Com o preço do ouro nas alturas – R$ 105,00 no dia
20/09/12 - o chamado precioso metal é motivo de busca cada vez maior, tanto por
mineradores e garimpeiros, quanto por investidores interessados em adquirir um produto
com a liquidez e a segurança dessa milenar forma de aplicação financeira e
proteção patrimonial. Por essa razão, a província mineral do Tapajós tem sido
alvo de um aumento desenfreado do número de balsas e de retroescavadeiras, as
famosas PCs, que dragam e cavam o leito e as margens do rio em busca de ouro.
Se
por um lado existe a tendência de aquecimento da economia de Itaituba e de
outros municípios do sudoeste paraense onde há exploração, por outro lado
pratica-se um crime ambiental cujas conseqüências poderão ser sentidas muito
mais cedo do que se possa imaginar por causa das milhares de toneladas de terra
que são removidas diariamente, toldando-se as águas dos Tapajós e de vários de
seus afluentes.
A
reportagem do Jornal do Comércio conversou com o secretário de Meio Ambiente,
Ivo Lubrinna, a respeito dos investimentos que estão sendo feitos por empresas
mineradoras, que atendem às exigências da legislação, as quais trabalham
procurando diminuir ao máximo qualquer impacto ambiental. Tratou, também, dessa
questão da exploração de qualquer jeito, que precisa ser urgentemente combatida
pelas autoridades competentes, incluindo a Semmap.
“O
momento é de fato muito favorável por causa do elevado preço do ouro. Para se
ter uma ideia, as empresas que estão se instalando aqui trabalham com uma base
cálculo para o preço do ouro entre 850 a 1.000 dólares a onça (31.1 gramas),
enquanto hoje a gente está com o valor acima de 1.500 dólares. Isso tem uma
grande importância, tanto para os pequenos garimpeiros, quanto para as
empresas. Assim sendo, permanecendo como
está, e não há tendência de queda em curto e médio prazo, o que se espera é que
a atividade no Tapajós continue crescendo. Some-se a isso o fato da grande
demanda por ouro por parte da China e da Índia para fabricação de jóias”, disse
Ivo.
Atualmente,
segundo o secretário, mais de vinte empresas estão instaladas na província
aurífera do Tapajós fazendo pesquisas. Dessas todas, o Projeto Tocantinzinho é
o que encontra mais avançado, tendo saído no dia 28 de agosto o parecer da
COEMA, favorável ao empreendimento. Ainda no mês de setembro está sendo
aguardada a liberação da Licença Ambiental. Esse investimento de cerca de 400
milhões de dólares tem o início da fase de produção previsto para 2015.
Trata-se de algo em torno de mais de 800 milhões de reais.
Além
do ouro, que é o metal que mais atrai exploradores por causa do preço, outros
minerais também são explorados em menor escala no Tapajós. Segundo o secretário
de Meio Ambiente, o Tapajós está produzindo atualmente, também diamantes, que é
outro mineral motivo de grande cobiça, em razão de seu elevado preço. Há algum
tempo houve uma pequena exploração próximo a Itaituba, no Painim e Igarapé-Açú.
Nada comparado com o que ocorre acima do Buburé, na região conhecida como
Chapéu de Sol. Ali existe um garimpo de onde saiu bastante, anteriormente e
continua dando diamantes. O trabalho é semimecanizado. Outro mineral que tem
sido explorado há algum tempo é o topázio.
Regularização
- O problema da resistência dos garimpeiros em se regularizarem continua tão
forte quanto antes, disse Ivo ao Jornal do Comércio. Antes, havia dificuldade
de acesso aos órgãos reguladores da atividade mineral. Hoje em dia são
oferecidas facilidades que nunca houve para que eles se regularizem, mas,
poucos procuram por esse serviço, preferindo continuar na clandestinidade.
“Esta
secretaria (SEMMAP), nunca esteve tão aparelhada para atender aos pequenos
mineradores, como ela está hoje. Porém, parece que eles não acreditam que seja
importante ter sua atividade regularizada, depois de tantos anos de ausência do
poder público. Estamos capacitados para licenciar em áreas de até 50 hectares,
áreas que não são de conservação. Temos um convênio do Estado junto do DNPM
para que o ente estadual possa licenciar dentro de áreas de APA. Isso está bem
adiantado.
Nós
temos processos que se arrastam há uns vinte anos no DNPM, sem que andem. Isso
levou os pequenos mineradores a duvidarem de que algum dia a gente pudesse
chegar no estágio que chegamos, embora muitos deles continuem céticos. São
desconfiados com todos. Mas, hoje, fruto do esforço de tanta gente, avançamos
muito nessa questão da regularização dessas áreas. Isso vai tornando mais
difícil a vida desse pessoal, sobretudo na hora de vender o ouro, fruto de seu
trabalho. Sem documento, termina vendendo abaixo do preço de mercado”, disse
Ivo.
Apesar
de todo esse movimento, Itaituba se beneficia muito pouco, se for levado em
conta o volume de ouro extraído e comercializado todo mês. Fala-se, e é
verdade, que o ouro continua tendo uma importância fundamental na economia de
Itaituba. Sabe-se na prática, pois não existe estudo algum que ofereça dados
concretos. Para Ivo Lubrinna, diante de todo o ouro que o município produz e
comercializa todo mês, o que fica é apenas uma fagulha.
Dragas e PCs – “Esse pessoal está
trabalhando em situação irregular, porque não tem título da área onde estão
explorando e não tem licença ambiental. O passivo disso está ficando no
município e nós da Semmap devemos fiscalizar e informar a quem de direito, o Estado.
Passamos um diagnóstico da situação, apenas de áreas mais próximas de Itaituba.
Existe
a possibilidade de que essa atividade provoque grandes danos ao Tapajós,
correndo-se o risco de termos de volta a coloração barrenta das águas, coisa que
já vimos no passado. O preço do ouro provoca essa corrida, e o volume de terra
removida ou revirada é muito grande, por dragas e PCs. É necessário um
ordenamento. A União está preocupada com essa situação, o que tem motivado a
vinda de pessoas de Brasília, ligadas ao governo federal, assim como a Sema do
estado e a Secretaria de Estado de Indústria e Comércio.
No caso das dragas, a recuperação do ouro é
feita num circuito fechado. Já em relação às PCs, com o trabalho feito em
terra, isso está sendo feito de qualquer jeito, queimando-se o ouro e
soltando-se o mercúrio no meio ambiente, não havendo da parte desse pessoal a
cultura de uso do cadim”, afirmou o secretário.
Ivo
Lubrinna disse que continuam pedindo sua cabeça. Segundo disse ao JC, alguns
donos de dragas e de PCs não estão satisfeitos com o trabalho da Semmap e por
isso gostariam de vê-lo fora do cargo. Isso se deve ao fato de serem
fiscalizados, o que os incomoda.
O
passivo ambiental vai ficar para o município, quando esse pessoal vai estar bem
longe, pouco se lixando para os estragos que tiverem causado ao meio ambiente.
Dessa forma, compete, num primeiro momento, às autoridades ligadas ao setor no
município de Itaituba, tomarem as primeiras providências, coibindo os abusos
através de multas contra os infratores, quando isso estiver dentro de sua área
de atuação, e denunciando para autoridades do Estado e da União, quando for esse
o caso. Enquanto isso, os ambientalistas, sempre muito preocupados com temas
como hidrelétricas, não se manifestam a respeito dessa agressão. Aliás,
estiveram sempre calados a esse respeito.
Para
os três candidatos a prefeito de Itaituba, esse assunto tem passado longe de
suas abordagens e discussões. Nenhum deles manifestou preocupação alguma com
esse tema que diz respeito a todos que vivem nesta região, por causa das
transformações que podem causar ao ambiente em que se vive. Pode-se passar a
viver num lugar bem pior caso não sejam encarados os problemas de frente, como
essa agressão ao meio ambiente.
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