Professora Raquel Leal e Irmã
Angélica. Essas duas mulheres marcaram de forma indelével a minha vida de
estudante. Naquele tempo, eu e muitos outros alunos as achávamos chatas. Mas,
os professores que consideramos chatos são aqueles dos quais a gente nunca
esquece. Chatos porque levavam sua missão a sério. Chatos porque não brincavam
de ensinar. Queriam que a gente aprendesse. Sabiam o quanto sua chatice
influenciaria no nosso futuro.
Professora Raquel foi minha primeira
professora na Escola Magalhães Barata, que depois deu lugar ao Colégio Álvaro
Adolfo da Silveira, na Avenida Presidente Roosevelt, hoje, Marechal Rondon,
esquina da Barão do Rio Branco, em Santarém. Foi ela minha mestra até o
terceiro ano do primário.
Como posso esquecê-la, se ela era,
além de uma ótima professora na transmissão dos meus primeiros conhecimentos
escolares, uma disciplinadora que não hesitava em mandar a molecada para o castigo,
de joelhos, atrás do quadro negro, que ficava num tripé de madeira. Eu mesmo
fui diversas vezes, porque não era lá dos mais comportados.
Como não lembrar da professora Raquel,
se ela, amiga de minha família, costumava visitar a casa dos meus avós, onde eu
morava, aproveitando a visita para passar a ficha corrida do aluno em epígrafe.
Eu não ficava muito satisfeito quando a via no rumo da minha casa, porque sabia
de antemão que poderia ter problemas mais tarde. Obrigado, professora Raquel.
Irmã Angélica, a rigorosíssima
professora de Português. Não precisa falar alto em suas aulas, porque a classe
não fazia um mínimo de barulho. Azar de quem não prestasse atenção. O resultado
viria no próximo teste ou na próxima prova; quem viesse primeiro.
No segundo ano ginasial, ela passou um
trabalho que tinha que ser feito à mão. Apesar de nunca ter tido uma letra
bonita, eu sempre fui um bom aluno de Português, matéria com a qual sempre
convive bem; nunca tive nada contra.
Eu me esforcei ao máximo para não
errar nada, absolutamente nada. E de fato não errei. Quando veio a nota
acompanhada do trabalho, eu havido tirado a maior nota entre todas: 95. Olhei
de cima a baixo e percebi que não havia observação nenhuma, desconto algum de
ponto, o que me intrigou.
Chateado por não ter tirado 100,
procurei a professora para que ela me explicasse porque não tinha me dado nota
máxima. “Porque eu não dou 100 pra
ninguém na minha matéria”, respondeu ela, do alto de sua sapiência com uma
pitada de intransigência. Mas, a mensagem ficou gravada, e nos dois anos que eu
estudei com ela, aprendi muito da nossa língua, tendo me esforçado até hoje
para fazer o uso correto do nosso vernáculo, procurando não envergonhar meus
professores, sobretudo os mais rígidos. Obrigado Irmã Angélica.
As minhas reminiscências estudantis
afloraram na manhã de hoje ao encontrar alguns mestres dos mais conceituados de
Itaituba, na Câmara Municipal, que realizou uma seção solene após a seção
ordinária para homenagear os professores pela passagem do seu dia, que acontece
neste 15 de outubro.
Professora Fátima Leiroz, Professor
Carlos Paiva e Professora Margarete Cordeiro foram alguns dos mestres
homenageados pelo Poder Legislativo na manhã de hoje. Reconhecimento justo de
uma classe, que como disse o vereador Manoel Diniz, é a única que pode formar
todos os profissionais que trabalham na face da Terra.
Muitas vezes mal remunerados, os
professores precisam trabalhar mais do que a maioria dos outros trabalhadores
para ter um ganho melhor. A sobrecarga os impede de dedicar mais tempo na
preparação das aulas e na ampliação dos próprios conhecimentos.
Outrora respeitados, hoje em dia, não
são raros os casos em que, ser professor virou profissão de risco, porque um
número cada vez maior de pais, além de transferir para a escola sua
responsabilidade de educar (passar valores e limites), ainda ameaça, ou mesmo
agride professores. Esse nobre mister foi vilipendiado por quem tem o dever de
ser parceiro dos mestres.
Se não fosse radialista e jornalista,
certamente seria professor. Tive uma rápida experiência como professor de
Inglês, em Santarém, quando era muito jovem, na segunda metade dos anos 1970.
Gostei e simpatizei muito com o trabalho de ensinar. Mas, o chamado do rádio e do
jornal foi mais forte.
Gostaria de ver o respeito ao
professor, como se respeita no Japão. Lá, a única classe que não precisa fazer
reverência ao imperado é o professor. Que bonito.
Procuro ser parceiro de quem se ocupou de me
ensinar, e hoje leva conhecimento aos meus filhos. E muito obrigado por fazerem
isso com amor.
Jota Parente
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