domingo, setembro 16, 2018

Os desvios da edutação

Por Lúcio Flávio Pinto - Do O Jornal Estadonet

O governo carrega nas costas 60 bilhões de reais de dívida acumulada pelos estudantes que usaram o Fies. O índice de inadimplência é de 55%.

A sigla abriga um programa contraditório em seus termos, absurdo. O poder público financia estudantes que frequentam o ensino superior em instituições privadas. O dinheiro toca nas mãos dos estudantes e vai parar nos cofres de empresas particulares, que tratam a educação como se manipulassem sacos de banana. Um olho na qualidade do ensino, outro - muito mais gordo - no caixa.

Para o estudante, vai o dinheiro, pesando no passivo pessoal ou familiar, e volta um diploma, na maioria dos casos pouco mais do que um papel,  desacompanhado de conhecimento, saber, qualificação para o exercício da profissão.

Além disso, parte dos alunos beneficiados com juros favorecidos e tolerância na exigência do retorno do dinheiro pelo agente financiador, é de classe média, no generoso padrão rebaixado pelo PT para engordar a estatística sobre a elevação da renda dos brasileiros. Essas pessoas têm condição, ao menos em tese, pelas estatísticas, de ir buscar o dinheiro no sistema financeiro privado, com alguma participação do governo para compensar rendimento menor (menos abusivo) do banco privado.

Os bancos, convocados a entrar no negócio, abriram 220 mil vagas para financiamento; 120 mil interessados se cadastraram; 250 contratos foram assinados. Um fracasso absoluto. Mesmo que as condições contratuais tenham algum grau de favorecimento ao tomador do dinheiro, não pode se aproximar do padrão estatal sem assumir riscos que as regras do mercado vedam ou reduzir os lucros abaixo das expectativas do negócio.

Surge então a pergunta elementar: se o governo federal tem universidades públicas, muitas das quais vegetando, por que subsidia instituições privadas? Por que faz de conta que a transferência de dinheiro público para o tesouro particular se justifica pela ampliação de vagas a universitários, que não conseguem passar pelo crivo de acesso das universidades públicas? A seleção é atenuada pelo regime de cotas, que, sem a preparação nos estágios anteriores da formação educacional, acaba por rebaixar o nível de qualidade do ensino superior, no qual a maior exigência de rendimento deveria se fundamentar no preparo no ensino de preparação, o fundamental e o médio.

O resultado dessa sucessão de equívocos, incompetência e populismo em local e hora errados, vemos todos os dias: do analfabetismo funcional à queda do Brasil no ranking do ensino superior no mundo. E ainda não chegamos ao fundo do poço.

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