segunda-feira, fevereiro 28, 2022

BC russo diz que situação é dramática e tenta evitar asfixia e quebras financeiras

Bancos ficam sem dinheiro, ações no exterior de principais empresas e rublo derretem, juros disparam

O preço da ação do Sverbank negociada na Bolsa de Londres caiu mais de 73%. É o maior banco russo e o maior alvo de sanções do "Ocidente". Sua subsidiária austríaca, o Sverbank Europe, "está falindo ou deve falir" por causa de saques em massa, segundo comunicado do Banco Central Europeu. A Bolsa de Moscou foi fechada para a maior parte de seus negócios e não deve abrir nesta terça-feira (1°).

Empresas e investidores passaram a ser obrigados a vender moeda "forte" (dólares, euros etc.) ou foram impedidos de vender ativos para sair do país. A partir desta terça-feira, russos não podem mais fazer remessas ou empréstimos para o exterior, decidiu também Vladimir Putin, que chamou essas medidas defensivas amargas de "contra-sanções". No conjunto, trata-se de controle de fluxo de capitais, como se diz no jargão: providências típicas de países em crise externa violenta, quase asfixia.

"A situação da economia russa mudou dramaticamente" por causa das "sanções impostas por estados estrangeiros", disse a presidente do BCR, Elvira Nabiullina a jornalistas. É "totalmente anormal". Em estudo detalhado sobre os efeitos das sanções, o Institute of International Finance acredita que as retaliações vão provocar uma queda do PIB russo neste ano, entre outras previsões sombrias.

Como a população e empresas correram para sacar dinheiro aos montes desde sexta-feira, os bancos "estão com um déficit estrutural de liquidez" (têm recursos, não estão insolventes, mas não têm caixa, grosso modo), disse ainda Nabiullina na segunda-feira de pânico. Os russos podem ter depósitos denominados em moeda estrangeira —eram cerca de 20% do total de depósitos bancários de pessoas físicas (26%, no caso das empresas), em dezembro, segundo estatísticas do BCR.

Sem confiança de que haverá dólares ou euros suficientes, a desvalorização do rublo ganha mais impulso (já vimos variante disso na Argentina): trata-se de uma corrida bancária (saques) e uma corrida contra o rublo (venda da moeda nacional).

No final de semana, EUA e aliados bloquearam o acesso do Banco Central da Rússia (BCR) às suas reservas internacionais. Ainda assim, como a venda ou o pagamento das principais exportações russas (energia, grãos) não foram objeto de sanções, a Rússia ainda pode sobreviver com o "dinheiro do mês" que entra por essa via e, talvez, até estabilizar o mercado por algum tempo.

Os mercados de ações e de dívida caíram nos Estados Unidos e nas principais praças da União Europeia, mas sem tumulto mais anormal. O S&P 500, o índice mais representativo de ações dos EUA, caiu 0,24%. A manutenção do fornecimento de energia russa para a Europa e a expectativa de que as taxas de juros subam em ritmo mais moderado (para combater a inflação) tem segurado tombos maiores. Na semana passada, depois de tombos, os mercados recuperaram as perdas. Neste início de semana, voltou ao vermelho.

Na Rússia, porém, a segunda-feira do BCR e do Ministério das Finanças foi ocupada pela tentativa de evitar colapsos e quebras bancárias.

Apesar do pânico, da alta de juros e da desvalorização do rublo, a Rússia ainda pode ter acesso a parte dos US$ 643 bilhões de suas reservas (as que não estão bloqueadas por EUA, União Europeia, Reino UnidoCanadá Japão). De resto, pode fazer transações financeiras que se contornem parte das limitações impostas pelo "Ocidente". Por fim o dinheiro obtido com a maior parte de suas exportações não está sujeito a sanções. Em janeiro, a Rússia teve superávit (exportou mais do que importou) de US$ 21,4 bilhões, na maior parte dinheiro obtido com a venda de petróleo, gás, grãos e minérios.

Pela manhã, o BCR elevou a taxa básica de juros de 9,5% para 20% a fim de evitar desvalorização maior do rublo e corridas dos ativos e bancos russos. Um dólar chegou a custar 118 rublos, fechando a 97, mas com mercados financeiros fechados e restrições a negociações, tais preços são pouco representativos. A alta de juros é uma tentativa de tornar depósitos bancários atrativos, proteger a poupança das famílias da desvalorização e evitar inflação

Além do mais, o BCR tomou medidas heroicas a fim de evitar uma seca de empréstimos domésticos. Obrigou que exportadores vendam obrigatoriamente 80% sua moeda "forte" (dólares, euros etc.). Sem moeda de aceitação internacional, a Rússia não teria como pagar importações e outros compromissos internacionais.

Reservas internacionais são uma poupança financeira de um governo em moedas "fortes", aceitas no mercado internacional (dólar, euro, libra, iene, aos poucos o renminbi chinês). Em geral, são compostas na maior parte de aplicações em títulos da dívida americanos ou europeus (são "empréstimos" para esses governos).

Fonte: Folhapress

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