sexta-feira, novembro 08, 2019

Análise: Brasil se isolou ao votar contra Cuba na ONU e pode não ganhar nada dos EUA

O presidente Jair Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo no Fórum de Investimentos no WTC Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
 BRASÍLIA - Ao assumir, pela primeira vez, uma posição favorável ao embargo a Cuba na ONU, nesta quinta-feira, o Brasil acabou se isolando perante outros parceiros internacionais e corre o risco de não ganhar nada em compensação dos Estados Unidos. É o que pensam analistas ouvidos pelo GLOBO. 

— Não houve uma surpresa, pois o repúdio do presidente Jair Bolsonaro ao regime cubano já era conhecido desde o princípio. Mas é melhor Bolsonaro não pensar que vai ganhar algo de Washington por causa disso — disse o professor emérito da UNB e cientista político David Fleischer, nascido nos EUA e naturalizado brasileiro. 

Para ele, o governo brasileiro esperava mais do que ganhou até agora. Por exemplo, ainda não conseguiu abrir o mercado americano para a carne bovina brasileira , nem obteve um apoio mais efeito de Washington para a candidatura do Brasil a membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ). 

'Complexo de Greta Garbo'

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero disse que o Brasil está ressuscitando o chamado "complexo de Greta Garbo" que, ao se retirar do cinema, isolou-se na Suíça e dizia para quem a procurava: "I want to be alone" (eu quero ficar sozinha). 

Segundo Ricupero, essa expressão foi criada por João Augusto de Araújo Castro, ministro das Relações Exteriores do governo de João Goulart. No início da ditadura militar, diante da forte aproximação das autoridades brasileiras dos Estados Unidos, o Brasil ficava isolado nas votações, ao lado de Israel e EUA. 

— O Brasil preferia ter dois ou três votos, desde que ficasse ao lado dos americanos. Como a atriz Greta Garbo, dizia "I want to be alone". E isso está se repetindo — brincou Ricupero.

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