quinta-feira, agosto 19, 2021

O Brasil não é uma republiqueta de bananas

Jota Parente
  O golpe militar de 1964 contou com   expressivo apoio da Igreja Católica, que   era bem mais forte do que hoje, pois as   igrejas evangélicas cresceram muito no   decorrer desses 57 anos. Havia um clamor   popular e houve apoio dos Estados Unidos, uma vez que a ameaça do Comunismo ser   implantado no Brasil pairava no ar.  

          Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe, também, por parte de segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da sociedade.

          Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. Foi o tempo em que a Reforma Agrária mais avançou no país, o que foi outro motivo para os donos de grandes propriedades apoiarem qualquer coisa que fosse contra.

          Fazia apenas 15 anos que Fidel Castro havia tomado o poder e implantado uma ditadura de esquerda em Cuba, com apoio irrestrito da União Soviética, o que representava uma gigantesca preocupação para os norte-americanos, dada a proximidade da famosa ilha do Caribe em relação ao território da terra do Tio Sam.

          Assim como Simón Bolivar foi o maior libertador da América Latina, e ele lutava para que todos tivessem liberdade, não, para implantar ditaduras locais, Che Guevara transformou-se no cavaleiro da foice e do martelo, lutando para implantar o Comunismo em países sul-americanos, embrenhando-se na selva, a começar pela Bolívia, onde a carreira do médico revolucionário argentino terminou.

          Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. O golpe militar pôs um fim nisso.

          A ditadura enfrentou resistências, matou muita gente, e nesse meio tem gente que desapareceu para sempre. Até hoje isso rende processos na justiça, que também trata dos casos de tortura a presos políticos. Bastava discordar do governo para entrar na mira.

          O comportamento do governo na ditadura militar no que diz aos direitos humanos foi o mais lamentável possível. Ninguém, a não ser os próprios militares, tinha os seus direitos garantidos. Todavia, nunca alimentei nenhuma ilusão sobre a maioria dos movimentos de guerrilha que combateram o regime de então. Se tivessem vencido, o Brasil estaria alinhado a Cuba e à União Soviética. Trocar-se-ia uma ditadura de direta por uma de esquerda, que talvez viesse a ser até mais sanguinária. O resto da história como seria se isso tivesse ocorrido, o leitor já pode imaginar.

          Depois disso, o tempo em que a política no Brasil mais causou preocupação quanto a uma guinada rumo ao Comunismo foi quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder. A quase expedição de um decreto presidencial no governo de Dilma Rousseff arrepiou os cabelos de muita gente, não somente de quem é escancaradamente de direita. Era o famigerado Decreto número 8.243, de 23 de maio de 2014, que pretendia instituir a Regulação dos Meios de Comunicação, que foi denunciado e abortado.

Chamado por um editorial do Estadão de “um conjunto de barbaridades jurídicas” e por Reinaldo Azevedo de “a instalação da ditadura petista por decreto”, o Decreto 8.243/2014 foi editado pela Presidência da república em 23/05/14, tendo sido publicado no Diário Oficial no dia 26 e entrado em vigor na mesma data. Entender qual o real significado do Decreto exige ler pacientemente todo o seu texto, tarefa relativamente ingrata.

          O PT quis se perpetuar no poder usando artimanhas que terminaram não dando certo porque houve reações. Com dificuldade para emplacar o seu projeto de poder, e com o apoio de diversos partidos, alguns dos quais hoje fazem parte do grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, além de outros que são oposição, o PT resolveu atacar os cofres. E fez isso como ninguém tinha feito antes.

          Dos 15 partidos representados na Câmara em 2003, 11 apoiavam o governo. Esse grupo reunia 376 deputados, ou cerca de 73% da Casa. Eram eles: PT (90 deputados, PMDB (77), PTB (52), PP (49), PL (43) PPS (21), PSB (20), PC do B (10 deputados), PSC (7), PV (6) e PSL (1). Desses, o PP e o PTB estão com a corda toda no governo Bolsonaro, enquanto o MDB faz uma oposição meia boca, esperando a hora de voltar a fazer parte de algum governo.

          Perguntaram ao presidente Jair Bolsonaro porque ele negociou com o Centrão, ele respondeu que é o que ele tem para governar, ou desgovernar, pois gasta a maior parte tempo discutindo teorias conspiratórias. Quando não tem, ele inventa uma, mas, a sua preferida é a ameaça do Comunismo ser implantado no país. As instituições tem se mostrado fortes, tanto para repelir as sandices do presidente, quanto para não permitir que a democracia seja derrubada por nenhum regime de exceção.

          Pelo quadro que se apresenta no momento, o Brasil parece bem estruturado para sobreviver a esses solavancos e projetos de aventuras políticas, apesar de ser triste ver uma parte da sociedade brasileira apoiando as aventuras do presidente, para quem não houve ditadura e para o qual a tortura pode ser justificada. Seu maior sonho de consumo é comandar o país com mão de ferro, com o chicote na mão.

          A maior parte da sociedade brasileira repele qualquer coisa que pareça tentativa de romper o estado de direito. Nem com o alto comando do Exército Bolsonaro conta para botar tanques de verdade nas ruas, daqueles que não ficam soltando fumaça e ridicularizando a imagem do Brasil no exterior. A mesma sociedade que apoiou o golpe de 1964, reage de forma totalmente diferente hoje. Não há clima para golpe. O Brasil não é uma republiqueta de bananas. Tem um nome a zela no cenário mundial, e a maioria dos brasileiros sabe disso.

Como diz o professor de História, Leandro Karnal, quem defende a ditadura, se for jovem, deve ter faltado às aulas de História, por ignorado fatos, e se for velho, deve estar sofrendo com problema de esquecimento, porque ditadura nenhuma presta, tanto faz se é de direita ou de esquerda. Eu quero distância.

          Jota Parente 

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