sexta-feira, agosto 21, 2009

A volta da América do Sul, de moto. A Expedição, tintim por tintim, cap 12


Faltavam apenas 35 quilômetros para a gente chegar a Ayacucho, descendo a Cordilheira dos Andes, quando a gasolina da moto do Jadir acabou. Não havíamos passado um só posto de combustível nas últimas quatro horas. O frio era suportável, mas, já passava de três da tarde, horário em que a temperatura começa a cair. Naquele mundão, não dava para ficar esperando por socorro. O jeito era atrás dele.

Como o consumo da minha moto era menor do que a do Jadir, eu ainda tinha uma boa reserva. Voltei e parei na primeira casa que encontrei para perguntar onde eu conseguiria comprar gasolina. O peruano que me atendeu, meio desconfiado, olhou-me da cabeça aos pés, mas deu-me a pista. Tive que voltar mais uns vinte minutos, até chegar a um pequeno povoado pelo qual tínhamos passado sem parar. A maioria dos moradores era composta de indígenas.

Fui falar direto com a dona de uma bodega, que conversava sem parar, com sua mãe, índia pura, no dialeto Quanche. Quando eu falei do nosso problema a mulher pareceu ficar um tanto nervosa. Disse que não vendia gasolina e que a pessoa que me dera a informação estava mentindo. Depois eu descobri que aquele tipo de comércio era proibido pelo governo, naquelas condições.

Minha senhora, disse eu, a única coisa que eu quero é comprar um pouco da gasolina que eu sei que tem aí atrás. Não se preocupe. Eu não vou dizer para ninguém que eu comprei aqui. Pelo amor de Deus, tire-nos dessa enrascada. Eu e meu amigo precisamos chegar a Ayacucho ainda hoje.

Depois disso ela decidiu que iria vender-me a gasolina, mas, o preço foi de lascar, pois enquanto a gente estava pagando algo em torno de R$ 1,70 por litro, fazendo a conversão para Sol, a moeda do Peru, a mulher não teve a menor cerimônia de cobrar algo parecido com R$ 3,50. Mas, àquela altura do campeonato, fazer o que? Se ela cobrasse R$ 5,00, teria que pagar. Coloquei um pouco de gasolina na minha moto, uns 30% e o restante foi para a moto do parceiro de aventura. E assim chegamos à bela e fria Ayacucho pouco depois das seis da tarde daquele domingo, Dia de Finados.

Atravessamos a Colômbia e o Equador, onde enfrentamos frio. Contudo, a umidade do ar sempre se manteve em patamares normais para nós dois. Mas, nessa parte da jornada, na região de Abra Apacheta a umidade relativa do ar baixou muito. Nossos lábios acusaram o golpe e o jeito foi apelar para manteiga de cacau, que felizmente encontramos em uma farmácia local.

O erro Ayacucho – Ir para Ayacucho foi um acidente de planejamento do qual não tivemos culpa, pois, embora em todos os mapas que olhamos e nas poucas informações que obtivemos por ali seria o caminho mais curto para chegar a Cusco, a estrada de lá para a antiga capital Inca não oferecia nenhuma condição para fazermos aquele trajeto de moto.

Na manhã de segunda-feira, enquanto o Jadir tentava sacar dinheiro com seu cartão de crédito, eu fui até a secretaria de turismo local em busca de informações para a continuação de nossa viagem. Ao chegar ao local fui muito bem atendido por um oficial da guarda nacional peruana, Teófilo Ramirez, que conhecia tudo aquilo como a palma de sua mão.

"Vocês terão que retornar para a cidade de Pisco, onde vocês dormiram ontem, porque a estrada que vai daqui até Abancay é um horror. A estrada é cheia de curvas muito fechadas e tem um pedregulho que é um convite a uma queda de moto a cada instante. De Abancay para Cusco a estrada é pavimentada, mas vocês vão penar muito para chegar lá. Ainda existe o risco de vocês serem assaltados, pois isso acontece com certa freqüência", disse ele.

Aquela informação deu-me um frio na barriga. Ter que voltar os 350 quilômetros que a gente quase não consegue vencer, seria muito duro. Quando encontrei o Jadir, passei a informação. Discutimos o problema e chegamos à conclusão de que a gente deveria tentar seguir dali para Cusco, mesmo com todas as informações contrárias.

De fato, a estrada é muito complicada. As curvas são uma em cima da outra, curvas de nível, e a tal piçarra representa um perigo de tombo a toda hora. Não conseguíamos desenvolver mais de 60 km/h nos melhores trechos, enquanto fazíamos as curvas a 30 ou 40, no máximo. Diante daquela realidade assustadora que pagamos para ver, concluímos que o melhor a fazer era dar meia volta e seguir o conselho do oficial Ramirez. Não fomos mais do que uns cinco quilômetros. Se tivéssemos continuado, teríamos enfrentado altitudes de quase 4.500 metros, pouco mais baixo do que Abra Apacheta.

Edgar Sosa – Foi depois dessa mal sucedida tentativa que o mecânico Edgar Sosa entrou na história. Como a gente precisava apertar e lubrificar as correntes para enfrentar a dureza dos Andes, paramos na primeira oficina de fundo de quintal que encontramos.

"Vocês estão com problemas com as máquinas para subir a montanha?", perguntou ele. Problema que nada, disse o Jadir. Elas não querem é andar!

"Eu arrumo isso para vocês e sem demora", afirmou o Edgar, que parecia muito confiante do que dizia.

"Tu arrumas mesmo?", perguntou o Jadir, olhando para mim.
"Podem ficar tranqüilos porque eu garanto o que falo", retrucou o mecânico.
"Então, pode começar pela minha, que tem sentido mais", falou o Jadir.
Com seu jeito de MacGyver ele meteu a mão na massa com uma agilidade impressionante. Eu olhei para o Jadir e falei: "Ou esse cara é muito bom nisso, ou é maluco e nunca mais nós vamos sair daqui". Mas, o cara é muito bom, mesmo. Arrumou os carburadores de nossas máquinas, diminuindo a vazão de gasolina para melhorar a mistura, pois o problema era provocado pelo ar rarefeito das elevadas altitudes. Por isso, a mesma viagem que a gente fez em mais de 10 horas, na ida, no retorno gastamos apenas sete horas.

Ayacucho - É uma cidade mais ou menos do tamanho de Itaituba, com um uma população de quase 100 mil habitantes. Tem inúmeras construções antigas, arquitetura espanhola, muitas das quais datam do início do Século XVI. Até o início dos anos 80 teve no turismo sua maior fonte de renda. Porém, o surgimento de um movimento guerrilheiro de orientação maoísta, bastante violento, o Sendero Luminoso, afugentou a grande leva de turistas.

O Sendero Luminoso nasceu naquela cidade, criado por um professor de filosofia chamado Abimael Guzmán, da Universidade de San Cristóbal de Haumanga, durante a década de 70. Porém, só começou sua luta armada em, 1980. Essa guerrilha matou um bocado de gente e foi combatida pelas forças armadas do Peru. A própria cidade foi vítima de inúmeros atentados com dinamite. Hoje, ainda existem alguns grupos embrenhados nas matas distantes. Mas, perdeu muito de sua força. Com isso, aos poucos, Ayacucho tenta fazer o turismo voltar a ser a galinha dos ovos de ouro de sua economia. Infelizmente, atualmente, o narcotráfico atua com muita força na região. No dia que chegamos a Polícia Nacional acabara de prender quatro perigosos traficantes, com os quais encontrou mais de quarenta quilos de cocaína.

No próximo capítulo, descreverei a volta para Pisco, que foi bastante tranquila, e a jornada para Cusco, finalmente. Dessa vez, tomando o caminho certo.
Foto: Plaza de Armas, na cidade de Ayacucho, Peru

Um comentário:

  1. Redebi esse e-mail de um amigo e achei um bom tópico para o bolg.

    Atenciosamente, Diego Cajado Neves.

    PERDI A COMANDA, E AGORA???

    Um caso recorrente: a pessoa sai para se divertir em uma danceteria (boates/barzinhos) e, de repente, não encontra a comanda que lhe foi entregue na entrada para registrar a despesa. O que fazer? Aprenda a se proteger. Repasse para seus filhos, amigos, policiais, seguranças, donos dessas casas, etc., pois talvez eles desconheçam a lei.



    Aspectos legais em caso de perda da comanda.



    por Sérgio Ricardo Tannuri (advogado, especialista em Direito do Consumidor e Diretor da Associação Comercial e Industrial de São Caetano do Sul.



    As vezes, pode ter sido uma simples displicência de alguém que, sem querer, perdeu a comanda, assim como pode ter havido um premeditado furto do cartão por pessoas de má-fé. Isso é comum, pode acontecer com qualquer um de nós ou com nossos amigos (está sendo examinado um caso de extravio real). Porém, para o dissabor de quem teve sua comanda extraviada, o estabelecimento impõe como condição para que o consumidor saia do local o pagamento de uma multa altíssima, que, em algumas casas noturnas, chega a R$ 400,00.



    Desde já, vale esclarecer:

    não existe lei que obrigue quem perdeu a comanda a pagar uma quantia a título de multa ou taxa. Isso é pura extorsão. A cobrança de multa pela perda de comanda é um abuso e é considerada ilegal pelo Código de Defesa do Consumidor. É obrigação do prestador de serviços vender fichas no caixa ou ter um sistema eletrônico de controle sobre as vendas de bebidas e comidas dentro de seu próprio recinto.



    Se a casa não tem um controle sobre o que foi vendido, não pode explorar o cliente pois, em direito do consumidor, o ônus da prova é sempre do comerciante ou prestador de serviços. Porém, a realidade do mercado revela verdadeiros atentados contra os direitos do jovem consumidor que sai à noite para se divertir. Ao exigir a cobrança desta espécie de taxa, os responsáveis pelo estabelecimento invariavelmente acabam cometendo crimes contra a liberdade individual do cidadão. Levam a pessoa para "quartinhos" ou "salas separadas" e passam a intimidá-la através de seguranças brutamontes.



    Insistir nessa prática extorsiva é considerado constrangimento ilegal (Art. 146 do Código Penal), pois constranger alguém mediante violência ou grave ameaça para fazer o que a lei não manda (pagar uma multa extorsiva) é crime, podendo o gerente e o dono do estabelecimento serem presos e condenados à pena de detenção, que varia de 3 meses a 1 ano. Em alguns casos, a coisa fica até mais grave, pois o consumidor que perdeu a comanda é impedido por seguranças de deixar a casa se não pagar a tal taxa abusiva. Isso é um absurdo e é considerado crime de seqüestro e cárcere privado (Art.. 148 do Código Penal), que prevê pena de prisão de 1 a 3 anos ao infrator.



    Nesses casos extremos de crimes contra a liberdade individual, o cliente tem que ser intransigente: deve pagar apenas o que consumiu ou discar 190 e chamar a polícia imediatamente para registrar queixa contra seus ofensores. Agir passivamente neste caso é causar um prejuízo à sociedade... está beneficiando os infratores. Lembre-se, portanto, que exigir o pagamento de multas altíssimas para quem perdeu sua comanda é considerada prática abusiva (e conseqüentemente ilegal), pelo Código de Defesa do Consumidor e deve ser denunciada ao órgão competente.



    DEFENDAM-SE E REPASSEM PARA ACABARMOS COM ESSA TRANSGRESSÃO



    MAIS DETALHES: http://www.portaldoconsumidor.gov.br/noticia.asp?busca=sim&id=962

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