Lá
na rua e na praça não se viu – e jamais se verá – nenhum Marinho, nenhum
Sarney, nenhum Barbalho, nenhum Maiorana. Para estes, o povo deve permanecer na
virtualidade da distância e, de preferência, como objeto de tentativas de
manipulação. De perto, o povo é “perigoso” e malcheiroso. Francisco provou o
contrário. É quando o gesto dispensa a palavra.
Na chegada ao Rio, tocando e deixando-se tocar pelas mãos do povo veja.abril.com.br |
(por M. Dutra) - Ao desfilar num carro simples,
janelas abertas e com muito pouca e, nalguns momentos, com nenhuma segurança
visível pelas ruas centrais do Rio de Janeiro, o Papa Francisco horrorizou as
elites políticas, eclesiásticas e midiátias do Brasil e do mundo ocidental.
Afinal, qual o líder político ou empresarial, qual o cardeal com as suas
púrpuras tradicionais têm coragem de repetir o gesto? A questão ultrapassa a
mera possibilidade do surgimento de algum maluco com uma pedra à mão, uma faca
ou um revólver. A questão central é a aproximação do povo. As elites de poder
temem o povo porque sabem que têm o que temer.
(por M. Dutra) - Ao desfilar num carro simples,
janelas abertas e com muito pouca e, nalguns momentos, com nenhuma segurança
visível pelas ruas centrais do Rio de Janeiro, o Papa Francisco horrorizou as
elites políticas, eclesiásticas e midiátias do Brasil e do mundo ocidental.
Afinal, qual o líder político ou empresarial, qual o cardeal com as suas
púrpuras tradicionais têm coragem de repetir o gesto? A questão ultrapassa a
mera possibilidade do surgimento de algum maluco com uma pedra à mão, uma faca
ou um revólver. A questão central é a aproximação do povo. As elites de poder
temem o povo porque sabem que têm o que temer.
Qual líder político tem coragem de encarar os seus eleitores dessa maneira? Quais os poderosos que podem imitar o Papa? gersonpaz1978.wordpress.com |
Ao desfilar num carro não blindado (como fazem os donos do
poder) e de janelas abertas, o Papa Francisco talvez tenha sido mais
missionário do que se tivesse feito um sermão sobre a decência pública, sobre o
respeito a que o povo tem direito e sobre como devem se comportar todos aqueles
sobre cujos ombros recai o dever de trabalhar pelo povo, escolhidos que foram
pelo voto do povo, ou que, no caso dos meios de comunicação, receberam uma
concessão pública para cumprir o que está na Constituição e não para açambarcar
a posição de dizerem e mostrarem o que bem entendem e até mentir, quando a
Constituição determina que os meios de comunicação estão para o serviço público
e não a serviço particular, familiar.
Sintomáticas as notícias publicadas nos principais meios de comunicação
do Brasil, dos USA e da Espanha, além de outros países de tradição “católica”,
repartindo a “culpa” pela aglomeração em torno do carro do Papa a ele próprio,
o Papa, e de raspão, aos encarregados de sua segurança. No Brasil, críticas
partiram de cardeais e bispos norte-americanos segundo os quais foi o próprio
Francisco que se colocou no meio da rua sem segurança diante do povo.
No fundo, esse setor da Igreja não engoliu a eleição do papa
argentino, que chegou falando em cristianizar a cúpula da Igreja, reformar o
IOR, o banco do Vaticano, que chegou de modo simples, deixando de lado a pompa
antiga que difere essencialmente do que diz o Evangelho. Entre estes e os
demais críticos do passeio do Papa pelas ruas Rio estão muitos outros que
preferem ver o papa como um monarca, cuja atitude seja um aval para os velhos
esquemas de poder civil e religioso. Gostariam de um papa apenas falando de
aborto, que viesse condenando o homossexualismo, que condenasse a Teologia da
Libertação, que se contentasse com o interior das catedrais e passasse ao longe
da multidão e das favelas . Tudo, aliás, menos um papa que fale da simplicidade
e da necessidade de se combater a desigualdade sobre a qual se assenta o
capitalismo e todas as demais formas de ambição e ganância antievangélicas. Por
isso, condenam os “riscos” que Francisco “criou” para ele mesmo nas ruas do
Rio, deixando abertas as janelas de seu carro, tocando e deixando-se tocar pelo
povo simples das ruas.
O oposto: helicópteros que transportam o governador do Rio, sua família e sua cachorrinha para as praias, à custa do contribuinte. www.fmanha.com.br |
No dia da chegada de Francisco, as brigas de rua que se viram na
TV nada tiveram com o Papa. Tiveram com o governador do Rio, aqui visto como
signo da quase totalidade dos políticos brasileiros, encastelados nos seus
palácios, curtindo as maravilhas do poder em seus helicópteros, assim como
membros do judiciário alterando a data de seu nascimento para prolongar
benesses à custa dos nossos impostos, juiz “herói” nacional apanhado com a boca
na botija comprando apartamento em Miami, empresa de comunicação que não paga
impostos federais e assim por diante, a lista iria longe. Qual destes se
aventura a um passeio pelas ruas de sua cidade, a não ser cercados de
seguranças ou por detrás de vidros à prova de choque?
Francisco detonou todo esse esquema corrupto apenas com a sua
passagem pelas ruas centrais da Cidade Maravilhosa. É quando o gesto dispensa a
palavra.
Fonte: blog do Manuel Dutra
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