quinta-feira, março 19, 2020

Atrito entre Eduardo Bolsonaro e embaixador chinês sobre coronavírus preocupa governo brasilei

O deputado federal Eduardo Bolsonaro Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS 21-8-19Teme-se que crise diplomática atrapalhe esforços do ministro da Saúde para que China ajude Brasil com equipamentos e insumos médicos

BRASÍLIA —  Em meio a uma crise sem precedentes no país, causada pela pandemia do coronavírus, integrantes do governo, incluindo pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro, reagiram com perplexidade e preocupação ao embate envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming. 

Uma das avaliações é que, ao abrir fogo contra a China, o filho do presidente da República poderá atrapalhar um intenso esforço diplomático desenvolvido pelo ministro da Saúde, Luiz Mandetta, para que o país asiático forneça equipamentos hospitalares, como respiradores artificiais e máscaras, usados para a prevenção da doença e no tratamento de pessoas internadas em estado grave.

Na quarta-feira, Eduardo Bolsonaro usou uma rede social para acusar a China de ser responsável pela pandemia. Comparou a crise ao acidente nuclear em Chernobyl, na antiga União Soviética. 

O embaixador repudiou a publicação, exigiu um pedido de desculpas e, em um tom raramente visto no meio diplomático, retuitou uma postagem em que a Embaixada da China disse que o deputado contraiu um "vírus mental" em sua última viagem aos Estados Unidos.

A China é um dos poucos países — talvez o único — que se ofereceu para ajudar o Brasil nessa questão do coronavírus. Essa posição de Pequim é mais do que bem-vinda pelo seguinte motivo: embora o governo brasileiro tenha reduzido a zero as tarifas de importação de luvas, máscaras, termômetros, respiradores artificiais, entre outros itens, 48 nações produtoras proibiram a saída desses equipamentos, preocupadas em proteger seus povos.

De acordo como uma fonte ligada ao Palácio do Planalto, essa atitude do deputado tem a ver com sua aproximação com a extrema direita americana, que também vem acusando agressivamente a China pela pandemia e falando em "vírus chinês". Isto porque, do ponto de vista das relações entre o Brasil e a China, tal comportamento "não faz qualquer sentido".

Essa fonte lembrou que o embaixador chinês fez gestões junto a Pequim para que o Brasil furasse a fila de países que estavam por repatriar os seus cidadãos. 

No mês passado, quando Jair Bolsonaro disse que não teria como retirar os cidadãos brasileiros de Wuhan — cidade completamente isolada em regime de quarentena — e passou por uma saia justa por causa da divulgação de vídeos de brasileiros pedindo socorro, coube ao diplomata convencer as autoridades de seu país para que deixassem que um avião da FAB chegasse antes das aeronaves de outros países para a evacuação.

Exportações agrícolas

Outra fonte de preocupação parte dos ministérios da Agricultura e da Economia. Logo cedo, a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, conversou com outros ministros do governo para uma avaliação do cenário. Na quarta-feira, a ministra havia iniciado um diálogo com a China, que estava interessada em retomar compras de produtos brasileiros excedentes. Essa retomada é importante para ajudar a aquecer a economia do Brasil.

— Estamos aguardando uma resposta do Itamaraty. Tudo vai depender de como a área diplomática vai agir para apagar esse incêndio — disse uma fonte da Agricultura.

O Globo

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