domingo, junho 01, 2014

Hidrelétrica do Tapajós divide terras e opiniões de um vilarejo

O futebol é a grande atração dos moradores aos finais de semana em Pimental (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)
O futebol é a grande atração dos moradores aos finais de semana em Pimental (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)
Há pelo cinco anos, uma comunidade erguida às margens do rio Tapajós segue atormentada por um boato que pode, em breve, se tornar realidade: a construção de uma hidrelétrica sobre suas terras. Em meio à floresta amazônica, no sudoeste do Pará, a vila Pimental fica exatamente na área cotada para receber a usina São Luiz do Tapajós, uma das 40 obras previstas para a região no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Se a hidrelétrica sair do papel, Pimental será cortada ao meio por uma barragem. Seus moradores darão lugar a toneladas de pedra, ferragem e cimento usados na construção. As ruínas do que um dia foi um vilarejo ficarão submersas pelo imenso lago do reservatório.
Antes mesmo de a obra chegar e dividir a vila no sentido literal, Pimental já se encontra rachada no sentido figurado. Seus moradores travam diariamente uma disputa em torno do tema. Estão organizados em dois grupos com pontos de vista contrários. De um lado, os entusiastas dizem que a usina trará empregos, arrecadação de impostos, melhorias na saúde e na educação. No outro extremo, os contrários afirmam que a barragem virá acompanhada por um falso progresso, transformará a rotina tranquila da região, fará saltar a violência e o custo de vida. Embora tenha se intensificado nos últimos anos, a briga ideológica precede a notícia da construção.
No passado, Pimental pertencia à cidade de Itaituba, uma das maiores da região. A vila então passou a fazer parte de Trairão, um município menor e com menos recursos, sem que a comunidade fosse consultada, sequer avisada. Os moradores vinculados a Itaituba ficaram revoltados; os simpáticos a Trairão não se opuseram. Formou-se, assim, a primeira rixa do vilarejo, uma briga política e por disputa de influência. Mais novo objeto de desavença, a usina tem exaltado os ânimos e aumentado a intolerância local.
Os movimentos rivais são liderados por Silvim, favorável à hidrelétrica, e por CAK, contrário. Seguidores de ambos estão por toda parte e fazem questão de deixar claro, logo numa primeira conversa, de qual lado se posicionam. Os líderes, a despeito de a vila ser pequena, evitam frequentar os mesmos lugares. Se Silvim está na igreja, CAK não entra. Certa vez, os grupos chegaram a sair no braço. Eram meados de 2011. O governo federal havia contratado uma empresa de pesquisas para perfurar as rochas da região e avaliar se o solo é próprio para a construção. Ao saber da chegada dos trabalhadores, a turma do CAK fechou a ponte que dá acesso à vila. Cerca de dez seguidores de Silvim, revoltados com a oposição, invadiram a casa onde seus inimigos se reuniam e partiram para a briga. “Eles não são donos daqui, não podem falar pela comunidade toda”, afirma Silvim. CAK rebate: “Não conheço um lugar do Brasil que melhorou com as hidrelétricas. Se precisar, vamos ser ainda mais radicais. Quem sabe não amarramos alguém da empresa numa próxima vez?”.
A matéria de um blog da revista Época é  bem mais extensa e foi enviada para o blog pela jornalista Cleidiane Vieira. Na próxima edição, o Jornal do Comércio a publicará na íntegra


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