Publico o artigo do cantor e dublê de ator, Léo Jaime, fanático por futebol como eu. É bem longo, mas, muito interessante a análise que ele faz do recente fiasco da seleção brasileira, metendo o pau na crônica esportiva, da qual eu faço parte. E concordo com um bocado de coisas que ele diz. sugiro a leitura; principalmente para os amantes do esporte bretão.
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Fonte: No Mínimo
Por Léo Jaime
A convocação da seleção brasileira não causou polêmica, mesmo com a evidente decadência de alguns jogadores, por uma simples razão: não havia convicção por parte de ninguém em torno de outros nomes que não aqueles que embarcaram para a Alemanha.
Tínhamos um time mediano com alguns jogadores excelentes. Se alguém fez oba-oba e prometeu vitórias acachapantes, não devia cobrar do time ou da realidade, muito menos do Parreira, as promissórias do próprio delírio. No entanto tínhamos chances evidentes. Por que não? Alguém viu nesta copa um time espetacular? Jogadores voltando de contusão, fora de forma, velhos para jogar em funções que exigem velocidade (mas sem substitutos óbvios), um time de estrelas e sem conjunto: são várias as críticas da seleção desta copa que podiam ser feitas antes e mantidas durante todo o percurso. Nada disso impedia aquele time de levar a taça.
Sejamos honestos: as quatro equipes que chegaram às semi-finais não são tão melhores assim. Todas apresentam equivalentes falhas e pontos fracos. Por isso acho que, com todos os problemas, éramos favoritos: não porque tínhamos um timaço, mas porque podíamos, nas individualidades, ser melhores.Há aquela anedota do avião que cai na selva, sem combustível, com dois passageiros que logo avistam uma onça. Um deles, afoito, procura na bagagem o tênis; ao que o outro indaga: “O que é isso? Você acha que só porque está de tênis vai correr mais do que a onça?”. O outro, se levantando, responde: “Eu não preciso correr mais do que a onça, eu só tenho que correr mais do que você!”.
Voltemos à copa, às expectativas criadas pela mídia e para o futebol razoável apresentado por nossa seleção. Sim, razoável. Entre o branco e o preto existem muitos tons de cinza e nossa crônica precisa aprender a enxergá-los. Até porque é preciso entender que crônica, crítica e torcida são coadjuvantes importantes na motivação ou desmotivação de um atleta ou time.
E se algo há para ser aprendido nesta aventura sombria e tristonha em território Alemão, é isso: pela primeira vez o povo não apoiou.Neste momento em que se faz a caça às bruxas, e parece lógico procurar o culpado e linchar qualquer um envolvido com a “vergonha” nacional, parece uma estupidez de minha parte apontar o dedo para outra direção que não o time e a comissão técnica. É óbvio que, mais do que qualquer outra coisa faltou vontade ao nosso time. Sim, é óbvio.
A razão pela qual o time estava tão baixo-astral parece não importar aos críticos ansiosos por sangue. É nisto que me detenho: o que teria deixado jovens inegavelmente talentosos tão apagados? O que sobra do discurso entrecortado de um ou outro, aqui e acolá, é a “pressão” insuportável. Alguém se habilita a tentar entender o ponto de vista? Acho que não. Melhor execrar, bater, xingar, malhar, odiar e pronto. Quem quer entendê-los? Eles tinham a obrigação da vitória ou pelo menos de lutar por ela e não o fizeram. Ninguém quer saber o porquê. Assim foi durante a copa. Natural que lhes faltasse autoconfiança.
Vamos observar o comportamento de quem faz a tal “pressão”. A crônica, curiosamente, adora a unanimidade. Disseram que Ronaldo não podia jogar a copa. Ele foi o melhor do ataque. Disseram que a defesa era uma porcaria. Ela foi brilhante. Disseram que o futebol de Gana era muito perigoso. Sim, se o gol tivesse 12 metros de altura Gana ganhava tudo! Apostaram em muitos times maravilhosos que não desencantaram e em vários craques que não jogaram nada.
Disseram que nossos reservas eram melhores que os titulares. Claro, não avaliando o fato de que entraram para jogar com o time já classificado e contra um adversário, o primeiro, que não podia ficar na retranca. Inventaram que Robinho e Adriano não queriam jogar com Ronaldo, que o ambiente era ruim e nada disso se confirmou.
Disseram, enfim, ainda em uníssono, que Parreira era cabeça-dura por não colocar o Juninho Pernambucano e o Gilberto Silva desde o início, para, depois do jogo em que ele assim o fez, dizer que ele era uma besta, ainda em uníssono, por assim o fazer.
Como é que ele escala dois jogadores que nunca tinham treinado com o time titular? Incoerência, arrogância e em muitos casos falta de respeito. Infográficos de rouba-página por causa de uma bolha no pé de um jogador? Chamá-lo de “ O rapaz da bolha” em alusão ao filme, por causa disso? Dizer que ele tem psicose maníaco-depressiva porque ele acha isso um exagero e fica chateado? A crônica pode tudo!Não vou enumerar todos os erros da crônica nesta jornada pois eles são incontáveis.
Denoto, porém, a incapacidade da autocrítica e de lidar com os meios-tons: ou os jogadores são gênios ou são medíocres. Observei também uma preocupação enorme em criticar os salários, os hotéis, os patrocinadores, o sucesso, enfim, dos nossos ídolos. Isso é o que posso chamar de uma marcação cerrada, homem a homem, no âmbito pessoal e profissional, punindo cada um da comissão por ser escolhido para representar as cores nacionais. Isso é o que eles chamam de “pressão”.
Isso que os cronistas exercem com prazer pois, fazendo-o, pensam ser idôneos e ter “atitude”. Acham que a crítica impiedosa e a violação de qualquer limite é uma prova de caráter e de idoneidade moral. A copa se desenrola de um lado e um outro campeonato, para ver quem é o mais cruel, o mais durão, rola do outro.
Isso não é novidade! Quando a seleção de 70 saiu do Brasil chamavam os jogadores por todos os nomes, com a mesma crueldade que usam ainda hoje. A unanimidade convenceu o povão a apedrejar Felipão e seu time em 2002. Naquela época era Romário machucado e mais 22 ou não tínhamos a menor chance, lembra? Pois é! Não há novidade em a crônica odiar a seleção e seu técnico porque eles insistem em ter vida própria.
A seleção perder a copa também não é novidade. Até mesmo ver os jogadores em campo sem aparente disposição para jogar bola, nós já vimos! E contra a mesma França! A novidade, para mim, é a falta de bandeiras nas ruas, de comemorações depois das vitórias, e, principalmente, de uma torcida exemplar no estádio.
Somos o melhor futebol porque temos a melhor torcida. E vice-versa. Não consigo pensar numa coisa sem a outra.Sei que estou me expondo ao julgamento de todos pois a unanimidade também aponta o futebol da França como espetacular no jogo contra o Brasil. Pois eu acho que se o Brasil tivesse jogado o futebol razoável dos outros jogos tinha feito 3 x 1 na França.
Se tivesse jogado! O Brasil não jogou! O astral dos homens que entraram em campo era de velório! O Parreira parecia conformado e ninguém, mas ninguém mesmo, parecia querer dar um berro para acordar o time. É claro que o massacre da mídia não justifica, mas explica! Tomar pau depois dos 3 x 0 contra Gana foi desanimador para eles.
Todo mundo, inclusive jogadores de seleção, gosta mais de incentivo do que de porrada.Depois do jogo fiquei vendo, como sempre, as mesas redondas, lendo as matérias e ouvindo os comentários nas rádios. Quanta gente feliz com a derrota! Aqueles que torciam contra estavam exultantes! Enfim, o mau humor tinha vencido. Agora era só chutar o defunto. E conclamar as massas ao linchamento.
Veja como foi a derrota dos Argentinos. Foram desclassificados porque o técnico mexeu mal e os jogadores perderam pênaltis. Chegaram em sexto, ficaram atrás do Brasil! Foram ovacionados na volta a seu país. A história é uma só! O que muda é o jeito de contá-la.
A geração de Pelé e Gérson não deve ser lembrada por uma copa em que foram eliminados na segunda fase ficando em décimo-primeiro lugar (eram dezesseis times). Pelé não deve ser lembrado como o que quebrou a perna de outro jogador e nem Zico era o que perdia pênaltis.
Por isso insisto em dizer que nossa crônica deveria parar de ver com lentes de aumento tudo o que nosso time faz de errado enquanto se esquece de observar o que ele faz de bom. Convencer a torcida a ficar calada no estádio e convencer o torcedor a odiar seus ídolos não é mérito nenhum. Não deveria ser motivo de vaidade. Até porque fazer parte da crônica é muito mais fácil do chegar ao selecionado do melhor futebol do mundo.
É muito fácil dizer Nós somos campeões, na vitória e dizer eles perderam, na derrota. Perdoe se você não concorda. Mas eu torço para o Brasil e ainda acho que somos o melhor futebol do mundo. Não somos e nem nunca fomos perfeitos. Mas não podemos, e isso é o que mais incomoda, perder o nosso melhor jogador: a torcida. Torcida que só aparece na vitória não é torcida. É platéia
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