Jornal do Comércio, edição 209
Antes de ser eleito prefeito do
município de Paulistana, no Piauí, quase ninguém conhecia Gilberto José de Melo
pelo nome de batismo. Se alguém perguntasse onde morava o Didiu, logo aparecia
um monte de gente para dizer onde era, porque foi assim que ele ficou conhecido
desde criança, quando ganhou o apelido dado por um irmão mais velho, cuja
origem ele não faz a menor ideia.
Paulistana é um município da região Sudeste
do Piauí, que hoje tem cerca de vinte e um mil habitantes, mas, que poderiam
ser perto de oitenta mil, se não tivesse ocorrido o desmembramento de quatro
distritos que viram municípios. Fica no sertão do estado, distante mais ou
menos cinquenta quilômetros em linha reta da divisa com o estado de Pernambuco.
O leitor deve querer saber o que
Paulistana tem a ver com Itaituba, para ser matéria de capa no Jornal do
Comércio. Simples: o senhor Gilberto José de Melo tem um pé lá, e outro cá no
Pará, no caso específico, em Itaituba. E trouxe sua empresa, a Didiu Importados
para ficar. Tanto que inaugurou há poucas semanas, um moderno prédio próprio,
na principal rua do comércio local. Ele abriu um espaço em sua concorrida
agenda, para conversar com nossa reportagem a respeito de sua vida de um modo
geral.
JC - Onde o senhor
nasceu, e como foram os seus primeiros anos de vida?
Didiu – Eu nasci no
município de Uricuri, em Pernambuco, filho de José Orácio de Melo e Ercília
Esmera de Jesus, que tiveram quinze filhos. Meu pai trabalhava na roça, tocando
a agricultura e a pecuária. Dois dos meus irmãos mais velhos entraram para o
comércio, como vendedores ambulantes, atividade na qual também eu envolvi desde
muito novo. Perdi minha mãe quando tinha apenas um ano e três meses, e por
isso, meu irmão mais velho passou a ser para mim um segundo pai. Foi através
dele que eu me tornei comerciante.
Fazendo feiras nos estados de
Pernambuco e Piauí, eu conheci Raimunda Ana Coelho, que mais tarde, quando
casamos, acrescentou o Melo em seu sobrenome, na cidade de Paulistana, no
Piauí. Isso foi em 1977. Somos casados até hoje. Terminei ficando por lá. Em
1993, sem querer, eu entrei na política.
JC – Chegou a
trabalhar na roça?
Didiu – Ah, eu trabalhei
muito na roça! Meu pai era um empregador na região, mas aquele empregador que
ia com os filhos para o trabalho duro, de segunda a sábado, com descanso apenas
no domingo. A gente plantava arroz, feijão, milho, mamona e algodão, além da criação
de gado. Enfrentamos muitas dificuldades com secas. Eu saí da roça por causa de
uma pesada seca que houve em 1976. Meu pai e outros irmãos ficaram. Saí com
pouca coisa. Coloquei uma barraquinha na feira, com um metro de largura por
dois metros de comprimento, vendendo roupa. Eu comprava primeiro em Juazeiro do
Norte e depois conheci a famosa Feira da Sulanca, em Caruaru e por aí fui em
frente.
Mesmo depois que eu abri minha primeira
loja, na cidade de Paulistana, continuei vendendo de feira em feira e cheguei a
ter quatro caminhões. Cada caminhão tinha cinco pessoas que trabalhavam com a
gente.
JC – Como surgiu esse
apelido de Didiu
Didiu – Eu não sei. Acho
que vem desde muito pequeno. Na minha família, dos quinze irmãos, quase todos
tem um apelido. Tenho um irmão cujo nome é Ermelino, mas, só é conhecido por
Samuel. Eu acho que é porque eu saí baixinho, numa família na qual, excetuando
eu e uma irmã, todos os outros irmãos são bem graúdos.
JC – Os irmãos
continuam em Pernambuco?
Didiu – Dos quinze irmãos,
somente um faleceu vítima de infarto. O mais velho, que eu considero como um
pai, ainda mora na cidade de Uricuri, onde virou político há muitos anos, tendo
sido vice-prefeito, prefeito e vereador do município. Um filho dele já foi
prefeito por dois mandatos e tenho uma irmã que foi prefeita de Santa Filomena,
antigo distrito de Uricuri, que era onde a gente morava.
JC – A empresa Didiu
nasceu em Paulistana?
Didiu – Exatamente.
Tornei-me comerciante estabelecido lá. Eu viajava como vendedor ambulante pelos
estados do Piauí, Maranhão, Tocantins e um pouco do estado de Pernambuco, mas
voltava sempre para Paulistana, onde já tinha inaugurado a Didiu Variedades,
que vendia um pouquinho de tudo, sem deixar de continuar andando de feira em
feira. Isso faz mais de trinta anos.
Já com os filhos criados, estudante em
Teresina, após muitas andanças, chegando sempre muito perto do estado do Pará,
eu tive uma vontade de mudar a maneira como desenvolvia o meu comércio. Em vez
de continuar sendo um comerciante ambulante, resolvi que deveria montar uma
loja em uma cidade grande.
Um dia eu saí da cidade de Paulistana, com
destino a Araguaína, no Tocantins, com a ideia de que se lá não desse certo, eu
iria até Marabá, no Pará. Como não consegui um ponto como eu queria, fui até
Marabá, que terminei me agradando, e foi assim que eu me instalei no Pará, no
ano 2000. Hoje o grupo conta com dezessete lojas no Pará e uma no Piauí, que é a
primeira de todas, lá em Paulistana.
Montei essa loja em Marabá com a intenção de
ser um pequeno varejista, mas, deu certo e me tornei um pequeno atacadista, que
vende muita mercadora para toda a região da Transamazônica, inclusive para
Itaituba, antes de vir para cá. Hoje, juntando todas as lojas, o Grupo Didiu
gera em torno de 250 empregos.
JC – Como foi que
Itaituba entrou no roteiro do Grupo Didiu?
Didiu – Há quase sete anos
eu cheguei à cidade de Itaituba, alguns anos depois de ter entrado no Pará, por
Marabá. Vim aqui, mas meus filhos tinham vontade de que a gente se instalasse
em Santarém, mas, não conseguimos um ponto como a gente queria. Então, viemos
para cá, e passamos um dia andando pra cima e pra baixo aqui na Rua Hugo de
Mendonça, atrás de um ponto. Não conseguimos.
Apareceu esse ponto na frente da cidade
(Av. São José), que eu visitei com meus três filhos que estavam comigo. O mais
velho não ficou nem um pouco animado. Disse que ali não daria certo. Mas, com a
experiência de vida, eu lhe disse que a gente teria um lucro de X em doze
meses, e ele retrucou falando que se conseguíssemos a metade do que eu previ,
estaria muito bom.
Ao final do tempo marcado, tínhamos
obtido 2X com sobras. Já tinha dado certo. Aí, surgiu esse ponto na Rua Hugo de
Mendonça, sobre o qual a gente já tinha conversado com a dona. Quando ela me
ligou, em 2010, nós compramos esse imóvel. Há um ano e pouco começamos a
construção do prédio, um investimentos alto, mas com certeza, vai ser garantia
de mais sucesso, pois é assim que nós trabalhamos.
JC – A crise não
assusta o empresário Didiu?
Didiu – A crise é real,
ela existe e isso a gente não pode negar. Mas, ela derruba, seja no comércio,
ou na política, quem não tem o controle da situação. Se estiver bom, a gente administra
de um jeito; se estiver ruim, com promessa de piorar, a gente tem que apertar o
cinto. E por isso eu posso dizer que nos nossos negócios nós não temos tanta
crise. Damos prioridade a ter o nosso lucro pelo volume de nossas vendas.
Ganhamos pouco em cada unidade vendida, mas, temos lucro na circulação rápida e
no volume de venda da nossa mercadoria. Tem loja nossa, que entre 2014 e 2015
teve um crescimento mensal nas vendas, entre 15% e 20%.
JC – Como se deu seu
ingresso na política?
Didiu – Desde que o
município de Paulistana foi emancipado, há setenta e sete anos, havia uma
disputa acirrada entre duas famílias que dominavam o poder. Quando eu me fixei
lá, depois de casar com uma filha do lugar, começou e se montar um terceiro
grupo.
Um médico vindo de fora, João
Crisóstomo de Oliveira, que se tornou muito popular, como candidato a prefeito,
e este humildade comerciante, também vindo de fora, como candidato a vice,
decidiram encarar um desafio difícil, que seria vencer as duas famílias rivais,
que resolveram se juntar para disputar a prefeitura. A população resolveu mudar
e nós fomos eleitos. Foi uma grande vitória.
Eu nunca tinha pensado em entrar em política,
mas, o grupo dos médicos que apoiava a chapa e os comerciantes insistiram, até que
eu aceitei. Eu fiquei por duas vezes como prefeito interino, e devo ter
correspondido às expectativas e ficou meu nome implantado. Mas, houve um racha,
tendo saído o médico de um lado e eu de outro. Ele venceu a eleição. Fiquei
muitos anos afastado da política, e quando foi em 2008 eu resolvi voltar a
disputar uma eleição novamente, já morando no Pará, em Marabá. Perdi por 305
votos, mas, considerei como uma vitória. Em 2012, embora não pretendesse mais
disputar, mas, por conta de muita pressão da população e do governador da
época, terminei me candidatando e vencendo a eleição.
Hoje, depois de ter feito um
enxugamento da máquina administrativa, mantendo os salários em dia, pagando os
fornecedores, realizando muitas obras e mantendo uma administração transparente,
parece que o Didiu caiu definitivamente nas graças da população, ao ponto de
não haver, até agora, nenhum pré-candidato de oposição que tenha se apresentado
com disposição para me enfrentar na eleição de outubro deste ano, caso decida
concorrer a um segundo mandato, pois isso ainda vai depender de uma reunião com
minha família, pois a política toma muito tempo.
A transparência é uma
das marcas da nossa administração. No último quadrimestre que meu governo
prestou contas, estive na Câmara Municipal das nove da manhã às cinco da tarde,
pessoalmente, respondendo aos questionamentos dos munícipes. Não tenho nada a
esconder da população; gosto de participar diretamente dessas prestações de
conta, pois quando fui eleito tive sempre em mente trabalhar pelo meu
município, mostrando sempre para onde está indo o dinheiro do contribuinte. É a
velha história do, quem não deve, não teme.
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