sábado, janeiro 22, 2022

A Gritaria Tardia, Depois da Lama Derramada

Agora que a água lamacenta que corre no leito e nas margens do Rio Tapajós chegou a Santarém, afetando e ameaçando comprometer o paraíso turístico de Alter do Chão, ouvem-se gritos assustados e surpresos de todos os lados.

Não deveria ser assim, porque com tantos alertas anteriores que foram feitos, essa atual fase de destruição do nosso rio é a crônica de uma morte anunciada. Ou será que todo mundo esqueceu das muitas matérias que foram feitas a respeito da garimpagem de ouro na região a origem do Tapajós e suas consequências desde os anos 1980?

Não faz tanto tempo assim, que foram mostradas imagens aéreas das águas barrentas do rio Tapajós passando pela frente da cidade de Aveiro, mostrando a diferença da coloração entre essa parte que descia e a parte que ainda preservava sua cor original. Chegar até Santarém, passando por Alter do Chão, seria questão de tempo.

Em Itaituba ninguém jamais se preocupou com isso, porque desde os tempos do começo da garimpagem de ouro no Tapajós, as pessoas vieram e continuam vindo para cá, com o único objetivo que tem em suas mentes, que é ganhar dinheiro. Meio ambiente não representa a menor preocupação para essas pessoas. Pelo contrário: a preocupação é saber se certas decisões que são tomadas pelos órgãos ambientais não vão prejudicar quem quer investir sem nenhuma preocupação com o que poderá acontecer.

O Rio Tapajós já era emporcalhado antes disso, pelas águas pluviais que descem pelas ruas e travessas das cidades, levando todo tipo de sujeira, além das águas levadas pelos esgotos. Raramente se ouve alguém falar a respeito desse problema.

Todos têm um pouco de culpa, tanto a sociedade civil, quanto os poderes constituídos da República, de acordo com a capacidade de ação de cada um, incluindo o Ministério Público Federal, que tratando das providências tomadas pelo órgão, no passado e no presente, veio a público para tentar fazer alguma coisa, mas, mesmo o MPF demorou muito a agir, embora isso não diminua a responsabilidade, ou irresponsabilidade dos outros agentes públicos e privados que deveriam estar tratando dessa questão, sem tréguas.

Antes do rompimento da barragem de Brumadinho destruir o que restava do Rio Doce, em uma de minhas viagens de motocicleta, tive oportunidade de passar ao lado daquele rio por mais de uma vez. Confesso que as imagens daquelas águas lamacentas ficaram na minha cabeça. Eis que agora vejo a coloração do Rio Tapajós muito parecida com a que vi no Rio Doce, no Espírito Santo e em Minas Gerais.

Ganância e bom-senso não combinam, e nesse caso do Rio Tapajós, a ganância venceu o bom senso.

Jota Parente

Nenhum comentário:

Postar um comentário