Empresário Roberto Katsuda (World Tractor) |
Por seis décadas seguidas o ouro tem sido o
principal sustentáculo da economia de Itaituba. Isso é fato, apesar de alguns,
poucos, discordarem, sem apresentar números que provem o contrário. E contra
fatos, sobretudo quando esses fatos são corroborados por números da economia
local, não há argumentos.
A produção de ouro tem sido responsável pela
vinda de muitas empresas para Itaituba, as quais tem gerado emprego e renda,
como a World Tractor, representante da multinacional coreana Hyundai, que
chegou ao município há seis anos, trazida pelo empresário Roberto Carlos
Katsuda, que devidamente integrado à comunidade itaitubense, tem planos de
continuar por aqui, pensando em expandir seus negócios, como disse em
entrevista ao Jornal do Comércio, na qual, além de negócios, ele contou um
resumo da história de sua vida.
Jornal do
Comércio - Fale um pouco de suas origens...
Roberto
Katsuda
– Nasci no interior do estado de São Paulo, na cidade de Bilac, filho de uma
família pobre. Minha mãe é italiana e meu pai é de origem japonesa. Aos 16 anos
senti necessidade de ajudar meu pai, mas, nossa cidade era pequena e não tinha
emprego. Com 17 anos eu fui para São Paulo, onde durante doze anos eu fiquei
sem ver minha família, porque precisava trabalhar para ajudar meus pais a
terminar de criar minha irmã, que é dez anos mais nova que eu. Trabalhava de
dia e estudava de noite, tendo me formado em Economia.
Tive oportunidade de trabalhar em duas grandes
instituições financeiras, o Banco Noroeste e Banco de Boston, do qual Henrique
Meirelles foi presidente, onde recebi proposta de um grande empresário, cliente
do banco, para atuar na distribuição de peças para tratores Caterpillar.
Montamos uma empresa, começando do zero, e em seis anos nos tornamos a maior
empresa desse seguimento na cidade de São Paulo e uma das maiores do Brasil.
Há seis anos recebemos uma proposta da Hyundai
Brasil, para representa-la aqui no Pará, e hoje nós somos representantes da
empresa em todo o estado do Pará e no Mato Grosso.
Jornal do Comércio - Como se deu sua
vinda para Itaituba?
Roberto
Katsuda
– Eu conheci um empresário de Itaituba, na USP, em São Paulo, numa reunião com
alguns engenheiros de minas. Ele me relatou sobre o potencial da mineração
aqui, e como eu já estava cerca de trinta anos nessa área, resolvi vir para cá
conhecer a região. Fiz laboratório em alguns garimpos para entender melhor como
funcionava, e em seguida nós começamos a comercializar escavadeiras R220 9S, da
Hyundai. Hoje, somos líderes na venda de escavadeiras, não só no Pará, mas, em
todo o Brasil.
Quando nós chegamos aqui, vimos a dificuldade
de fazer um cadastro para o garimpeiro, pois ele não tem muitas informações, o
que dificulta a ele adquirir o nosso produto através de uma instituição
financeira, o que nos levou, além de oferecer as escavadeiras Hyundai, a disponibilizarmos
uma linha de crédito próprio.
Jornal do
Comércio - Você é um homem que viaja bastante para o exterior. Mais a passeio
ou a negócios?
Roberto
Katsuda
– Viajo mais a negócios. Tive oportunidade de ficar um tempo na China, onde
desenvolvi um projeto para fabricação de escavadeiras, tendo sido responsável
por trazer para o Brasil a marca Chery; também estive na Índia, onde trabalhei
em uma empresa do governo com doze mil funcionários, que é a Bell, tendo
desenvolvido um projeto para fabricação de equipamentos. Na Suíça fiquei um
tempo, desenvolvendo parcerias para trazer investimentos para o Brasil, e
também residi na cidade de Fort Lauderdale, na Flórida, Estados Unidos,
fornecendo peças para as maiores mineradoras do Brasil, como Vale, CSN e
outras.
Viver nesses países foi muito importante, pois
agreguei experiências, novos conhecimentos, novas tecnologias e pude conviver e
aprender com culturas diferentes. Tudo isso tem sido muito importante para a gente
tocar os nossos negócios aqui no Brasil.
Jornal do
Comércio - O senhor mantém negócios em São Paulo?
Roberto
Katsuda
– Lá nós temos um centro de distribuição de peças, que fica perto da fábrica da
Hyundai em Itatiaia, no Rio de Janeiro, que tem capacidade para produzir três
mil máquinas por ano; temos um estoque de peças de aproximadamente R$ 70
milhões de investimento. De lá nós distribuímos peças para algumas empresas
nossas, entre as quais Itaituba, Ourilândia do Norte e Peixoto de Azevedo.
Também em São Paulo temos um investimento num projeto muito bom em pecuária,
voltado para genética bovina.
Jornal do
Comércio - Hoje, quantas máquinas a Hyundai tem, distribuídas pela World
Tractor na região?
Roberto
Katsuda
– Em todo o estado do Pará nós ultrapassamos o número de quatrocentas, e não se
trata apenas de vender a máquina, mas, também de conceder crédito. É claro que
é um investimento de risco, por que o financiamento é nosso, é próprio, com
avaliação de crédito pelo CPF, pelo RG, pelo comprovante de residência e pelos
fornecedores com os quais os nossos clientes estão acostumados a trabalhar.
Eu tenho visto que o garimpeiro tem feito sua
parte, honrando seus compromissos em dia. Vejo que é um grande negócio, numa
economia aquecida, e acho que Itaituba tem se beneficiado bastante dessa
comercialização de escavadeiras, porque tem sido produzido muito mais ouro nos
últimos seis anos, por conta da introdução desses equipamentos. E, aquecendo a
economia, vende-se muito mais carros, muito mais motos, mais roupa, e tenho
certeza que isso tem sido muito positivo para toda a região.
Jornal do
Comércio – Quando veio para cá, tinha expectativa de que trabalharia com uma
inadimplência tão baixa?
Roberto
Katsuda –
Quando eu cheguei a Itaituba e começamos a vender os equipamentos da forma como
vendemos até hoje, só ouvi comentários negativos a respeito do garimpeiro, de que
ele não iria pagar, que nós iríamos tomar calote, mas, isso não aconteceu; pelo
contrário! A região que melhor paga suas parcelas dos equipamentos
comercializados pela Hyundai é Itaituba e região. Para se ter uma ideia, uma
parcela aqui custa o dobro de outras regiões do Brasil, porque são custeadas
por bancos de primeira linha, e a Hyundai recebe o dinheiro no ato da venda.
Então, nada daquilo que me falaram aconteceu. Isso confirma a saúde financeira
da região e a correção das pessoas com as quais negociamos.
Jornal do
Comércio - São muitos milhões de reais investidos em crédito para garimpeiros
desta região. Dá para dizer quantos?
Roberto Katsuda - Sim, hoje são mais de R$ 220 milhões que a Hyundai
financiou aqui no Pará. E um dado da maior relevância que merece ser destacado
é que a nossa inadimplência aqui é praticamente zero, e 90% desses
investimentos já retornaram para os cofres da Hyundai. Trata-se de um mercado
de alto nível, de alta performance conforme mostram os números.
Jornal do
Comércio - Você aprendeu bastante sobre esse mercado do ouro nesses anos...
Roberto
Katsuda –
É claro. Embora o negócio da World Tractor seja vender escavadeiras e
comercializar peças, pois é isso que sabemos fazer, a gente aprende através da
convivência com os garimpeiros, com as empresas que atuam na compra de ouro,
cada uma no seu campo. Ao lado disso, vivemos um momento em que é importante
que se entenda a necessidade de regularizar o garimpo, porque não dá mais para
trabalhar na informalidade; deve-se trabalhar legal, pagando todos os impostos,
para que o município arrecade para investir em saúde, em educação e na melhoria
da qualidade de vida da população, para que num futuro próximo a gente possa
ter uma Itaituba muito melhor.
Jornal do
Comércio - Como você viu a agitação do mercado local do ouro, por conta de
algumas declarações do prefeito Valmir Climaco e de uma entrevista ao Jornal do
Comércio, concedida pelo empresário Dirceu Frederico, dono da D’Gold e
presidente da Anoro?
Roberto
Katsuda - Como quase tudo na vida, teve o lado
positivo e o lado negativo. Estive com o prefeito Valmir Clímaco depois de sua
fala, e entendi que em momento algum ele quis ofender, muito menos, prejudicar
os garimpeiros, nem quem comercializa ouro legalmente. Sua preocupação é que o
município arrecade, porque sem arrecadação não tem como trabalhar pelo
município. Como é que o prefeito quer prejudicar os garimpeiros, se em seu
governo ele trabalha para legalizar a atividade garimpeira? Nunca se legalizou
tantos garimpos como nessa administração de Valmir.
Com relação ao que disse o empresário Dirceu
Frederico, eu não vou entrar no mérito. Ele tem sido muito importante para a
economia do município, estando há trinta anos no mercado da compra de ouro,
sendo um grande comprador. Se há insatisfação porque as DTVMs enfrentam
dificuldades por causa das comerciais, não sou eu quem vai resolver. As DTVMs
tem um custo muito mais alto, porque são um banco, sujeitas a uma fiscalização
rigorosa pelo Banco Central.
Jornal do
Comércio – A atividade garimpeira está completando 60 anos, em 2018. Com o
conhecimento adquirido nesses seis anos, qual o senhor acha que será o futuro
dessa produção, levando-se em conta que se trata de um bem, que como todo bem
mineral, é finito?
Roberto
Katsuda –
Eu acredito que nesse mais de meio século de produção, extraiu-se um total de
no máximo 30% da reserva aurífera do Tapajós. Então, ainda temos em torno de
70% de reserva. Trabalhou-se, até agora, no ouro de aluvião e de baixão; o ouro
de filão está intacto. Precisamos perder menos no processo produtivo. Antes da
escavadeira, trabalhava-se com o tatuzão. Havia perda muito maior de ouro. Não
sabemos dimensionar qual é o percentual de perda. O certo é, que precisamos
introduzir novas tecnologias para diminuir a perda. Creio que ainda vamos ter
de 30 a 40 anos de produção.
Jornal do
Comércio – O que fazer para que o ouro deixe de enriquecer tão poucos, e para
que seus benefícios alcance um maior número de pessoas?
Roberto
Katsuda –
Tem que investir na verticalização do produto. Verticalizando, o ouro vai ficar
aqui, vamos ter fábricas de joias em Itaituba, para exportar para o mundo
inteiro, gerando muito mais empregos e renda. Todo o ouro sai daqui de uma
forma muito rápida. Hoje, como membro desta comunidade, isso me preocupa, e o
que eu puder fazer para ajudar para verticalizar essa produção, farei. Um
negócio tão grande como o comércio do ouro só pode ser considerado realmente
bom, se alcançar um número muito maior de pessoas, não somente onde ele é
produzido, mas, também onde é comercializado. É fundamental verticalizar parte
dessa produção para gerar emprego e renda na cidade.
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