domingo, abril 05, 2020

Governo do Estado culpa Jatene por atraso na obra do Hospital Regional de Castanhal, mas, não toca no assunto do HRT em Itaituba

Imagens feitas pela AGE mostram que a obra foi entregue inacabada. Fonte: Ana Célia Pinheiro (extraído do Diário Online) Governo do Estado corre contra o tempo para concluir o Hospital Regional de Castanhal (HRC) até junho próximo. A urgência se deve ao Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. 

É preciso ampliar a oferta de leitos para os pacientes do Nordeste do Pará, a segunda região mais populosa do estado, atrás apenas da Metropolitana. No entanto, há pedras no caminho: as trapalhadas do ex-governador Simão Jatene, na construção daquele hospital. As obras começaram em 2014 e consumiram quase R$ 118 milhões, mas Jatene não conseguiu concluí-las. O pior, porém, é que ele deixou tantos serviços por fazer que serão necessários mais R$ 52 milhões, para terminar o prédio.


Construção do Hospital Regional do Tapajós | Revista O Empreiteiro
Hospital Regional de Itaituba. Quando vai ser inaugurado?
Na Lavanderia, há paredes que terão de ser demolidas porque o espaço de circulação que foi deixado é tão estreito que não permite a passagem dos equipamentos necessários ao seu funcionamento, como é o caso de máquinas de lavar roupa e da calandra, que seca e passa, ao mesmo tempo, os lençóis hospitalares. E das chamadas “réguas de gases”, a tubulação e os equipamentos que permitem fornecer oxigênio aos pacientes, mas que não existem naquele hospital. E nos banheiros não há nem pias, boxes, chuveiros, ferragens ou vasos sanitários.

No entanto, o que custará mais dinheiro e levará mais tempo são os dois andares que existiam no projeto original da obra, mas que foram suprimidos porque o dinheiro acabou (e isso apesar dos quase R$ 118 milhões que foram gastos). Ainda mais impressionante é que há documentos indicando que a antiga administração da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) sabia que seriam necessários mais uns R$ 60 milhões para que aquele hospital fosse concluído. Tanto assim que chegou a pedir um parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para aditar o contrato em um percentual acima do limite permitido pela Lei das Licitações, que é de 25%, para obras de construção. Mas a PGE não topou.

Pior: apesar de saber que seria preciso uma nova licitação milionária para pagar tudo o que ainda faltava naquele hospital, a Sedop emitiu um documento, em 28 de novembro do ano eleitoral de 2018, atestando que todas as obras e serviços estavam concluídos e que o Consórcio Saúde Castanhal, responsável pela construção, executaria “todas as pendências” no prazo de 60 dias, o que, aliás, não ocorreu. Por “coincidência”, o candidato de Jatene havia perdido as eleições e o então governador tentava inaugurar aquele hospital de qualquer jeito, o que deixaria em maus lençóis o novo governador, que não teria como colocá-lo para funcionar. Quem barrou Jatene foi a Justiça: um juiz proibiu a inauguração, porque constatou que o hospital, de fato, não estava pronto.

No entanto, as trapalhadas de Jatene no Hospital de Castanhal não foram exceção: ele não concluiu nenhum dos 5 hospitais que prometeu reformar ou construir. Além disso, todas essas obras apresentam fortes indícios de irregularidades e defeitos de construção. O exemplo mais impressionante é o Hospital Público Santa Rosa, no município de Abaetetuba: Jatene jurou que a obra estava pronta, mas quando o novo governador, Helder Barbalho, foi visitá-la, em janeiro do ano passado, pouco depois de sua posse, constatou que, além de alagamentos, o hospital tinha até um poste de energia elétrica, que foi “esquecido” no meio de um de seus cômodos.

Investigação

Em janeiro do ano passado, a Auditoria Geral do Estado (AGE), o principal órgão de fiscalização do governo, abriu investigação sobre a construção ou reforma dos hospitais regionais de Castanhal, Tapajós (em Itaituba), Caetés (em Capanema) e dos hospitais Santa Rosa (em Abaetetuba) e Abelardo Santos (em Belém). As possíveis irregularidades detectadas foram tantas que a AGE enviou toda a documentação, ainda em junho do ano passado, aos ministérios públicos de Contas (MPC) e do Estado do Pará (MP-PA), que também abriram investigações.

São essas pilhas de documentos que contam a história das trapalhadas na construção do Hospital de Castanhal. Elas começaram no ano eleitoral de 2014, quando Jatene concorria à reeleição. A obra foi licitada à toque de caixa e o contrato de construção foi assinado, ainda naquele ano, com o Consórcio Saúde Castanhal, formado por várias construtoras. O contrato ficou em quase R$ 84 milhões e o prazo de execução era de 2 anos.

Como descobriu a AGE, em um Parecer Técnico, de março de 2018, a SEDOP diz que a construção daquele hospital foi iniciada apenas com um “pré-projeto de arquitetura”. A declaração vai ao encontro de um documento da Secretaria Estadual de Saúde (SESPA), pelo qual o projeto só foi aprovado no final de 2015. O fato, observa a AGE, contraria a Lei das Licitações, pela qual as obras só podem ser licitadas se tiverem um projeto básico já aprovado pela autoridade competente.

Além disso, já durante as obras, a SESPA resolveu fazer várias modificações no projeto arquitetônico. Com isso, o valor do hospital saltou para quase R$ 172 milhões (a preços de março de 2018), ou mais de 100% acima do preço inicial. Mas ele era financiado pela Caixa Econômica Federal e não havia dinheiro para isso. 

Assim, o então governo decidiu excluir dois andares e o setor de reabilitação, além de reduzir as vagas de estacionamento. Mesmo assim, o novo valor ficaria em R$ 152 milhões, o que ainda seria um aumento de 81,45% no preço inicial. No final, a antiga administração só conseguiu aditar a obra em 24,99%, o que a elevou para R$ 104,7 milhões. Com o reajuste contratual de quase R$ 18 milhões, concedido em 2017, o valor final acabou ficando em R$ 122,6 milhões, dos quais o Consórcio recebeu quase R$ 118 milhões.

LEITOS

Crise do coronavírus obriga Governo a agilizar obras

No ano passado, por recomendação da AGE, uma auditoria independente levantou os serviços e recursos financeiros necessários à conclusão do Hospital de Castanhal. Com base nisso, a SEDOP abriu licitação para a obra. Mas aí veio a pandemia de Covid-19. E, no último 16 de março, a SESPA pediu que a Sedop agilizasse a conclusão do hospital, já que os seus 160 leitos, dos quais 40 de UTI, serão fundamentais para atender os pacientes da doença.

A secretaria, então, pediu um parecer à AGE, que recomendou que a licitação fosse cancelada e que fosse feita uma dispensa licitatória, no valor estimado para a obra (R$ 52 milhões), em favor do Consórcio Saúde Castanhal. “Nós decidimos fazer essa dispensa, porque uma licitação desse porte poderia levar até um ano para ser concluída. E fizemos a dispensa em favor da investigada (o consórcio) porque a entrada de outra empresa retardaria a conclusão das obras, dificultando o uso emergencial desse hospital no combate ao coronavírus. O Nordeste do Pará tem uma clara carência de leitos para suportar a demanda que virá com o crescimento dos casos de Covid-19”, explicou o auditor-geral do Estado, Giussepp Mendes.

Contratos 

Ele enfatizou que todos os contratos assinados pelo Governo em função do combate à Covid-19 estão sendo disponibilizados a uma comissão de fiscalização formada pela AGE, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ministérios públicos Federal (MPF), Estadual (MP-PA) e de Contas (MPC), justamente para garantir transparência a todos esses processos e o bom uso dos recursos públicos. E fez, também, um alerta: “O fato de ser a mesma empresa investigada a executar a obra de Castanhal, não paralisa as investigações da AGE, que ainda estão em curso, e nem exime as empresas de responsabilização administrativa e judicial”.

Giussepp observa que providências semelhantes foram adotadas em relação ao programa Asfalto na Cidade: lá, também, foram detectados fortes indícios de irregularidades, mas o Governo fez acordos com as empresas, para que consertassem os defeitos e concluíssem as obras. No entanto, elas continuam sendo investigadas pela AGE. E, no último dia 26, o MP-PA ajuizou uma Ação Civil Pública contra duas dessas empresas e os ex-secretários da Sedop Pedro Abílio Torres do Carmo e Noêmia Jacob, ambos do governo de Jatene, pedindo que devolvam ao erário mais de R$ 122 milhões.

UTIS Inacabadas 

Em uma visita técnica, em 30 de maio do ano passado, a AGE constatou que até a UTI do Hospital de Castanhal ainda estava “no osso”, apesar de Jatene ter tentado inaugurar a obra 5 meses antes. Nas fotos da visita, que foram obtidas pelo DIÁRIO, veem-se os boxes individuais onde ficariam os leitos. Mas não há nem portas, réguas de gases (para o fornecimento de oxigênio aos pacientes), bancadas, tomadas, luminárias ou lavatórios e torneiras.

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