quinta-feira, janeiro 31, 2013

50 anos de idade, 25 de comunicação

Ivan de Jesus Pereira de Araújo vive um momento especial de sua vida. No começo deste ano de 2013, no dia 6 de janeiro, ele completou 50 anos de idade, metade dos quais dedicados à comunicação. Este ano a TV Tapajoara, emissora da qual é diretor, completa 25 anos de atividades. Sua contribuição para o desenvolvimento desse importante setor da vida moderna é muito grande, além de sua dedicação para o resgate e a consolidação da cultura de Itaituba.


Apesar de tudo isso, será que Itaituba conhece bem Ivan Araújo, ou sabe apenas uma parte da história de sua vida? Por essa razão, o Jornal do Comércio dedicou espaço especial nesta edição, afim de que esse baluarte da comunicação conte tudo sobre si mesmo, num verdadeiro Raios-X dele.

JC – Data e local de Nascimento...

Ivan: Nasci na madrugada do dia de reis, (6 de janeiro) de 1963, na cidade de Pinheiro estado Maranhão, um ano antes do golpe militar no Brasil, quando José Sarney já era poeta e dono daquele lugar.

JC – Fale a respeito de sua infância e juventude...

Ivan: Fui vivendo e crescendo com meus sonhos de jogador frustrado, entre as aulas do grupo escolar e as peladas num campinho improvisado. De um igarapé ao outro, com meu calção encharcado e os pés enlameados do que chamamos de tabatinga dos igapós, assim corria como a maioria dos meninos, sem nenhum medo da vida.  Brinquei muito, estudei, minha primeira professora foi minha irmã mais velha.  Aprendi a rezar com minha mãe, mas também comecei ajudar meu pai muitas vezes na lavoura, no plantio de tabaco, onde recebia uns trocados e aos 7anos, realizei um grande sonho, tomar uma lata de leite moça sozinho. E assim fiz nos altos de um cajueiro. Portanto, tive uma infância e adolescência feliz nas devidas proporções.     

JC – Como se deu a mudança para o estado do Pará e o que a motivou?

Ivan: Como acontece com a maioria dos nordestinos, a migração para outras regiões é sempre a questão econômica, e consequentemente, a busca por uma melhor qualidade de vida. No caso da minha família não foi diferente. O processo migratório foi acontecendo gradativamente.

Na metade dos anos de 1970, enquanto o Brasil ganhava mais uma copa, uma das minhas irmãs casou com um Topógrafo que trabalhava no 8º. Batalhão de Engelharia em Santarém.  Esse casamento foi um divisor de águas para nossas vidas. Eu e meus pais fomos os últimos da família a vir para terras santarenas em 1974, tinha eu então, 11 anos de idade. 
   
JC – Onde você estudou?     

Ivan:  Conclui o ensino fundamental na Escola Almirante Soares Dutra, em Santarém e o ensino Médio no Álvaro Adolfo da Silveira. Paralelo a isso também estudei dois anos de eletricidade no SENAI e uma graduação em Sociologia na ULBRA.  

JC - Com que idade, qual foi sua primeira ocupação, quando e onde começou a trabalhar?

Ivan: Minhas primeiras ocupações foram trabalhando como autônomo, aos 16 anos. Com o curso que tinha feito no SENAI fazia pequenas instalações elétricas e rebobinagem de motores. Desisti da profissão quando tive que enrolar uma bobina que era maior que eu, não conseguindo colocar na ranhura do rotor. Isso aconteceu em Santarém. Meu primeiro emprego de carteira assinada foi na TV Tapajós. 

JC – Como se deu seu ingresso no ramo da comunicação, em que cidade e qual a função que exerceu inicialmente?

Ivan: Em 1978 a TV Tapajós, de Santarém, começava suas transmissões em fase experimental. O Dr. Denis Brandão, engenheiro responsável pelo projeto precisava de alguns estagiários para a emissora. Eu era recém-formado no curso técnico. Wilson Calderaro, diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, onde fiz o curso, me indicou.  E assim foi meu ingresso no ramo da comunicação.

JC – Fale de sua passagem pela TV Tapajós...

Ivan: Tudo começou mesmo na TV Tapajós de Santarém como estagiário. Depois fui operador de áudio, de VT, iluminador, cinegrafista, Telecine, revisor de filme, operador de telex e assistente técnico. Tudo isso foi um grande aprendizado, pois, tive a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da televisão, como o engenheiro eletrônico Denis Brandão, hoje chefe do núcleo de engenharia da TV Liberal e outros.    A TV Tapajós foi minha grande escola. Na época da sua implantação era a afiliada da Globo mais moderna da região norte, isso foi notícia dentro do Jornal Nacional.

JC – O que lhe motivou a mudar-se de Santarém para Itaituba? Houve ligação direta com a comunicação?

Ivan: Foi bem inusitada minha mudança da Pérola do Tapajós para a Cidade Pepita.  Enquanto lamentava a derrota do Brasil para Itália em 1982, aproveitei para tirar férias da Tapajós e vir para Itaituba a passeio, onde fiquei na casa da minha irmã e do meu cunhado Rai-Fran. Tudo aconteceu no aniversário da Ana Lídia Oliveira, quando me deparei, com Chico Caçamba e Altamiro Raimundo, sentados em uma mesa com suas respectivas esposas e fui apresentado pelo Rai-Fran aos pais da televisão Itaitubense. Chico Caçamba sonhava com uma televisão de verdade, e eu embarquei nesse sonho do Chico, aceitando seu convite para trabalhar em sua televisão. Depois de um banho delicioso nas águas da sonda, voltei para Santarém somente para pedir desligamento da Tapajós e pegar minhas coisas e ser um Itaitubense por convicção . 

JC – Como foram os primeiros anos de trabalho nessa atividade em Itaituba?

Ivan: A mudança foi algo paradoxalmente estonteante, pois sair de uma emissora que era tecnicamente referencia nacional na época e deparar com algo muito doméstico, foi um tremendo choque. Só para você ter uma ideia, a betoneira de corte era um teclado de liquidificador e a mesa de áudio uma caixa coberta com uma bandeja daquelas de servir café, onde ficavam os potenciômetros, e mesmo assim se produziam programas locais.  Já havia grandes profissionais que faziam verdadeiras mágicas, como: Nazaré Nanci, que tinha vindo da Rede Amazonas e era diretora de programação, além de Marilene Silva, Aroldo Pedrosa, Norton Franklin, Sebastião Lima e outros. A TV Itaituba, canal 6, era retransmissora da programação da Globo. Funcionou de 1980 até 1985, quando teve seus transmissores lacrados pelo Departamento Nacional de Telecomunicações DENTEL.

JC – O salário era compensador?       

Ivan: O salário pago pelos diretores não era grande coisa, mas dentro da realidade econômica do município dava para sobreviver, até por que a emissora era subsidiada pelos próprios diretores que eram empresários bem sucedidos em Itaituba.

JC - Lembre de alguns detalhes que você considera interessantes, ou pitorescos daquele tempo, como a necessidade de ser muito criativo para que o trabalho fluísse, condições técnicas da época, interferência dos donos, etc...

Ivan: Lembro sim de muitas dificuldades, principalmente na área técnica. Para se gravar uma externa tinha que levar uma câmera que tinha um vídeo externo e grande, a gente empurrava em um carrinho de mão e ainda uma bateria de moto que era a menor que tinha. O refletor era uma cruz com varias lâmpadas. Um dia fomos gravar um incêndio na Hugo de Mendonça, no corre, corre o carrinho quebrou, foi equipamento para tudo que foi lado, terminou que não gravamos nada. Em relação à interferência dos donos isso sempre existiu, mas um fato marcante para mim foi quando o Antonio Cardoso, o Popular Dafinha, veio para Itaituba e fez um trabalho no Estádio Olegário Furtado, cercando-o todo de madeira para um jogo que ele estava promovendo. Então, se dirigiu até a casa do Samuel Bemerguy, o Samuca, que também era um dos donos da emissora pedindo que ele tirasse a TV do ar, devido o seu evento, pois, ia atrapalhar. Imagina só qual era o jogo que ia passar, somente da Seleção Brasileira. Claro que o pedido não foi atendido.

JC – Naquele tempo de muita violência em Itaituba, você ou alguma colega de trabalho enfrentou alguma situação de alto risco?

Ivan: Apesar da violência e dos conflitos sociais, o município naquela época ainda era área de segurança nacional, pois vivíamos sob o regime militar; a direção da emissora tinha grande amizade com o comando do 53º. BIS, que nos respaldava muito. Mesmo assim, o próprio exército, levou o colega Aroldo Pedroso para “passear” por duas vezes. O motivo foi um evento de musica chamado Festival da Democracia, mas nada de mal lhe aconteceu.        

JC – Relembre um pouco de sua passagem pela Rádio Itaituba, incluindo a experiência como repórter esportivo...

Ivan: Minha Passagem pela rádio Itaituba foi em função do fechamento da TV Itaituba em 1985. Ficamos sem emissora de televisão por três anos. Nesse período o principal veiculo de comunicação era o Jornal Folha de Itaituba, do Peninha. Então fiquei quase três anos trabalhando com meu cunhado, comprando ouro. No inicio de 1988, o empresário Aldo Inácio montou a Rádio Itaituba e me convidou para trabalhar como operador. Mais Tarde, o Jornalista Jota Parente veio de Santarém para dirigir a emissora; aí precisava, além de montar toda a programação, de uma equipe de esporte, e me convidou para fazer um teste. E assim começou minha curta carreira de repórter esportivo. A lembrança maior e que saí de um jogo entre Grêmio e América escoltado pela policia, pois, a torcida queria me pegar.

JC - Depois disso, veio o retorno para a TV, via TV Itaituba, que logo passou a se chamar TV Eldorado. Lembra-se dos detalhes dessa passagem de sua vida? O que mais lhe marcou nesse capítulo de sua vida?

Ivan: Sim. Recordo-me que o empresário Wilmar Freire comprou os direitos de retransmissão do canal 6, do Seu Mané, entregando para o Jota Parente cuidar de toda restauração da emissora, foi quando fui chamado novamente para trabalhar na parte de implantação técnica, com Jota Parente, onde ficamos até 1993.        

JC – De um modo geral, sua caminhada na TV Tapajoara é bem conhecida. Coisas que aconteceram lá pelos anos 1990 já foram es         quecidas. Conte como foram aqueles anos...

Ivan: Em 1990 nós ainda estávamos na Eldorado e Itaituba passava por grandes transformações socioeconômicas. O ouro já se tornava escasso e as mazelas sociais aumentavam, mas o processo de aceleração da globalização avançava, com achegada do linhão de Tucuruí e abertura de novas emissora de Rádio, Televisão e Internet. A cidade começava a ganhar cara de administração pública com calçamentos das ruas.

JC – Fale sobre sua experiência como diretor da TV Tapajoara...

Ivan: Eu sempre imaginei fazer uma televisão mais próxima possível da comunidade, com qualidade técnica, o que sempre foi uma dificuldade no interior. A construção dessa idéia já havia, tanto na gestão do Silvio Macedo por ser muito popular, como do Jota Parente que popularizou o esporte no SBT, que nunca teve nenhuma tradição, com a criação do Focalizando. Então, a vocação por um conceito de televisão de proximidade já existia. O que fizemos foi gerar uma política editorial que não se assente apenas em critérios políticos e econômicos, mas que trabalhe com pautas produzidas dentro da comunidade nas linguagens artísticas e esportivas. Isso se tornou o principal diferencial da TV Tapajoara.

JC – Quais são seus projetos atuais e para o futuro?

Ivan: O principal projeto pessoal para esse ano é fazer uma pós em Antropologia. Em relação à emissora, temos o aumento da potência da rádio para ampliar nosso leque de atuação e também expandir o sinal da Tapajoara nos municípios vizinhos.      

JC - Se pudesse reescrever sua história de vida, produziria um roteiro diferente, ou apenas mudaria pouca coisa do que fez?

Ivan: Mudaria sim, somente pela misericórdia e a graça de Deus estou hoje aqui, porque os caminhos que outrora caminhei foram perigosos.  Hoje com uma consciência espiritual, sei exatamente para onde devo caminhar. O legado que construímos juntamente com toda equipe Tapajoara é responsável diretamente por grandes transformações sociais, políticas e cultural neste município. E ainda é muito pouco, precisamos avançar muito mais.

Matéria da edição 153 do Jornal do Comércio, que está circulando


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