sexta-feira, setembro 26, 2008

Medo de avião pequeno

Jota Parente - Em tempos de eleição é comum a gente relembrar casos ocorridos em campanhas políticas. Há algumas edições contei a história envolvendo o então candidato a vereador Luis Preto. Nesta edição vou rememorar um fato ocorrido no mesmo ano de 1992, por ocasião da campanha eleitoral na qual Wirland Freire foi eleito prefeito pela primeira vez.
Saímos para um giro rápido por alguns garimpos, com a condição de fazer três grandes reuniões políticas em único dia. Eu morria de medo de viajar de avião, naquele tempo. Se fosse monomotor, então, só entrava no último caso. Mas, como coordenador da campanha, tinha que deixar o medo de lado. A primeira parada foi no garimpo do Marupá e o meu primeiro susto foi logo no pouso, pois o avião, um Carajá de prefixo PT-VCG parou quase dentro do cemitério, que fica na cabeceira da pista a qual, por se bastante inclinada faz com que as aeronaves pousem sempre na direção do cemitério. Fizemos nossa reunião com os garimpeiros, tendo sido muito bem recebidos.
A decolagem é no sentido contrário para aproveitar a descida, mas, aí veio o segundo susto, porque havia mais gente no avião do que o bom senso recomendava. Isso fez com que a decolagem fosse complicada, pois sendo o Carajá bastante veloz, precisaria de uma pista maior para decolar. O piloto Merani puxou o manche no limite e todos os alarmes soaram. Wirland, que estava sentado ao lado do piloto, olhou para o Merani, preocupado. Os passageiros, dentre os quais eu, ficaram todos muitos assustados. Apesar do grande susto, por ter motores muito potentes, o Carajá deu conta do recado.
Do Marupá fomos para o Crepurizão onde a pista era muito boa, sobrando muitos metros, tanto para o pouso, quanto para a decolagem. Lá, fizemos a maior de todas as reuniões. A maior parte da comunidade foi ouvir as propostas do então candidato a prefeito, que tinha em sua, Wilmar Freire, que estava no seu segundo ano de mandato de deputado estadual, e Benigno Reges, que era o prefeito de Itaituba.
Terminada a bem sucedida reunião no Crepurizão, por volta de onze horas da manhã, recebemos uma informação dando conta de que estava chovendo torrencialmente no Cuiu-Cuiu, local onde estava marcado um almoço e outra grande reunião. Fomos aconselhados a não seguir para lá no Carajá, pois a pista, embora bastante extensa, por não ser piçarrada, era muito escorregadia. Uma operação de pouso num avião como aquele poderia não se bem sucedida.
Não podendo ir no PT-VG, o jeito foi conseguir um avião menor, um monomotor, para levar a comitiva. Porém, isso causou um impasse que durou alguns minutos: alguém teria que ficar. Benigno tinha muito mais medo de avião -pelo menos de avião pequeno - do que eu. Eu Também não queria ir naquela lata de sardinha. Eu dizia: vai Benigno; ele dizia que eu é que teria que ir e assim ficamos num jogo de empurra, enquanto os outros se divertiam, sabendo que nós dois estávamos mesmo era com medo.
Enquanto a gente não chegava a um acordo sobre quem ficava e quem embarcava, eu maquinava uma idéia para convencer Wirland a escolher quem deveria ir. Em determinado momento eu lembrei que existiam duas FMs piratas no Crepurizão, que tinham muita audiência na comunidade. Como andávamos sempre correndo, não houve tempo para visitar as duas emissoras, que foram a salvação da lavoura para mim.
Wirland, disse eu, é melhor eu ficar para visitar as duas emissoras de rádio para fazer tua propaganda eleitoral, pois não tem sentido a gente passar por aqui sem explorar todos os meios possíveis para vender a imagem do candidato. Ademais, o Benigno é o prefeito de Itaituba. Lá no Cuiu-Cuiu ninguém de conhece, ao passo que o prefeito, todos sabem quem é. E não e que colou! Wirland virou para o Benigno e disse: é Benigno, não tem jeito; o Parente tem razão, é melhor você e ele ficar. Muito a contragosto, com seu mais de um metro e oitenta ele apertou-se no carioquinha e subiu com os demais rumo ao Cuiu.
De fato, eu fui visitar as duas FMs, tendo sido bem recebido pelos colegas, que abriram os microfones para que eu falasse à vontade a respeito da candidatura de Wirland Freire. Enquanto eu cumpria essa parte a missão, o Merani mantinha contato com outros pilotos pelo rádio, para saber em que condições estava a pista, até que, por volta das duas horas da tarde veio a informação de que já dava para ele pousa. Levantamos vôo e alguns minutos depois pousamos no Cuiu-Cuiu. O avião ainda deu uma derrapada, mas, não passou disso. De lá para cá eu perdi um pouco do medo de voar.

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