Blog do jornalista Manuel Dutra
No último dia 27 postei no facebook o texto que segue, com o título Futebol paraense ou futebol de Belém? Entre os diversos comentários, selecionei três, postados pelos jornalistas, radialistas e cronistas Gerson Nogueira (de Belém), Jota Parente (de Itaituba) e Ormano Sousa (de Santarém).
Esta matéria vai como homenagem ao Pedro Moreira, ídolo do futebol paraense, no São Raimundo e no Remo. Faleceu esta manhã em Belém.
Belo confronto de pontos de vista, um diálogo que sadiamente extrapola as quatro linhas dos gramados, já que o futebol, assim como todas as modalidades esportivas são acontecimentos sociais que não se resumem aos aspectos estritamente esportivos, mas se espraiam pela sociedade, às vezes promovendo a paz, às vezes, infelizmente, dando vez à violência.
A seguir, o texto que ensejou este diálogo, por mim postado no dia 27 de março. Na sequência os comentários:
Manuel Dutra: Futebol paraense ou futebol de Belém?
A rigor, pode-se falar de um “futebol paraense”? Vendo e ouvindo os cronistas esportivos da capital percebe-se nitidamente uma estrutura narrativa centrada nos clubes de Belém, como se viu hoje (27/03) no Bom Dia Pará, da TV Liberal.
Aprecio a competência e a performance do veteraníssimo Ivo Amaral, mas ele também não escapa ao centralismo narrativo, como se os clubes de Cametá, Marabá, Santarém, Tucuruí, Paragominas, etc., fossem equipes adversárias, de outro Estado, já que a narração e os comentários utilizam, por exemplo, uma espécie de “os nossos” contra “os deles”, embora não digam dessa forma, é claro.
À noite passada (26/03), o empate do Remo com o São Francisco, por exemplo, foi motivo de lamento dos cronistas da capital. Quando os times “de fora”, ou seja, do interior, levam a melhor, o lamento é maior. Então, existe um campeonato paraense ou um campeonato dual: de um lado estão Paysandu e Remo e de outro, “os de fora”? Sim, são de fora de Belém, mas são de dentro do Pará, pelo menos do ponto de vista institucional. Certa vez o ex-governador Hélio Gueiros escreveu na sua coluna dominical no Diário do Pará, em relação a esse tratamento aos clubes interioranos: “E ainda tem gente que se queixa porque o interior quer se separar de Belém”, referindo-se aos movimentos separatistas.
Os comentários:
Gerson Nogueira - Jornalista, cronista esportivo em Belém e membro do Conselho Editorial do jornal Diário do Pará:
Concordo em parte, Manuel Dutra, com as observações. Há de fato uma tendência a esse tom lamentoso, mas vejo isso muito mais como manifestações de compartilhamento com as maiores torcidas, na medida em que você se dirige a um público maior. É, por exemplo, o mesmo tratamento que é dado no Rio a Madureira, Bonsucesso, S. Cristóvão, América, Bangu etc. Em São Paulo, com Portuguesa e Juventus. Quando acontece de tirarem pontos de um "grande" a análise se concentra mais no estrago sofrido pelos times mais populares.
Digo isso porque observo esse tratamento - já tive essa atitude também, admito - em relação à Tuna, que é tradicional e é da capital também. Como interiorano que sou, garanto-lhe que o tratamento diferenciado não é de natureza essencialmente geográfica. Aliás, você me deu ideia para uma coluna. O tema é interessante. Abraços.
José Parente de Sousa, Jornalista, radialista e cronista esportivo em Itaituba:
Dutra, como você bem sabe, comecei a atuar na crônica esportiva, nos idos de 1971. De lá até aqui já vivenciei muita coisa, incluindo esse tratamento que é muito acentuado nas narrações esportivas das emissoras de rádio da capital e nos programas esportivos das TVs. Ontem eu estava ouvindo o jogo do Remo contra o São Francisco. Na hora do gol do empate do time de Belém, o repórter de campo mais parecia um torcedor ferrenho do Remo. Ele chegou a dizer: "dá pra virar, Remo". Com você disse, parece que o S. Francisco era um time do Amazonas, estado com o qual sempre houve grande rivalidade. Faz tempo que é assim.
Ormano Queiroz de Sousa, professor e radialista em Santarém:
Sou leigo em futebol, mas acompanho as informações e também pude perceber - como em outras tantas vezes em situação dessa natureza - que só houve lamentação pelo fato de o Leão da capital ter empatado com o Leão do interior. Por que sempre o interior, a periferia tem de ser inferiorizados? De qualquer forma isso nos serve de reflexão também quando das vindas de outras equipes de outras regiões/municípios. Tenho percebido o mesmo procedimento.