terça-feira, abril 10, 2018

Roberto Katsuda, uma história vitoriosa construída a partir de uma boa base familiar

Empresário Roberto Katsuda (World Tractor)

Por seis décadas seguidas o ouro tem sido o principal sustentáculo da economia de Itaituba. Isso é fato, apesar de alguns, poucos, discordarem, sem apresentar números que provem o contrário. E contra fatos, sobretudo quando esses fatos são corroborados por números da economia local, não há argumentos.
A produção de ouro tem sido responsável pela vinda de muitas empresas para Itaituba, as quais tem gerado emprego e renda, como a World Tractor, representante da multinacional coreana Hyundai, que chegou ao município há seis anos, trazida pelo empresário Roberto Carlos Katsuda, que devidamente integrado à comunidade itaitubense, tem planos de continuar por aqui, pensando em expandir seus negócios, como disse em entrevista ao Jornal do Comércio, na qual, além de negócios, ele contou um resumo da história de sua vida.
Jornal do Comércio - Fale um pouco de suas origens...
Roberto Katsuda – Nasci no interior do estado de São Paulo, na cidade de Bilac, filho de uma família pobre. Minha mãe é italiana e meu pai é de origem japonesa. Aos 16 anos senti necessidade de ajudar meu pai, mas, nossa cidade era pequena e não tinha emprego. Com 17 anos eu fui para São Paulo, onde durante doze anos eu fiquei sem ver minha família, porque precisava trabalhar para ajudar meus pais a terminar de criar minha irmã, que é dez anos mais nova que eu. Trabalhava de dia e estudava de noite, tendo me formado em Economia.
Tive oportunidade de trabalhar em duas grandes instituições financeiras, o Banco Noroeste e Banco de Boston, do qual Henrique Meirelles foi presidente, onde recebi proposta de um grande empresário, cliente do banco, para atuar na distribuição de peças para tratores Caterpillar. Montamos uma empresa, começando do zero, e em seis anos nos tornamos a maior empresa desse seguimento na cidade de São Paulo e uma das maiores do Brasil.
Há seis anos recebemos uma proposta da Hyundai Brasil, para representa-la aqui no Pará, e hoje nós somos representantes da empresa em todo o estado do Pará e no Mato Grosso.
Jornal do Comércio - Como se deu sua vinda para Itaituba?
Roberto Katsuda – Eu conheci um empresário de Itaituba, na USP, em São Paulo, numa reunião com alguns engenheiros de minas. Ele me relatou sobre o potencial da mineração aqui, e como eu já estava cerca de trinta anos nessa área, resolvi vir para cá conhecer a região. Fiz laboratório em alguns garimpos para entender melhor como funcionava, e em seguida nós começamos a comercializar escavadeiras R220 9S, da Hyundai. Hoje, somos líderes na venda de escavadeiras, não só no Pará, mas, em todo o Brasil.
Quando nós chegamos aqui, vimos a dificuldade de fazer um cadastro para o garimpeiro, pois ele não tem muitas informações, o que dificulta a ele adquirir o nosso produto através de uma instituição financeira, o que nos levou, além de oferecer as escavadeiras Hyundai, a disponibilizarmos uma linha de crédito próprio.
Jornal do Comércio - Você é um homem que viaja bastante para o exterior. Mais a passeio ou a negócios?
Roberto Katsuda – Viajo mais a negócios. Tive oportunidade de ficar um tempo na China, onde desenvolvi um projeto para fabricação de escavadeiras, tendo sido responsável por trazer para o Brasil a marca Chery; também estive na Índia, onde trabalhei em uma empresa do governo com doze mil funcionários, que é a Bell, tendo desenvolvido um projeto para fabricação de equipamentos. Na Suíça fiquei um tempo, desenvolvendo parcerias para trazer investimentos para o Brasil, e também residi na cidade de Fort Lauderdale, na Flórida, Estados Unidos, fornecendo peças para as maiores mineradoras do Brasil, como Vale, CSN e outras.
Viver nesses países foi muito importante, pois agreguei experiências, novos conhecimentos, novas tecnologias e pude conviver e aprender com culturas diferentes. Tudo isso tem sido muito importante para a gente tocar os nossos negócios aqui no Brasil.
Jornal do Comércio - O senhor mantém negócios em São Paulo?
Roberto Katsuda – Lá nós temos um centro de distribuição de peças, que fica perto da fábrica da Hyundai em Itatiaia, no Rio de Janeiro, que tem capacidade para produzir três mil máquinas por ano; temos um estoque de peças de aproximadamente R$ 70 milhões de investimento. De lá nós distribuímos peças para algumas empresas nossas, entre as quais Itaituba, Ourilândia do Norte e Peixoto de Azevedo. Também em São Paulo temos um investimento num projeto muito bom em pecuária, voltado para genética bovina.
Jornal do Comércio - Hoje, quantas máquinas a Hyundai tem, distribuídas pela World Tractor na região?
Roberto Katsuda – Em todo o estado do Pará nós ultrapassamos o número de quatrocentas, e não se trata apenas de vender a máquina, mas, também de conceder crédito. É claro que é um investimento de risco, por que o financiamento é nosso, é próprio, com avaliação de crédito pelo CPF, pelo RG, pelo comprovante de residência e pelos fornecedores com os quais os nossos clientes estão acostumados a trabalhar.
Eu tenho visto que o garimpeiro tem feito sua parte, honrando seus compromissos em dia. Vejo que é um grande negócio, numa economia aquecida, e acho que Itaituba tem se beneficiado bastante dessa comercialização de escavadeiras, porque tem sido produzido muito mais ouro nos últimos seis anos, por conta da introdução desses equipamentos. E, aquecendo a economia, vende-se muito mais carros, muito mais motos, mais roupa, e tenho certeza que isso tem sido muito positivo para toda a região.
Jornal do Comércio – Quando veio para cá, tinha expectativa de que trabalharia com uma inadimplência tão baixa?
Roberto Katsuda – Quando eu cheguei a Itaituba e começamos a vender os equipamentos da forma como vendemos até hoje, só ouvi comentários negativos a respeito do garimpeiro, de que ele não iria pagar, que nós iríamos tomar calote, mas, isso não aconteceu; pelo contrário! A região que melhor paga suas parcelas dos equipamentos comercializados pela Hyundai é Itaituba e região. Para se ter uma ideia, uma parcela aqui custa o dobro de outras regiões do Brasil, porque são custeadas por bancos de primeira linha, e a Hyundai recebe o dinheiro no ato da venda. Então, nada daquilo que me falaram aconteceu. Isso confirma a saúde financeira da região e a correção das pessoas com as quais negociamos.
Jornal do Comércio - São muitos milhões de reais investidos em crédito para garimpeiros desta região. Dá para dizer quantos?
Roberto Katsuda - Sim, hoje são mais de R$ 220 milhões que a Hyundai financiou aqui no Pará. E um dado da maior relevância que merece ser destacado é que a nossa inadimplência aqui é praticamente zero, e 90% desses investimentos já retornaram para os cofres da Hyundai. Trata-se de um mercado de alto nível, de alta performance conforme mostram os números.
Jornal do Comércio - Você aprendeu bastante sobre esse mercado do ouro nesses anos...
Roberto Katsuda – É claro. Embora o negócio da World Tractor seja vender escavadeiras e comercializar peças, pois é isso que sabemos fazer, a gente aprende através da convivência com os garimpeiros, com as empresas que atuam na compra de ouro, cada uma no seu campo. Ao lado disso, vivemos um momento em que é importante que se entenda a necessidade de regularizar o garimpo, porque não dá mais para trabalhar na informalidade; deve-se trabalhar legal, pagando todos os impostos, para que o município arrecade para investir em saúde, em educação e na melhoria da qualidade de vida da população, para que num futuro próximo a gente possa ter uma Itaituba muito melhor.
Jornal do Comércio - Como você viu a agitação do mercado local do ouro, por conta de algumas declarações do prefeito Valmir Climaco e de uma entrevista ao Jornal do Comércio, concedida pelo empresário Dirceu Frederico, dono da D’Gold e presidente da Anoro?
Roberto Katsuda - Como quase tudo na vida, teve o lado positivo e o lado negativo. Estive com o prefeito Valmir Clímaco depois de sua fala, e entendi que em momento algum ele quis ofender, muito menos, prejudicar os garimpeiros, nem quem comercializa ouro legalmente. Sua preocupação é que o município arrecade, porque sem arrecadação não tem como trabalhar pelo município. Como é que o prefeito quer prejudicar os garimpeiros, se em seu governo ele trabalha para legalizar a atividade garimpeira? Nunca se legalizou tantos garimpos como nessa administração de Valmir. 
Com relação ao que disse o empresário Dirceu Frederico, eu não vou entrar no mérito. Ele tem sido muito importante para a economia do município, estando há trinta anos no mercado da compra de ouro, sendo um grande comprador. Se há insatisfação porque as DTVMs enfrentam dificuldades por causa das comerciais, não sou eu quem vai resolver. As DTVMs tem um custo muito mais alto, porque são um banco, sujeitas a uma fiscalização rigorosa pelo Banco Central.
Jornal do Comércio – A atividade garimpeira está completando 60 anos, em 2018. Com o conhecimento adquirido nesses seis anos, qual o senhor acha que será o futuro dessa produção, levando-se em conta que se trata de um bem, que como todo bem mineral, é finito?
Roberto Katsuda – Eu acredito que nesse mais de meio século de produção, extraiu-se um total de no máximo 30% da reserva aurífera do Tapajós. Então, ainda temos em torno de 70% de reserva. Trabalhou-se, até agora, no ouro de aluvião e de baixão; o ouro de filão está intacto. Precisamos perder menos no processo produtivo. Antes da escavadeira, trabalhava-se com o tatuzão. Havia perda muito maior de ouro. Não sabemos dimensionar qual é o percentual de perda. O certo é, que precisamos introduzir novas tecnologias para diminuir a perda. Creio que ainda vamos ter de 30 a 40 anos de produção.
Jornal do Comércio – O que fazer para que o ouro deixe de enriquecer tão poucos, e para que seus benefícios alcance um maior número de pessoas?
Roberto Katsuda – Tem que investir na verticalização do produto. Verticalizando, o ouro vai ficar aqui, vamos ter fábricas de joias em Itaituba, para exportar para o mundo inteiro, gerando muito mais empregos e renda. Todo o ouro sai daqui de uma forma muito rápida. Hoje, como membro desta comunidade, isso me preocupa, e o que eu puder fazer para ajudar para verticalizar essa produção, farei. Um negócio tão grande como o comércio do ouro só pode ser considerado realmente bom, se alcançar um número muito maior de pessoas, não somente onde ele é produzido, mas, também onde é comercializado. É fundamental verticalizar parte dessa produção para gerar emprego e renda na cidade.

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