Da Rádio França Internacional
Nesta semana Trump anunciou que o
comando da política ambiental irá para um político que já disse não acreditar
no aquecimento global. Para posto equivalente ao de ministro do Trabalho, ele
vai nomear o presidente de uma rede de fast food que é contrário a qualquer
aumento do salário mínimo e inimigo declarado das centrais sindicais. Para a
Secretaria da Habitação, Trump escolheu o cirurgião Ben Carson, que já
reconheceu publicamente nada entender de projetos habitacionais.
Ben Carson foi escolhido para a
Habitação, entre outros motivos, por ser negro, já que Trump promete projetos
voltados para a comunidade negra nas grandes cidades, que votaram em peso em
Hillary. E, para a Educação, ele escolheu a bilionária Betsy DeVos, crítica
justamente das escolas públicas do país.
A imprensa e a opinião pública
estão mais surpresos do que satisfeitos com um governo que cada vez mais parece
uma mistura de ultraconservadores com amigos pessoais de Trump. As últimas três
nomeações fizeram com que ecologistas, cientistas, acadêmicos e sindicalistas
recorressem à velha imagem da raposa tomando conta do galinheiro.
Polêmica
O caso mais sério é o da escolha
do advogado-geral do estado de Oklahoma, Scott Pruitt, como o novo diretor da
Agência de Proteção do Meio Ambiente (Environmental Protection Agency - EPA).
Já no anúncio da escolha, Trump
enfatizou a criação de empregos e a implantação de uma nova política
energética, menos verde e mais tradicional.
Pruitt será o primeiro comandante
da EPA a questionar o consenso científico das causas das mudanças climáticas e
do aquecimento global. E mais: ele se notabilizou politicamente justamente
processando o governo de Barack Obama e se tornando o inimigo número um da
indústria da energia alternativa.
Muito próximo das grandes empresas
de petróleo e gás, Pruitt, ironicamente, passou cinco anos no comando da
Justiça do Oklahoma combatendo a agência que agora irá comandar. E, sendo muito
próximo dos lobistas do petróleo, ele ignorou solenemente os avisos de
cientistas de que a prática de extração de gás no estado através da fratura
hidráulica, o chamado fracking, aumentaria o risco de terremotos, o que se
comprovou nos últimos anos.
Gabinete controverso
Trump corre o risco de desagradar
parte de seu eleitorado, já que durante a campanha presidencial ele acusou
Hillary Clinton de ser próxima dos lobistas de Washington. Só que o seu novo
ministério é recheado de nomes ligados ao grande capital e aos lobistas da
capital americana.
O novo secretário do Tesouro,
Steve Munchin, por exemplo, era uma das estrelas do Goldman Sachs, justamente o
banco que Trump dizia ser a encarnação do que há de pior em Wall Street. O novo
secretário do Trabalho, Andrew Pudzer, é um dos maiores inimigos dos sindicatos
e defende o investimento maciço em robôs para substituir empregados do setor
alimentício.
Para o Comércio, Trump escolheu um
milionário, Wilbur Ross, dono de minas de carvão. Para a Saúde, o deputado Tom
Price, soldado aguerrido do lobby dos planos de saúde e inimigo número um de
qualquer reforma da saúde que inclua uma opção pública.
O novo gabinete, pois, é um dos
maiores paradoxos do gabinete Trump. É bom que se diga que um dos principais
postos do novo governo, o de secretário de Estado, só será anunciado na semana
que vem. Se for confirmado, o ex-governador Mitt Romney terá o ministério com
as contas bancárias mais recheadas de todos os tempos nos EUA.
Como se não bastasse, na área da
Defesa há um trio de generais da reserva em postos-chave, como o aposentado da
Marinha James Mattis, de 66 anos, apelidado de “Cachorro Louco” (Mad
Dog), que será o secretário do Departamento de Defesa. Todos com posições
radicais contra o Irã e que defendem uma mudança de eixo da política externa
americana, a ser mais focada no combate ao terrorismo de fundo islâmico e no
apoio ainda mais incondicional a Israel, deixando em segundo plano o Extremo
Oriente e a Autoridade Palestina.
Em resumo, é uma guinada radical
em relação ao governo Obama e com pouca possibilidade de oposição dos
democratas, que são minoria no Legislativo, tanto no Senado quanto na Casa dos
Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados).
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