quarta-feira, março 25, 2020

Maia sugere que Bolsonaro mudou de postura por pressão de investidores da bolsa

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo SÃO PAULO e BRASÍLIA – O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse nesta quarta-feira durante reunião com governadores dos 26 estados e do Distrito Federal que governadores desviem do debate sobre manter ou não suas populações em isolamento social devido ao novo coronavírus

Para Maia, a discussão é resultado de pressão de investidores na Bolsa de Valores, que estariam frustrados com as perdas das últimas semanas.

— A gente tem que sair deste enfrentamento sobre abrir ou não abrir (empresas), sair ou não sair do isolamento, porque isso nada mais é do que a pressão de milhares de pessoas que aplicaram os seus recursos na Bolsa (de Valores) e acreditaram no sonho da prosperidade da bolsa com 150 mil pontos, e hoje ela está a 70 mil pontos, por vários problemas — disse o deputado, por meio de videoconferência.

De acordo com Maia, a pressão começou há “quatro ou cinco dias” e teria refletido na mudança do nível de adesão do governo federal às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), no que diz respeito às medidas de prevenção à Covid-19.

— A gente foi vendo parte do mercado caminhando pra isso. Eles são assim, eles vivem de estatística, mas todos nós que fazemos política vivemos das vidas. Então é isso que a gente tem que saber equilibrar, as vidas com os empregos — disse Maia.

Maia disse ainda que é preciso “sair desse enfrentamento” e que é preciso apresentar soluções a curto prazo para “garantir emprego e renda para os mais pobres” e “condições para que os Estados e municípios continuem funcionando”.

— Vocês sabem que o ambiente do Parlamento com o governo não é dos melhores, o que pudermos organizar em conjunto, facilita muito — afirmou Maia, aos governadores.O presidente da Câmara também falou, que nesse momento, os governadores precisam ser “objetivos”.

— Não adianta a gente trazer para este debate longo prazo. Precisamos discutir o curto prazo, garantir o emprego, garantir a renda dos municípios e dos estados, para que eles possam continuar funcionando. Emprego e renda para os mais pobres. A gente tem que tratar do curto prazo, daquilo que a gente consegue aprovar na Câmara.

Renda mínima

Por mais de duas horas, Maia ouviu as demandas dos governadores e defendeu a articulação, no curto prazo, de projetos prioritários de atenção à crise do coronavírus. O presidente da Câmara defendeu que se priorize a garantia de condições de vida e renda mínima aos mais vulneráveis e de renda para municípios e estados, além do emprego.

Defendeu também a edição de medida provisória que novamente preveja a suspensão de contratos de trabalho, mas garantindo a remuneração do seguro desemprego. Projeto anterior assinado pelo governo não previa compensação financeira para os trabalhadores e foi abortado após repercussão negativa.

A reunião dos governadores foi articulada pelo governador João Doria (PSDB), no dia seguinte ao pronunciamento mais recente do presidente Jair Bolsonaro, que defendeu na TV mudanças na política de isolamento por causa do avanço do novo coronavírus pelo país.

O presidente defende o isolamento apenas de idosos e grupos de risco, o que especialistas e infectologistas consideram medida arriscada, por ampliar a presença do vírus na população e o risco de sobrecarga à rede pública de saúde.

Os governadores pretendem discutir uma estratégia nacional de contenção do coronavírus sem flexibilizar o isolamento da população e aumentar o risco de propagação da doença.

Desde a noite de terça, governadores têm intensificado a articulação com representes do Legislativo e Judiciário, para discutir formas de minimizar os prejuízos do novo posicionamento do presidente ao enfrentamento da doença.

O Globo

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