sábado, dezembro 27, 2008

Diniz: não pretendo parar com a política *

Vereador por três mandatos consecutivos, o médico Manoel Diniz não se reelegeu na eleição passada, o que surpreendeu muita, mas muita gente que considerava que ele continuaria dono de uma das onze cadeiras do parlamento municipal. Diniz recebeu a reportagem do Jornal do Comércio para uma longa conversa, na qual fez uma análise de seu desempenho como parlamentar, falou de seu futuro político e abordou outros assuntos atinentes à política.

JC – Na ultima eleição, muita gente considerava que um dos vereadores que teriam vaga garantida na próxima legislatura seria o senhor que tem um trabalho permanente. Na sua avaliação, o que deu errado para que não acontecesse sua reeleição?

Dr. Diniz – Minha avaliação tem sido bem fria, bem pé no chão, em relação ao resultado da eleição; e na nossa visão, realmente, foi o eleitor que não valorizou ou deu a resposta que deveria dar. Segundo o nosso entendimento, o nosso trabalho foi muito bem calculado; era um trabalho sobre o qual tínhamos controle e um planejamento de todo o processo, não só do período de eleição, como dos quatros anos de todo o mandato, procurando transparecer a importância de ser um vereador qualificado, procurando ter um comportamento, que deixa-se claro ao eleitor o valor de ter votado em nós, no mandato passado, nesse que está se encerrando, e após isso, a intenção era dar seqüência ao trabalho.

JC – No período da eleição, nos meios políticos, sempre se falou que o fato da vice-prefeita Antonieta Lima ter se lançado candidata a vereadora seria um fator que poderia atrapalhar muito, porque o senhor sempre teve o apoio dela. Isso foi decisivo para o resultado negativo?

Dr. Diniz – Existe uma boa dose de probabilidade, pois o eleitorado da professora Antonieta, realmente circula muito dentro do meu contexto nosso; lamento quanto ao, Iamax, pessoa a mim chegada, que faz parte da nossa amizade, o que faz com que muitos eleitores ligadas a ele, sejam também chegados a mim.

JC – Sempre se fala que o médico sai com uma vantagem considerável em relação a muitos outros profissionais, em função da sua atividade não ter nenhum tipo de restrição por parte da legislação eleitoral. O senhor concorda?

Dr. Diniz – Eu tenho uma avaliação muito critica em relação a isso, desde da minha primeira campanha. Eu não tive apoio da classe medica. Sou rotariano, mas não uso o Rotary na política, sou maçom, mas não uso a maçonaria para isso, sou sindicalizado em quase todo sindicato, mas não uso também essas entidades para me beneficiar. Quanto ao fato de ser de um candidato a vereador ser médico, ele tem poucas vantagens. Na verdade ele tem muito mais trabalho, muito mais cobrança; mas, poucas pessoas reconhecem isso, ou transformam isso em voto.

Tomando Santarém como exemplo, houve uma época que tivemos dez colegas médicos candidatos lá. Nenhum se elegeu; aqui em Itaituba já tivemos vários colegas médicos que foram candidato a vereador e que não também se elegeram. Não e fácil! O eleitor ele tem o seu modo próprio de compreender as coisas. Só tem uma coisa que eu quero deixar bem claro: o eleitor não pode reclamar dos eleitos; quem os elege são eles, tanto prefeito, quanto vereador, deputado, governador, presidente. São eles que elegem, e eles é que depois tem de dizer: esse foi eu que coloquei também lá; eu tenho que entender, que aceitar, que concordar com aquilo que faz quem eu elegi.

JC – Até praticamente no dia da convenção do PMDB, seu nome foi dado como certo para compor a chapa na condição de candidato a vice de Valmir Clímaco. O Dr. Edir terminou sendo o candidato a vice. Daquele processo todo ficou alguma mágoa, ficou algum problema ?

Dr. Diniz – Eu considero que a aposta de ser candidato a vice foi e muito grande. Quanto ao Valmir, ele é uma pessoa com a qual contínuo ter uma afinidade, respeito, e uma consideração muito grande. Espero que ele sinta o mesmo por isso mim e pelos demais companheiros . Eu já estou na vida publica há 16 anos. Isso nos dá uma certa maturidade. Fui secretario de saúde, o único que terminou o mandato todo, só tendo saído para afastar-me a fim de poder ser candidato a vereador na época; esses três mandato de vereador me deram uma maturidade, um equilíbrio, no processo de entendimento da vida publica.

Quanto a ser candidato a candidato a vice, sabíamos do compromisso do Valmir conosco e nosso com o Valmir. Mas, fui muito claro até na hora da decisão em que houve uma dificuldade de escolha . Colocamos a ele muito claro, que ele não podia nem que pensar em ter dificuldade, no caso de optar por uma outra escolha, até por que nossa visão era que o mais importante seria que todo o grupo ganhasse; deixei muito claro para ele e eu acho que ele sabe disso. O importante seria que resultado beneficiasse o coletivo; nunca priorizando o individual. Sempre pensamos assim. Sabíamos que era aquilo que o grupo precisava que acontecesse.

JC – O senhor tem sido um critico freqüente do governo do prefeito Roselito Soares. Qual é sua expectativas para esse segundo mandato que vai começar no mês de janeiro agora que o prefeito não vai ter que se preocupar com reeleição?

Dr. Diniz – Eu continuo na expectativa, porém, bastante crítico, independente de ter ou não uma tribuna, ou de ter um mandato de vereador. As minhas percepções, elas vão continuar sendo ativas, tanto como cidadão, como pessoa ligada à comunidade, como servidor publico que sou, como profissional da saúde pública. Muita vezes, nos falamos para o próprio prefeito e para gente do seu grupo (e tem pessoas do grupo do prefeito que tem esse entendimento), que nossa critica sempre foi no sentido de ser construtiva. Nós nunca procuramos tocar pessoalmente no candidato, enquanto vida pessoal do prefeito, mas, sim no executivo, no administrador que deixou a desejar. Eu ate fiquei supresso no inicio do mandato, quando vi a quantidade de promessas que ele fez, de ideais que podiam ser concretizadas. Eu achava que as coisas iriam acontecer e que eu também iria me surpreender com o trabalho do prefeito. Mas, não aconteceu muito daquilo que eu escute ele falar, que eu ouvi seu grupo prometer, mas não realizou.

Com relação ao prefeito, fui critico durante esses quatro anos, das atitudes que não me agradaram ou não agradaram às pessoas que chegavam e me faziam porta voz dessas reivindicações. Eu acho que em relação ao prefeito faltou ele colocar muito mais em prákktica o que prometia, do que só falar em termos de propaganda. No marketing foi apresentada uma administração boa. Isso a atual administração fez muito bem. Mas, em se tratando de executar, aí foi muito ruim e sei muito bem que tem eleitor que votou no prefeito, atualmente, e já se arrependeu, porque achou que aquelas palavras, aquelas informações, aquelas promessas que não foram cumpridas ou que não vão ser cumpridas, realmente agora vão deixa de ser realizar.

JC – Então, o senhor não tem uma expectativa positiva quanto o segundo mandato.

Dr. Diniz – Prefiro esperar para ver e falar depois. Vou fazer essa reavaliação depois; mas, eu continuo achando que se ele não conseguiu fazer, se ele fez muito mais assim um marketing pessoal, se fez propaganda de uma outra realidade; não dessa que a gente está vivendo aqui. Nossa cidade, hoje, tem muitos pontos que são negativos, que faltam ser reparados; que foram prometidos e não conseguiram realizar. Esperamos o melhor para ela. Até os slogans do prefeito, que foram uns quatro ou cinco durante mandato, nenhum deles conseguimos defender.; realmente, existem falhas do executivo, na questão da praticidade na execução das operações.

JC – Sem mandato a partir do dia 31 de dezembro, o senhor pretende acompanhar o desenrolar do próximo mandato do gestor municipal, apenas como observador, ou vai ter alguma atuação efetiva em termos de crítica?

Dr. Diniz – Nós vamos continuar fazendo avaliações. Não vamos fica na defensiva. Como eu falei no inicio, sou sindicalizado a várias entidades. Em todas elas nós temos uma afinidade muito grande e somos sindicalizados atuantes, o que me deixa na obrigação de continuar tendo uma participação social bastante avaliadoras de todos.

JC – Quais são os seus planos para o futuro? Pretende voltar a disputar e para que cargo?

Dr. Diniz – Eu tenho a capacidade de andar com minhas próprias pernas sem depender de uma outra pessoa para bancar uma campanha, que tem custo, tem necessidade de investimento até profissional e pessoal. Eu creio que serei candidato a vereador, novamente, por um partido com o qual eu tenha afinidade, esperando poder me eleger. Depois pode vir a disputa pela Prefeitura.

JC – Alguma possibilidade do Dr. Diniz estar envolvido no próximo processo eleitoral para deputado estadual como possível candidato?

Dr. Diniz – Até posso pensar numa possibilidade dessa no futuro, mas, no momento que estamos, não e nossa intenção participar duma disputa para deputado estadual. Claro que colaborar com alguém que possa disputar, que possa disputar e se eleger e colaborar com o município nos não podemos fugir dessa regra; mas, no momento a nossa intenção e uma disputa mais domiciliar.

JC – O que fica de positivo e de negativo do mandato, na avaliação do Dr. Diniz?

Dr. Diniz – Nessa trajetória, tenho certeza que procurei cumprir minha missão. As coisas que nos poderíamos fazer foram bem calculadas. A gente não trabalhou de maneira aleatória; eu trabalhei dentro das minhas condições; procurei crescer no processo. Acredito que o eleitorado, a população, devem ter percebido isso. Trabalhei com muito cuidado para não mistura lado profissional com lado político. A população, às vezes, não entendeu isso; não lembra que um profissional tem limites; o político, também. O ser humano tem seus cansaços, suas necessidades, que muitas vezes não foram respeitados. Essa foi a parte negativa.

As pessoas não compreendem quando e o que se pode dar e o que não se pode. Esquecem que o outro lado tem suas necessidades, seus limites de crescimento, suas necessidades de recuar e isso nós tivemos o cuidado de não nos destruir totalmente, tanto pessoalmente, de maneira estrutural, empresarial e às vezes o eleitor não entendeu isso. Àqueles que entenderam e que respeitaram esses limites, a gente agradece e parabeniza pelo trabalho que fizeram conosco. Temos grandes admiradores, temos adversários, temos pessoas que não nos entendem e não tem empatia conosco. Ninguém consegue agadar a todo mundo. É assim na política, como é assim na vida.

* Entrevista publicada na edição 76 do Jornal do Comércio, que circulou na véspera de Natal.

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