diesel da Rússia atualmente. Para colocar a operação de pé, seria necessário vencer dificuldades como o valor do seguro da carga e até mesmo a forma de pagamento, já que o sistema bancário russo está parcialmente desconectado dos sistemas internacionais que utilizam o dólar como moeda de troca.
Atualmente, a maior parte do diesel importado pelo Brasil vem do Golfo do México, por uma questão de logística e menor custo de transporte. Porém, desde o início da Guerra na Ucrânia, a oferta de diesel no mercado vem se tornando mais restrita. Hoje, o estoque de diesel no país, sem considerar importações, seria suficiente para abastecer o mercado por apenas 48 dias.
Na avaliação de integrantes do governo, o Brasil deve ser livre para fazer negócios com o mundo todo. Esse ponto é lembrado por Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio. Ele destaca que o governo brasileiro já deixou claro que não apoia sanções contra a Rússia, portanto não vê risco na operação:
- O Brasil não está apoiando as sanções contra a Rússia. Não faz sentido não se alinhar com a Europa e deixar de comprar. Mas não acho que, se comprar (petróleo russo), vai ter algum efeito sobre o alinhamento dos preços com o mercado internacional.
A restrição na oferta de diesel no segundo semestre é um fenômeno global. No Brasil, coincidiria com o período da safra agrícola, o que poderia ter impacto sobre os preços dos alimentos.
Além disso, é o combustível usado no transporte público. Uma crise por escassez de diesel a menos de três meses da eleição é tudo que o governo busca evitar no momento. Na avaliação de fonte da área diplomática, o abastecimento do produto é prioridade total e qualquer erro poderia ter consequências graves para o governo em ano eleitoral.
No primeiro semestre, o país aumentou em 91,8% suas importações da Rússia, de acordo com dados do Ministério da Economia. Do total de itens comprados daquele país, 77% são adubos e fertilizantes, que registraram alta de 172% nas aquisições.
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