segunda-feira, maio 03, 2010

A volta da América do Sul de moto - A Expedição, tintim por tintim - Capítulo 24

21.11.2008 – Eu sentia calafrios só de ouvir falar na BR 101, uma rodovia famosa pelo movimento e pelo número de acidentes que ocorrem nela. Mas, de repente a gente saiu da SC 470 e entrou na BR 101 debaixo de muita chuva. Como era uma sexta-feira do meio-dia para tarde o tráfego era relativamente intenso. O que passou de carro por nós, e o tanto de carro que a gente ultrapassou foi uma grandeza, a quase 100 km por hora, com pista muito lisa. As quatro pistas, duas indo e duas voltando, da rodovia facilitaram um pouco. Posso afirmar que foi uma experiência eletrizante.

Vinte minutos antes de entrarmos em São José dos Pinhais, que faz parte da grande Curitiba, a chuva deu uma aliviada, mas, só parou quando entramos na capital do Paraná. O Sol apareceu, mas, o tempo marcava chuva para mais tarde e a temperatura começava a despencar naquele final de tarde curitibano. A noite foi fria, mas, a gente estava bem agasalhado na casa da Elizângela, prima do Jadir, que foi nossa anfitriã.

22.11.2008 – Pela manhã, a cada cinco minutos o tempo mudava em Curitiba. O Sol aparecia e desaparecia, dando lugar a nuvens pesadas. Fomos sair depois de 10:30, decidindo seguir pela BR 116, a famosa Regis Bitencourt, também conhecida como Rodovia da Morte. Um motorista de caminhão com o qual a gente conversou, ao qual pedimos algumas informações nos disse que a melhor rota a seguirmos seria por São Paulo, para de lá continuarmos para Brasília. Por Juquiá, por onde pensáramos em entrar, a estrada era muito sinuosa, com grandes subidas, além de a estrada ser bastante estreita.

Hoje foi meu dia de ficar no prego de gasolina. Errei no cálculo, achando que por estar no Estado de São Paulo a gente encontraria um posto a qualquer momento e foi aí que me dei mal, pois atravessamos uma área de preservação ambiental estadual nada pequena. Antes, passeis por um posto, mas, não quis parar, certo de que havia outros logo à frente. No meio de uma grande descida a moto começou a falhar. Eu já matei logo a charada: era a gasolina que tinha acabado.
O Jadir continuou adiante em busca de um posto, que ele encontrou, oito quilômetros depois. Voltou com dois litros de gasolina, depois de eu ter empurrado a moto por mais de um km. Quando chegou à parte de subida eu não agüentei e só me restou ficar parado num lugar completamente diserto, torcendo para que nada de ruim me acontecesse. Passaram dezenas de motoristas e alguns motoqueiros, mas, ninguém se deu ao trabalho parar para saber o que estava acontecendo. Felizmente, deu tudo certo.

Mesmo sendo sábado pouco depois do meio-dia, o trânsito era muito forte. A velocidade dos veículos, pelos menos da maioria, era muito grande. Paramos no posto onde o Jadir comprou a gasolina para me socorrer, onde almoçamos para só parar onde a gente fosse dormir.
Depois do almoço o sono pegou o Jadir. Num dado momento ele quase bateu na traseira de um carro, porque estava cochilando. Paramos em um lugar na rodovia onde havia um supermercado. O Jadir deitou em um banco do lado de fora e tirou um cochilo de uns vinte minutos. Depois, levantou e seguimos em frente com ele bem desperto. Faltando cinco minutos para as cinco da tarde, horário de verão, a gente parou em um posto, já em Itapecerica da Serra, onde havia um hotel de qualidade razoável, no qual decidimos pernoitar.

Naquele dia 22 de novembro, meu filho mais velho, Ingo, completava 29 anos. Deu trabalho, mas, consegui falar com ele ligando de um telefone público. Depois liguei para o Raoni e para a Marilene, para saber como estavam, ela e o Parentinho. Apesar dela estar trabalhando mais do que o normal, pela sobrecarga do serviço, estava tudo bem em casa.
Os estragos da chuva – À noite, ao assistir ao Jornal Nacional ficamos sabendo das notícias dos inúmeros estragos que as chuvas torrenciais tinham provocado, sobretudo em alguns municípios de Santa Catarina.

Em Blumenau, de onde a gente tinha saído há dois dias, o nível do Rio Itajaí tinha subido muito, alagando algumas partes da cidade. As chuvas tinham provocando, também, deslizamentos naquela cidade e em outros lugares. Estradas estavam interrompidas por causa da terra que deslizou. Além de Blumenau, outros lugares por onde a gente passou tiveram problemas sérios, dentre eles, Joinvile, um trecho da estrada perto de Garuva e na BR 282. Para completar, a meteorologia previu muita chuva para o dia seguinte para quase todo o Brasil, com ameaça de temporais em muitos lugares. Só nos restava descansar bem e esperar para ver como amanheceria o dia.

23.11.2008 – Apesar da noite nublada e da ameaça de chuva, o domingo amanheceu bonito, com Sol claro. O relógio marcava 7:52, horário de verão, quando deixamos Itapecerica da Serra tendo Brasília como destino. Queríamos chegar o mais perto possível da capital federal, que fica distante em torno de mil quilômetros da onde a gente estava. No caminho, passamos por grandes canaviais nos municípios de Araras, Limeira, Leme e outros. As usinas, no período da safra, trabalhando de domingo a domingo.

O tempo ajudou. Embora tenha ficado carrancudo diversas vezes, com nuvens negras passando sobre nossas cabeças, somente perto de Uberaba, no Triângulo Mineiro, a gente teve que colocar capa de chuva. Passamos por Uberaba e mais adiante por Uberlândia sem parar nem para tomar água. Antes de Catalão, em Goiás, paramos num posto da Polícia Rodoviária Federal para saber quanto estava o placar dos jogos do campeonato brasileiro, pois os inspetores estavam assistindo a uma partida transmitida pela TV.

A temperatura já tinha caído bastante perto de nove da noite, quando a gente chegou a um posto de gasolina, que tinha um pequeno hotel, o que nos deixou animados. Mas, depois de abastecer, nossa alegria acabou, quando fomos procurar um apartamento para passar a noite e fomos informados de que estavam todos lotados. Mais adiante, informou um frentista, há uma meia hora, tem um hotel fazenda muito bom, Hotel Sonho Verde.

Sem alternativa, lá fomos nós adiante, rodando por quase uma hora até encontrar o bendito hotel, que não era nada barato. A dona nos informou que o pernoite custaria R$ 95,00. Ainda pedimos um desconto, mas, não funcionou. A nós não restava outra coisa a fazer, se não pedir a chave de um apartamento, tomar um bom banho quente e ir ao restaurante para comer alguma coisa.

O preço foi salgado, mas, realmente trata-se de um bom hotel, com um serviço de boa qualidade, internet sem fio e tudo mais que a gente tinha direito. No restaurante
tivemos um bom jantar, ocasião em que tivemos oportunidade de conversar com a Nilva, a dona do hotel. Ela é bastante jovem, casada com um fazendeiro bem mais velho, que como se diz no popular, tinha cara de "gastoso". Ela nos disse que seu hotel era bastante utilizado por empresas, que faziam reuniões, seminários e encontros de diversos tipos, período em que a maioria dos apartamentos ficava lotada.

O maior frio que a gente sentiu foi na estrada, por causa da noite e do vento provocado pela velocidade das motos. Quando paramos, a temperatura estava amena. Foi preciso ligar o ar condicionado para a gente dormir bem, para de manhã cedo seguir rumo a Brasília, onde o Jadir tinha uma reunião marcada com uma servidora graduada no Ministério da Educação, ainda por conta dele ter esquecido de deixar em Itaituba o cartão do ProUni. Nossa passagem pela capital da República vai ser assunto do próximo capítulo.
(Jota Parente - Jornalista)

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