segunda-feira, maio 23, 2022

Com subida da covid no Brasil, especialistas recomendam uso de máscaras

Pesquisa conduzida pela Abrafarma revelou que positivos de testes rápidos feitos na primeira quinzena deste mês estão 54% acima do total registrado em abril. Dados do Ministério da Saúde confirmam tendência

Depois de um respiro com o afrouxamento das restrições sanitárias, o Brasil tem apresentado nova alta de casos da covid-19. Os números subiram em janeiro, com a maior circulação de pessoas nas festas de fim de ano, caíram em março e, agora, voltam a crescer. Há ainda um problema que pode agravar a situação: a subnotificação de casos em razão do amplo uso de autotestes adquiridos em farmácias.

Uma pesquisa conduzida pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) revelou que positivos de testes rápidos feitos na primeira quinzena deste mês estão 54% acima do total registrado em abril. Dados do Ministério da Saúde confirmam a tendência. Na última terça-feira (17/5), a pasta divulgou um levantamento mostrando aumento de 28% na média móvel de registros de casos.

Esse movimento tem chance de ser ainda mais significativo, já que pode ser mascarado pelos autotestes — são 31 kits aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Acontece que os resultados desse tipo de exame não precisam ser notificados às autoridades, de modo que não são incluídos nas estatísticas.

“O aumento de casos neste momento já era esperado, porque a gente suspendeu as medidas que atuavam para tentar a redução da transmissão. Com isso, há uma redução dessa força de contenção, e o vírus ganha espaço”, afirma o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília Jonas Brant. Para ele, os testes realizados em casa, “sem dúvida, dificultam o entendimento da situação”, porque perde-se a precisão do volume de casos leves, estágio em que muitos optam por não buscar atendimento.

A avaliação é confirmada por Marcelo Gomes, coordenador do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Existe a recomendação de que as pessoas que fizerem o autoteste e tenham resultado positivo busquem atendimento, até para ter as orientações adequadas e para a própria notificação de casos, que é feita pelo profissional de saúde. Mas a gente sabe que isso, infelizmente, não vai ser a rotina.”

Na visão do especialista, o cenário preocupa e atrapalha o acompanhamento do desempenho real da doença, mas não impede a atuação dos profissionais. Ainda, os autotestes dão mais agilidade à população, já que o indivíduo pode fazer o autoisolamento sem depender da exposição em um ambiente vulnerável.
Subnotificação

Também não é possível bater o martelo sobre o quanto a subnotificação dos casos afeta a atuação dos gestores ou a percepção da população. Isso porque o autoteste não dá direito a dispensa para trabalho ou escola, por exemplo. Assim, grande parte dos positivados precisa recorrer aos serviços de saúde para oficializar o diagnóstico.

“Esse teste tem um grande objetivo que é isolar as pessoas que estejam com sintomas brandos, ou mesmo assintomáticas, que encontram resultado positivo e vão evitar contato com outras pessoas. Como a grande maioria de quem faz esse autoteste precisa de uma comprovação do diagnóstico e uma avaliação médica para apresentar no trabalho ou na escola, acredito que essa subnotificação não seja tão relevante”, argumenta o infectologista Hemerson Luz.

“Certamente que a subnotificação pode ocorrer. Uma forma de contornar isso é de forma educativa, orientar as pessoas que estão fazendo o teste que notifiquem o resultado. Isso pode ser feito por campanhas dentro das farmácias, ou na própria embalagem do autoteste”, completa.

Fonte: Correio Braziliense

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