Com o avanço da tecnologia, está cada vez mais fácil produzir e disseminar um grande volume de dados — também conhecido como big data. Mas o verdadeiro desafio consiste em analisar e transformar esses dados em informações úteis, a fim de encontrar melhores caminhos para resolver um problema. Mas de que forma isso pode trazer soluções médicas, inclusive para o tratamento de câncer?
As oportunidades são inúmeras, mas para essa revolução acontecer no Brasil, é preciso começar com passos pequenos. O primeiro é converter os prontuários manuais em eletrônicos, de forma uniformizada.
Existem diversos hospitais que já utilizam prontuários eletrônicos no nosso país. Contudo, não é possível cruzar essas informações, pois cada instituição segue um padrão. Pensando nisso, o Sistema Único de Saúde (SUS) está unificando dados dos pacientes atendidos pelo sistema público, que representam cerca de 75% da população brasileira. Após finalizar a implementação, a ideia é replicar a estratégia nos serviços privados.
Essa mudança facilitará, entre outras coisas, o cumprimento da Lei dos 60 Dias, que impõe um prazo máximo de dois meses para início do primeiro tratamento oncológico no SUS. O tempo começa a ser contado a partir da data da assinatura do laudo patológico, que confirma a presença de um tumor maligno.
Com um prontuário eletrônico e padronizado, bastará que o paciente dê entrada no serviço com suspeita de câncer e confirme a doença com uma biópsia para que o sistema faça o agendamento automático da próxima consulta o mais rapidamente possível. Hoje, o paciente precisa agendar cada passo dessas etapas, o que raramente é realizado em curto prazo, principalmente nos serviços do SUS.
Utilizar big data em conjunto com análise de dados também é uma excelente maneira de produzir conhecimento científico de qualidade. Um grupo de médicos nos Estados Unidos criou a iniciativa CancerLinQ, que reúne e disponibiliza dados sobre oncologia para que profissionais da saúde e pesquisadores tenham acesso a informações reais sobre atendimento de câncer, com o objetivo de produzir análises e conhecimento técnico.
Implementar essa mudança envolve diversos desafios. Entre eles, estabelecer e disseminar os padrões de preenchimento dos prontuários; ter os equipamentos necessários para a coleta e transmissão de dados em todos os postos de atendimento do SUS; vencer a questão cultural de como os prontuários são feitos hoje e ainda garantir a segurança das informações dos pacientes.
É importante esclarecer que o histórico médico de uma pessoa não pode ser acessado por ninguém a não ser por ela própria ou a quem esse indivíduo confiar sua saúde. Um médico ou hospital só consegue visualizar esses dados com autorização.
Na medicina, tudo envolve uma concessão do paciente. É ele quem conta o que está sentindo e é ele quem pede ajuda. Conhecer os benefícios de ter dados acessíveis, atualizados e uniformizados é o caminho para que a população apoie essa iniciativa.
Esse sistema modernizado irá possibilitar que o cenário oncológico do Brasil seja avaliado com maior precisão, o que permitirá entender a realidade de cada cidade para pensar em soluções específicas e regionalizadas.
Fonte: Saúde Abril
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