domingo, setembro 23, 2018

América do Sul, de Moto - Parte 6 - Tintim Por Tintim

Foto com policial de trânsito, em Medelin
Fomos bem recebidos em praticamente todos os lugares pelos quais passamos. Mas, na Colômbia, foi diferente. Eu e meu amigo Jadir recebemos um tratamento diferenciado pelo fato de sermos brasileiros. Aonde a gente chegava naquele país de povo educado e acolhedor, na hora que dizíamos que éramos brasileiros, o tratamento que já era bom, ficava ainda melhor. Isso nos impressionou muito.

Ainda no dia 20/10, a caminho de Socorro, onde terminou o relato do capítulo anterior, passamos por inúmeras fazendas de todos os tamanhos. O que vimos encheu os olhos, pois são propriedades bem cuidadas, onde se trabalha com gado de leite e de corte, além de trabalharem com agricultura. Em nenhum momento vimos pobreza extrema naquela região.

Encontramos tantas, mas tantas barreiras na estrada, que tinha hora que a gente mal saía de uma e se deparava com outra. As do exército só nos mandaram parar uma vez. Já a Policia de Carretera, equivalente à nossa Polícia Rodoviária, essa mandou a gente parar duas vezes. Numa dessas barreiras, dois jovens soldados do exército colombiano, com caras de poucos amigos, pediram os nossos documentos. Depois que os mostramos eles quiseram saber o que levávamos em nossas mochilas. São roupas e materiais de higiene, dissemos. Então abram as duas. 


Eu no metro cable, subindo a 1.700 metros, para a parte alta da cidade 
No momento em que começávamos a desamarrar a bagagem, o sargento que estava sentado um pouco distante, levantou e foi lá saber o que estava acontecendo. Eu respondi que os soldados tinham pedido os nossos documentos e que agora queriam que a gente abrisse as bagagens, o que estávamos começando a fazer.

Enquanto eu falava, ele foi dar uma olhada nas placas das nossas motos e viu que na minha havia uma bandeirinha do Brasil. Vocês são do Brasil, perguntou ele. Sim, senhor, somos, respondemos. Então não precisa abrir bagagem nenhum. Podem seguir viagem. Ficamos contentes, porque a gente iria perder muito tempo desarrumando e arrumando, de novo, nossas mochilas e felizes pela deferência por sermos brasileiros.

No dia 21 de outubro, em Socorro, levantamos muito cedo, apesar do frio que fazia. Às 6:30 pegamos a estrada rumo a Medellin, capital do departamento de Antioquia. Como no dia anterior havíamos começado a subir a Cordilheira dos Andes, continuamos subindo. Quanto mais alto a gente chegava, mais o frio aumentava. Passamos dos 2.500 metros de altitude e a partir desse ponto as motos começaram a reclamar bastante, por causa da rarefação do oxigênio, fato que prejudicava a combustão. 

A minha Yamaha XTZ 125 falhou menos que a Honda Bros 150 do Jadir. Em elevadas altitudes a diferença de rendimento das duas máquinas foi bastante acentuado, a ponto de eu adiantar-me tanto, que precisava esperar meu companheiro de viagem, diversas vezes. Além disso, passamos a conviver com uma infinidade de curvas de todos os níveis e todos os ângulos. Eu gostei e me dei bem nesse tipo de estrada. Adorava fazer aquele monte de curvas, uma seguida da outra, durante horas. Meu amigo Jadir detestava.

Em Santa Rosa, uma cidade que fica na rota para Medellin, paramos numa concessionária Yamaha para ver o que podia ser feito para que as motos não falhassem. Falamos com o mecânico responsável, o qual nos disse que com o passar do tempo as motos se adaptariam e o problema seria naturalmente resolvido. Mas, na medida em que a gente avançava, a situação da moto do Jadir só piorava. E aquele mecânico não sabia do que falava, porque tivemos problemas sérios por conta disso, como veremos mais tarde. Lá em Santa Rosa, para conseguir chegar à bendita concessionária enfrentamos uma rua cujo declive era tão grande que faria a descida travessa 15 de Agosto de Itaituba parecer um terreno plano.

Faltavam vinte minutos para o meio-dia quando entramos na bela cidade de Medellin, que para nós brasileiros, e porque não dizer do mundo inteiro, ficou conhecida por causa do Cartel de Medellin, que dominava o comercial mundial de cocaína nos tempos de Pablo Escobar, que tinha o seu quartel general lá. Mas, Medellin é muito mais que isso. É uma cidade belíssima, situada num vale, nos Andes, cercada de montanhas, com uma temperatura média de 21 graus, a qual tem mais de dois milhões de habitantes, tendo sido fundada em 1675 pelos espanhóis. Juntando com a população de municípios vizinhos, que já fazem parte da grande Medellin, são mais de três milhões e meio de habitantes. É um dos mais importantes centros industriais da Colômbia e tem uma diversidade cultural que precisa ser conhecida.

Logo que entramos em Medellin a gente parou perto de uns guardas de trânsito. Eu desci da moto e me aproximei de um deles para fazer algumas perguntas a respeito da melhor rota a seguir, pois não tínhamos a intenção de demorar na cidade. Disse a ele que éramos brasileiros e que estávamos fazendo a volta pela América do Sul, que estávamos registrando tudo e que tínhamos a intenção de escrever um livro sobre nossa aventura. Mostrem seus documentos, disse ele. Por aqui passam muitos dizendo que são brasileiros, tentando nos enganar, porque sabem que a gente gosta do povo daquele país vizinho. Mas, seu guarda, disse eu, realmente somos brasileiros. Naquele momento eu comecei a falar português. Não porque a gente tivesse qualquer problema com a documentação, que estava rigorosamente em dia, mas, para quebrar aquele clima meio tenso.

Quando ele, Oscar León, se convenceu que realmente éramos brasileiros, seu comportamento mudou radicalmente. Chamou três colegas seus que estavam um pouco afastados para que viessem fazer uma foto para entrar em nosso livro. Depois disso, foi só festa. Fizemos algumas fotos e seguimos adiante. Não sem antes eu e o Jadir perdermos o contato por alguns momentos. O trânsito na cidade é muito intenso e isso ajudou a gente a se perder um do outro.

Perto da saída de Medellin passamos sob o “metro cable”, que é um tipo de metrô aéreo que deu muito certo e ajudou até na diminuição da violência na cidade. Na verdade, trata-se de um grande teleférico, com 90 cabines para oito lugares cada, as quais são sustentadas por cabos muito grossos. A linha começa a uma altura de pouco mais de dez metros e sobe até mais de 1.700 metros, onde existem bairros da cidade no alto dos morros. Paramos para pedir algumas informações e resolvemos ir até o “metro cable” para conhecer. Compramos os bilhetes e fomos até o ponto mais alto, de onde pudemos ver toda Medellin, cuja parte mais alta lembra algumas cidades brasileiras, pois é cercada de morros e tem o rio que emprestou seu nome à cidade, totalmente poluído.

No momento que estávamos saindo da cidade erramos o trajeto, descendo por uma rua com uma ladeira tão íngreme, mas tão íngreme, em primeira marcha e pisando no freio. Foi preciso ajuda para virar as motos ao contrário, pois seria muito perigoso tentar fazer a curva sem que alguém nos ajudasse. Engatei uma primeira e a moto subiu reclamando. Como o Jadir não aparecia, resolvi voltar para ver o que estava acontecendo. Encontrei-o ofegante, empurrando sua moto, com o motor ligado, primeira marcha engatada e com a ajuda de um colombiano. Foi uma sensação muito desagradável aquela. 

Às três da tarde paramos na pequena cidade de Guarine, porque a Honda Bros estava falhando muito. Um mecânico mexeu durante mais de uma hora, mas não conseguiu melhorar nada. O jeito foi seguir em frente até Rio Negro, já que o mecânico nos informou que lá havia uma concessionária Honda. E de fato havia. Mas, essa parte da história fica para o próximo capítulo.


Jota Parente

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