A partida |
Jota
Parente - Parei. 53.874 km percorridos depois de quatro expedições, é hora
de parar com as aventuras pelas estradas da América do Sul, continente no qual
só ficou faltando conhecer os três países do extremo norte, que são a Guiana, o
Suriname e a Guiana Francesa, essa última, possessão francesa.
Tudo começou em setembro de 2007
quando recebi minha primeira moto Yamaha XTZ 125, na Cimaq Motos. Assim, de
repente, conversando com minha mulher Marilene, disse que gostaria de fazer uma
viagem de moto pela América do Sul. Ela falou na ocasião que iria comigo, e
ficamos acertados que seria dessa forma.
Eu não fazia a menor ideia do tamanho do
desafio, embora imaginasse que fosse uma jornada longa, que exigiria um bom
planejamento, tanto no aspecto financeiro, quanto no preparo físico e
psicológico. E foi desse jeito que começou a saga do aventureiro Jota Parente
pelas mais diversas estradas sul-americanas, de norte a sul, de leste a oeste.
A mais recente e também última expedição foi a
mais exaustiva de todas sob todos os aspectos. O menor tempo de preparação
exigiu uma enorme correria para viabilizar financeiramente a jornada; a necessidade
correr atrás de um número maior de apoiadores face às dificuldades da economia
local e a distância a ser percorrida em um tempo que não poderia ser longo
tornaram a Expedição ao Fim do Mundo um desafio único.
Percorri 16.207 km em 22 dias montado na
potente Honda CB Twister 250, posto que a expedição durou exatos 25 dias. Os
outros três dias, dois eu gastei na ida e na volta de ônibus de Castelo de
Sonhos, para onde a Tapajós Honda Motos, através do gerente Edson Uchoa, mandou
levar e trouxe de volta. O outro dia fiquei no hospital da cidade onde caí.
Passagem por Florida, Uruguai, terra de Armando Miqueiro |
Fiz uma média de 737 km por dia. Como essa foi
a média, houve dias que eu percorri menos, enquanto em outros andei bem mais
que isso. Quando eu parava no final do dia para descansar, planejava onde iria
dormir no dia seguinte. Na maioria das vezes eu consegui cumprir a meta, porém,
às vezes as dificuldades não permitiram, e a mais severa de todas as
dificuldades foi sempre o tempo, sobretudo quando entrei na região do frio.
Quando eu falo de frio, estou falando de um
frio inclemente que diminuiu um pouco nessa época, mas, que não para nunca.
Quando converso com as pessoas sobre isso, brinco dizendo que na Patagônia só existem
duas temperaturas: fria e mais fria. Brincadeira à parte, é isso mesmo. Mais
adiante terei oportunidade de falar com detalhes do frio e do vento que não
para.
Mesmo antes de receber minha moto zero, depois
de me informar com motoristas que viajam pela Santarém-Cuiabá rumo ao Mato
Grosso, já havia decidido que não começaria a viagem em Itaituba, porque as
informações das condições da estrada até Castelo de Sonhos não eram nada
animadoras. Alguns trechos estão em péssimas condições, bem pior do que eu
imaginava. E vai além de Castelo, chegando à altura de Cachoeira da Serra.
Catedral de Montevidéu |
No feriado de 15 de novembro eu peguei o ônibus
da Ouro e Prata, das seis da manhã. Viagem longa, que se entendeu até às 18:20
para percorrer os 544 km que separam Itaituba daquele distrito de Altamira.
Menos mal porque choveu pouco, o que permitiu passar no trecho de terra que tem
provocado filas enorme de carretas, entre Moraes Almeida e a cidade de Novo
Progresso.
Ansioso para começar a viagem de moto, levantei
cedo no dia 16, tomei café no hotel e fui para a filial da Tapajós Honda Motos
de Castelo aguardar a chegada da senhora Lídia, que me recebeu com muita
atenção. Peguei a moto e voltei para o hotel para arrumar a bagagem no
bagageiro. Às 9:15 estava tudo pronto para tentar pernoitar na cidade de
Rosário Oeste, 846 km distante de Castelo e a 111 km de Cuiabá. Parei às 19:40
HS. O tempo e o tráfego na estrada ajudaram.
De Rosário Oeste saí cedo para chegar a Cuiabá
num horário em que trânsito não estivesse muito pesado para evitar perder muito
tempo. Com ajuda do GPS varei do outro lado da cidade sem maiores problemas. O
objetivo a ser alcançado naquele 17 de novembro era o distrito de Anhanduí, 66
km depois de Campo Grande. Consegui vencer o 890 km parando às 20:20 HS.
Sempre para o Sul - O Sul era o meu destino,
sempre para o Sul, mas, resolvi sair um pouco da rota para conhecer um pouco da
cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que fica na fronteira daquele país,
separada pela cidade de Ponta Porã pela avenida Brasil, em Mato Grosso do Sul,
no dia 18.
No Estádio Centenário, Montevidéu |
Caballeros, como se fala por lá, é uma cidade
com 115 mil habitantes, que tem o enorme Shopping China, que é uma loucura,
tanto pela variedade de produtos importados, quanto pelo preço muito abaixo do
praticado no Brasil. Pena que existe limite de valores para passar pela
fronteira com compras. Nesse dia, dormi em Eldorado, Paraná, percorrendo 627 km
por conta de um temporal do qual tive que me abrigar em Amambaí.
Andei pouco na segunda, 19 de novembro, porque
gastei muito tempo em Toledo, no Paraná, dando assistência a moto numa
concessionária Honda. Por isso, só consegui avançar 524 km, dormindo em
Pranchita, ainda no Paraná, poucos quilômetros de distância da fronteira com a
Argentina. Quando cheguei a essa cidade, minha jaqueta de viagem estava com o
zíper danificado. Para minha sorte, o dono do hotel onde fiquei conhecia um
sapateiro que morava meia hora adiante, o qual resolveu o problema.
Saí de Pranchita com a intenção de pernoitar em
Rosário do Sul, com possibilidade de esticar até Santana do Livramento a 761
km. Só deu para chegar até Rosário, a 557 km. Não foi um bom dia na estrada.
Dormi em uma cabana nos fundos de um posto de gasolina, um lugar legal para
descansar. Bem cedo levantei para seguir para a fronteira, pois sabia que
precisava de um tempo para trocar o óleo da moto e comprar a Carta Verde, o
seguro da moto.
Já passava de meio-dia quando cruzei a
fronteira. Precisava passar na migração do Uruguai. Pouca burocracia. Por volta
de uma da tarde já estava na Ruta 5, uma excelente rodovia. Parei em
Tacuarembó, primeira cidade depois da fronteira, e Florida, cidade onde nasceu
um grande amigo, Armando Miqueiro. Registrei a passagem e mandei-me rumo a
Montevideo, em cuja orla já estava antes das sete da noite.
Com uma área de apenas 176 mil km quadrados,
menor que o estado do Paraná, o Uruguai é um grande campo de produção de grãos,
mas, principalmente, de criação de gado de boa qualidade. Quase 60% do
território uruguaio é ocupado pela criação de bovinos e ovinos, tendo isso um
peso importante na economia do país. O Uruguai é um dos poucos países não
lusófonos em que o ensino da língua portuguesa é obrigatório. O
Português é ensinado a partir do 6º ano de escolaridade.
Eu tinha dois pontos que não poderia deixar de
visitar em Montevideo, capital da República Oriental do Uruguai: o Centro
Histórico e o estádio Centenário. Como tinha me hospedado no centro da cidade,
pude conhecer um pouco do comércio da capital. Não foi a mais agradável das
noites, porque por falta de opção hospedei-me em um hotel onde só havia quarto
compartilhado.
Como acontece em
inúmeras cidades da América do Sul, os fundadores não tiveram o cuidado de
construir a praça da catedral um pouco mais distante da igreja que costuma ser
uma das construções mais antigas. Não se consegue fazer uma boa foto, a não ser
com lentes especiais, não é possível fotografar a frente do templo dedicado à
Imaculada Conceição, padroeira do povo católico do Uruguai e a San Felipe e
Santiago, padroeiros da cidade de Montevidéu.
De Montevidéu
fui até o extremo oeste do Uruguai, onde fica a bela cidade de Colônia de
Sacramento. Cidade pequena, com cerca de 30 mil habitantes, fundada em 1680.
Conserva sua arquitetura colonial, além de ser uma região praiana, onde os
imóveis e os aluguéis são nada baratos.
Na próxima
edição prosseguirei com o relato, descrevendo a entrada e as duas semanas que
passei na Argentina, onde aconteceu de tudo, de bom e ruim.
Jota Parente
*Matéria publicada na edição 244 do Jornal do Comércio, circulando desde sexta-feira, 28/12/18
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