segunda-feira, fevereiro 01, 2021

Como Portugal passou de exemplo ao caos na segunda onda da Covid-19

 LISBOA — Depois do medo, o relaxamento. Essa transição, tanto da população portuguesa quanto do governo do país, criticado por relutar em tomar medidas, é um dos motivos apontados para explicar por que Portugal passou de exemplo ao caos no combate à pandemia de coronavírus. Na última semana, foi o país com mais novos casos diários (1.083,6) e mortes (18,2) por milhão de habitantes, segundo a Universidade Johns Hopkins. 

Na Europa, o Centro Europeu de Controle de Doenças revelou que o país também está na frente no ranking, com 1.429,43 casos de Covid-19 por cem mil habitantes e 247,55 óbitos por milhão de habitantes em 14 dias.

—Falhamos no coletivo, porque achávamos que só acontecia com os outros. Assim como no Brasil, também temos negacionistas que dizem que o governo exagera. E o governo poderia antecipar medidas. Ao menos as autoridades admitiram ter feito uma avaliação desalinhada com a realidade — explicou o médico Adalberto Campos Fernandes, professor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) e ex-ministro da Saúde, substituído em 2018 pela atual ministra, Marta Temido.

Com uma população de 10,1 milhões, Portugal foi um dos últimos países na Europa a detectar um caso de coronavírus, em 2 de março. Diante do horror logo ao lado, na vizinha Espanha, parte da população já tomava cuidados e quem pôde tirou os filhos da escola e ficou em casa espontaneamente antes do decreto de confinamento, em 18 de março. O vírus circulava pouco e havia 667 casos e duas mortes, contra 13,7 mil casos e 588 mortos na Espanha. A quarentena de 45 dias foi obedecida. Em 30 de abril, havia 22 mil casos e 989 óbitos (na Espanha: 24 mil mortos e 213 mil casos), e o Conselho de Ministros anunciou o fim das restrições: “Graças ao esforço dos portugueses (...) foi possível conter a pandemia.”

— Portugal teve a vantagem da aprendizagem pelo exemplo diante do desconhecido. As pessoas tinham medo, mas agora há relaxamento, fadiga e menor concordância — lembrou Fernandes.
Fonte: Reuters

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