terça-feira, janeiro 26, 2010

A volta da América do Sul, de moto - A Expedição, tintim por tintim - Capítulo 20

Na tarde daquela terça-feira, 11 de novembro de 2008, durante o almoço, eu e o Jadir tivemos nossa discussão mais séria. O humor dos dois não era dos melhores, o que nos levou a altercar por uma diferença qualquer. Meio jururus deixamos o restaurante em Pozo Chico e pegamos a estrada novamente, rumo a San Salvador de Jujuy. Enfrentamos um trecho de subidas muito íngremes, a uma altitude de quase quatro mil metros. De novo, passeamos por entre as nuvens. Na medida em que a tarde caía, a temperatura baixava. A corrente da moto do Jadir começou a cair uma vez atrás da outra. Chegou um momento que a gente pensou que ficaríamos no meio da estrada a qualquer momento. Essa era a derradeira coisa que a gente gostaria que nos acontecesse.

Enquanto estávamos subindo, encontramos dois caminhões pesados, um dos quais estava com problemas, ao passo que o motorista do outro prestava socorro para o colega. O Jadir foi lá bater um papo com eles, como quem não queria nada, para saber qual era o destino deles, pois no caso de sua moto não poder prosseguir a partir de algum trecho, como estaríamos na frente, quem sabe poderíamos contar com o socorro de um deles. Os dois motoristas argentinos disseram que não haveria nenhum problema em nos ajudar, se houvesse necessidade. Felizmente, não houve.

Por volta de quatro e meia da tarde, uma chuva forte e muito fria nos pegou durante quase todo o restante da viagem para a cidade de Jujuy, onde entramos às 05h20. Procuramos informações a respeito de uma concessionária da Honda, até que encontramos o local, no centro comercial, numa área muito movimentada. Para nossa sorte, lá estava o Gabriel, mecânico chefe da cidade de San Miguel de Tucumán, a maior do noroeste argentino, com mais de 800 mil habitantes, enquanto San Salvador de Jujuy tem pouco menos de 300 mil habitantes, sendo mais ou menos do tamanho de Santarém.

Brasileiro gosta tanto de falar mal de argentino, a ponto da gente achar que “los hermanos” são todos de péssima índole. Como em qualquer parte do mundo, tem gente boa e tem gente ruim. Em San Salvador nós encontramos muita gente boa. Para se ter uma idéia da camaradagem deles, a gerência da concessionária autorizou a oficina a ficar funcionando até a hora que fosse preciso, para que a moto do Jadir passasse pela manutenção necessária.

Quando o trabalho terminou passava das nove da noite. O preço foi meio salgado para o meu amigo, mas, valeu pelo bom atendimento. De quebra o Jadir ainda encontrou uma professora que também prestava serviço à concessionária, a qual fez um curso de especialização no Brasil, no Rio de Janeiro. Ela fala Português impecavelmente.

Cerca de meia hora antes da moto ficar pronta, começou a chover na cidade. A essa altura, o termômetro já tinha despencado. E lá fomos nós, debaixo de chuva, à procura de um hotel dentro do nosso orçamento. Passamos mais de meia hora rodando. Em todos os que nós paramos, ou o preço estava salgado, ou não havia vagas.

Não suportando mais de tanto frio, completamente molhados, decidimos que ficaríamos no primeiro que tivesse vaga. Foi assim que pernoitamos no Augustus Hotel, ao preço de 55 dólares o pernoite com direito ao café da manhã. Não havia como continuar procurando. Tudo que a gente queria e precisava era um banho quente e bons cobertores para combater o frio.

12.11.2008 - Pelo preço nós esperávamos um café da manhã reforçado; mas, estava muito longe do que oferecem hotéis brasileiros até com preços menores. Isso inclui os hotéis de Itaituba, de boa qualidade, nos quais o café da manhã é incomparavelmente mais farto. De qualquer maneira, comemos o que nos foi servido, pedindo um reforço por que sabíamos que o dia seria muito longo. Nossa preocupação era encarar a estrada com chuva o dia inteiro, o que nos atrasaria muito, pois o bom senso manda pilotar numa velocidade bem menor, conquanto o asfalto fica muito liso sob chuva e qualquer descuido pode ser fatal.

Não queríamos perder tempo errando o caminho. Por isso procuramos informações a respeito de um bom mapa que nos ajudasse a pegar a rota certa. Um motorista nos indicou o Automóvel Clube da Argentina, para onde fomos, o qual ficava ao lado de um posto de gasolina de propriedade do clube, que tem um monte de outros postos espalhados pelo país vizinho. O gerente do posto, um jovem muito atencioso, mostrou-nos a rota que deveríamos seguir, a qual passaria pela cidade de Corrientes.

Passamos ao largo da conhecida cidade de Salta, que segundo nos contaram, tem coisas muito interessantes para se ver. A ansiedade nos empurrava rumo ao Brasil, em cujo solo queríamos voltar a pisar o mais rápido possível. Porém, nem por isso deixamos de apreciar o belo cenário que a Natureza nos ofereceu, como o campo de girassóis que parecia não ter mais fim. Foram mais de 10 minutos a quase 100 km por hora, contemplando aquela maravilhosa paisagem. Lembrei do filme Girassóis da Rússia, com Marcelo Mastroianni e Sophia Loren, que assisti no Cine Olímpia, em Santarém, no começo dos anos 70. O Jadir observou que em determinados trechos, a vegetação lembrava muito a do estado de Mato Grosso.

Precisávamos abastecer as motos; por isso, paramos em um posto da YPF, uma empresa argentina, onde encontramos um frentista muito mal humorado. Perguntamos se abastecia com cartão de crédito, ele respondeu que não. Sabe onde tem algum posto que aceite cartões? Não, não sei, disse rispidamente. Só, que a uns 300 metros havia outro posto para onde nos dirigimos. Para nossa sorte, além de ser da Petrobras, aceitavam cartões e fomos muito bem atendidos.
Embora já fosse quase final da tarde, decidimos ganhar um pouco mais de terreno até a próxima cidade. Nessa brincadeira, a primeira coisa parecida com uma cidade que encontramos foi a pequena Machagai, aonde chegamos às 09h10 da noite.

O hotel que aceitava cartões estava lotado. Indicaram-nos outro estabelecimento, cujo proprietário chamava-se Paschoal Nadal, filho de espanhóis, que nos ensinou onde ficava o Banco de La Nacion, onde fomos tentar sacar dinheiro. E não é que pela primeira vez, em toda a expedição a gente conseguiu sacar dinheiro, sem precisar da ajuda de nenhum gerente! Não fosse, teríamos que continuar pilotando, talvez até Resistência, que ficava a mais de duas horas de distância, de moto.

O Paschoal, um argentino muito politizado, fez questão de conversar conosco sobre os momentos diferentes que viviam naquele instante, Brasil e Argentina. Aqui as coisas estavam indo bem, ao passo que lá, a presidente Cristina Kirchner andava às voltas com a revolta dos produtores rurais, em virtude de uma taxação que ela tinha determinado sobre produtos agrícolas. Ele não cansou de elogiar o presidente Lula, dizendo que a gente tinha sorte de ter um mandatário como o nosso.

Deixamos as arengas para trás, um relevando as impertinências do outro. E, embora a gente continuasse admirando a paisagem, o nível de ansiedade para voltar para casa era imenso, pois nossa previsão do tempo que levaríamos, tinha furado completamente. Com esse estado de espírito, a partir da fronteira do Chile com a Argentina, em Paso de Jama, não fizemos mais foto nenhuma, até perto de entrar em território brasileiro.

Partimos de Machagai bem cedo, depois de um bom café da manhã providenciado por nosso host Paschoal. Estrada boa, como todas as estradas da Argentina por onde andamos. Isso nos permitiu avançar bastante. Naquele dia a gente só parou para abastecer as motos. Embora não sejam tão longas quanto as dos desertos do Chile e do Peru, o trecho que vai de San Salvador de Jujuy até a fronteira com o Brasil tem retas muito longas. Elas não deixam a gente tão sonolento quanto no deserto, porque a paisagem verde, que sofre mudanças de um lugar para outro deixa o condutor mais ligado.

O tráfego de veículos era pequeno, naquela que é uma região eminentemente agrícola, a qual produz diversas culturas que contribuem para melhorar a balança comercial argentina. A pecuária é muito desenvolvida, sendo a carne de gado do país vizinho um item muito bem conceituado no mercado internacional. O churrasco deles também é muito respeitado.

Na noite anterior nós jantamos em um restaurante simples, mas que nos tratou muito bem, tanto no quesito qualidade do atendimento, quando no paladar. Pedimos uma carne no molho e o que veio, temperado com a fome de um dia somente com o café da manhã foi de lamber os beiços. Realmente muito saborosa aquela comida.

Os imprevistos que já relatei nos capítulos anteriores nos fizeram perder alguns dias preciosos, fato que prejudicou a fase final de nossa jornada em solo estrangeiro. No próximo capítulo contarei como foi o nosso último dia em território argentino, que foi muito marcante, porque eu conheci a pior parte de “los hermanos”, quando fomos abordados pela Polícia Caminera, equivalente à nossa Polícia Rodoviária Federal. O Jadir já os conhecia e tinha me avisado que uma hora a gente os encontraria. Foi um dia de cão.

Um comentário:

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