sexta-feira, maio 22, 2020

A piada da vez somos nós, e não Portugal

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No domingo vi uma foto do presidente da República de Portugal, o professor e jornalista Marcelo Rebelo de Sousa, de bermudão, esperando na fila de um supermercado em Lisboa, de máscara, guardando a distância regulamentar e respeitando a fila. Nenhum segurança à vista. Um conservador muito educado e cordial, Marcelo tem 86% de apoio e confiança da população. Deu muita inveja.

Com 29.912 infectados e 1.277 mortos, Portugal está entre os países de menores índices de mortalidade por um milhão de habitantes no mundo. Um terço da Suécia, que tem a mesma população. 

É apavorante comparar ao Brasil, ainda em acelerada curva ascendente, porque temos 20 vezes mais habitantes do que Portugal, testamos 20 vezes menos e estamos fazendo o contrário do que eles fizeram. Lá eles já estão saindo do isolamento, enquanto aqui o pior está só começando e o antagonismo político, chamado de guerra por Bolsonaro, comanda o espetáculo macabro.

Em Portugal, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa, socialista, fizeram a coisa certa na hora certa, guiados pela Ciência: direitistas, socialistas, comunistas e anarquistas se uniram para manter a população em casa e combater o inimigo de todos. Por isso Portugal é um dos primeiros países a sair do isolamento e retomar com segurança as atividades dentro do “novo normal”. Não foi graças à cloroquina ou qualquer droga milagrosa, mas ao isolamento social e à eficiência do sistema público de saúde. E à disciplina da população.

Tudo isso faz lembrar as velhas “piadas de português”, que naturalmente eram replicadas pelas “piadas de brasileiro” em Portugal, em que o mote é sempre a burrice e a estupidez, mas hoje se vê que a piada da vez somos nós. Chegamos ao ponto de desejar o que Chico Buarque e Ruy Guerra lançaram como uma maldição, no tempo da ditadura e do salazarismo:

“Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/ Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.”

Quem dera, Chico, quem dera.

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