segunda-feira, novembro 11, 2019

Por que Evo Morales caiu e Nicolás Maduro continua?

evomaduro1 O presidente da Bolívia, Evo Morales, não aguentou a pressão após tentar fraudar as eleições presidenciais para se eleger pela quarta vez consecutiva (segundo afirmou a Organização dos Estados Americanos). 

Ao manipular os resultados para afirmar que ganhou já no primeiro turno do opositor Carlos Mesa (Frente Revolucionária de Esquerda), Morales deu um passo maior que as pernas e abriu o caminho para ser destituído não só pelo Exército, mas também por colegas de seu próprio partido, o Movimento para o Socialismo.

Se alguém indagasse no início de ano em qual país latino-americano um golpe (ou renúncia presidencial) ocorreria, a Venezuela estaria no topo da lista – não a Bolívia. Por que Evo caiu e Maduro continua? Há várias respostas, mas a mais convincente, até agora, é a que considera o “talento” pessoal do líder político. Ambos arriscaram muito. Evo errou no cálculo e Maduro acertou.

Bolívia e Venezuela são, desde o início do século XXI, países com líderes populistas e partidos políticos instáveis. A tendência mundial de enfraquecimento dos partidos tradicionais atinge em cheio as nações em que políticos hiper-personalistas tomam o poder e nele permanecem com ajuda do “iliberalismo” – ou seja, a cooptação de poderes como o Legislativo e o Judiciário. 

Tanto Hugo Chávez, antecessor de Maduro, quanto Morales conseguiram destituir, com apoio popular e da elite política, os membros da Suprema Corte que não lhes eram simpáticos (A afirmação é de Steven Levitsky e Lucan Way, autores de Competitive Authoritarianism: Hybrid Regimes After the Cold War, publicado pela Cambridge University Press em 2010).

O trio Chávez-Maduro-Morales revirou os sistemas partidários de seus países. De 1993 a 2014, a configuração política boliviana mudou completamente. Isso não é exagero. 

É um cálculo feito pelo cientista político Scott Mainwaring, que mostra que os partidos que receberam votos para o Legislativo em 1993 simplesmente não existiam mais vinte e um anos depois. 

É o caso mais extremo, na América Latina, do que Mainwaring chama de “volatilidade acumulada”. Mas a Venezuela chega muito perto. Para comparar, a Bolívia teve 100 pontos; a Venezuela 97; e o Brasil, 42 (A análise está no livro Party Systems in Latin America: Institutionalization, Decay, and Collapse, da Cambridge University Press, 2018).

Assim conseguiram dificultar a coordenação de opositores, que só aumentou quando crises econômicas (Venezuela) ou constitucionais (Bolívia) se agravaram. No caso boliviano, a crise constitucional foi causada pela ambição excessiva de Morales. Ele quis um quarto mandato (ilegal), fraudou o resultado do primeiro turno (para evitar o segundo, pois perderia nele) e perdeu apoio da população, do Exército e do próprio partido. Só os perfeitos inocentes latino-americanos, como Lula, têm pena.

Maduro, subestimado por muitos (inclusive por mim), foi mais esperto. Jogou no erro do adversário, Juan Guaidó, que supôs ter mais apoio popular e institucional, das Forças Armadas, do que era verdade. Agora o Partido Socialista Unido da Venezuela, controlado pelo presidente, ficou mais moderado no Legislativo. Quer diálogo. Caso recuse, Guaidó será visto como intransigente. A lição é: líderes que se controlam ficam mais sortudos.

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