quinta-feira, março 01, 2018

Sua próxima conexão com a internet pode ser espacial

O Globo - O mundo tem cerca de quatro bilhões de pessoas sem acesso à internet, muitas delas por falta de dinheiro para pagar os planos de acesso oferecidos por empresas de telefonia ou, simplesmente, pela ausência de sinal. Para contornar esta situação, algumas empresas planejam o lançamento ao espaço de constelações de satélites para suprir populações digitalmente excluídas com serviços de voz e dados com baixo custo.
— As pessoas estavam pensando em usar os nanossatélites para serviços de imagens da Terra, mas ninguém havia pensando em usá-los para comunicações por voz ou texto — contou o ex-piloto israelense Meir Moalem, diretor executivo da Sky and Space Global, em entrevista à BBC. — Nós fomos os primeiros.
Em junho do ano passado, a pequena companhia lançou seus três primeiros nanossatélites e, três meses depois, realizou a primeira chamada telefônica usando a tecnologia, um feito para a indústria de telecomunicações. O objetivo é criar uma pequena frota com 200 nanossatélites até 2020 em órbita equatorial, oferecendo cobertura para três bilhões de pessoas.
Os nanossatélites da Sky and Space Global medem apenas 10 cm x 10 cm x 30 cm e pesam menos de 10 quilos, uma fração das 6 toneladas de um satélite de comunicações tradicional. E eles são menores no tamanho e nos custos, tanto de fabricação, lançamento e operação.
— Ao todo, nossa constelação custa apenas US$ 150 milhões. Isso é menos do que um único satélite de comunicações padrão. É isso o que queremos dizer quando falamos de uma tecnologia disruptiva — disse Moalem. — Serviços móveis com preços acessíveis são críticos para o desenvolvimento econômico e social de muitos países.
Mas a Sky and Space Global deve enfrentar concorrência pesada neste setor. Na quinta-feira, a SpaceX lançou os primeiros dois protótipos do projeto Starlink. Segundo documentos apresentados à Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês), a empresa pretende criar uma frota com quase 12 mil satélites que oferecerá sinal de internet rápida para todo o planeta.
Os satélites da SpaceX são um pouco maiores, classificados como “smallsats”, com peso de até 500 kg. O fundador e diretor-executivo da companhia, Elon Musk, usou o Twitter para celebrar o lançamento dos dois primeiros protótipos, batizados como Tintin A e Tintin B. A expectativa é que os primeiros sinais de comunicação sejam enviados a estações em terra nesta sexta-feira.
“Não diga a ninguém, mas a senha do Wi-Fi é ‘marcianos’”, brincou Musk.
O engenheiro da SpaceX Tom Praderio explicou que os protótipos servirão para a coleta de dados antes do lançamento e operação da constelação de satélites que fornecerão serviços de internet. Entretanto, ressaltou que “mesmo se os satélites operarem como planejado, ainda existe trabalho técnico considerável para projetar e lançar a constelação de satélites”.
— Este sistema, se bem-sucedido, poderá fornecer a pessoas em regiões com densidade populacional de baixa a moderada em todo o mundo acesso a serviços de internet de alta velocidade a preços acessíveis, incluindo muitos que nunca tiveram acesso à internet antes — disse Praderio, em coletiva após o lançamento.
A criação de uma rede com 12 mil satélites pode parecer loucura, mas é perfeitamente viável para uma empresa como a SpaceX. Nesta semana, os equipamentos pegaram uma “carona” num foguete contratado para o lançamento de um satélite espanhol. Já a Sky and Space Global fechou parceria com a Virgin Orbit, uma empresa do Grupo Virgin, do bilionário Richard Branson, que está desenvolvendo um sistema de lançamento a partir de um Boeing 747-400 modificado.
Existe ainda o projeto da OneWeb, que planeja o lançamento de 882 satélites em parceria com a Blue Origins, empresa de lançamento do fundador da Amazon, Jeff Bezos. A empresa já levantou US$ 1,7 bilhão em fundos e planeja a oferta dos primeiros serviços para 2019.

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