UOL - Os recentes massacres de presos no Norte do país
jogaram luz sobre a rotina de um grupo que sofre com as condições precárias do
sistema carcerário brasileiro: os agentes penitenciários. Ao UOL, oito profissionais de seis Estados relataram uma
rotina de medo, insegurança e falta de estrutura para trabalhar. Por temor de
represálias, sete deles só aceitaram dar entrevista sob condição de não ter o
nome revelado.
O Conselho Nacional de Política Criminal, do
Ministério da Justiça, recomenda a média de cinco presos por agente. No
entanto, os depoimentos ouvidos pela reportagem mostram que há escassez de
carcereiros e superlotação de criminosos, combinação que faz com que os presos
não se sujeitem às regras das unidades e a sensação de segurança seja nula.
Segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça)
e de governos estaduais, todas as unidades prisionais citadas neste texto estão
superlotadas. Também por essa razão, em vez de servirem para punição e
ressocialização de infratores, as unidades prisionais viram locais onde
bandidos cometem novos delitos e recrutam mais integrantes para facções
criminosas.
Eles fazem o que eles quiserem, quando
eles quiserem e na hora em que eles quiserem. Você fica preso sem estar
preso."
Agente do Rio de Janeiro
"Nossa segurança é Deus"
No cotidiano descrito pelos agentes, a insegurança
é total em lugares onde, em teoria, os criminosos estariam neutralizados. Dois
agentes do Rio de Janeiro contaram que já viram colegas serem agredidos por
detentos. No Complexo do Curado, no Recife, presos ficam com as chaves das
celas e teriam mais armas que os agentes de plantão.
até as algemas necessárias para o transporte de
presos estariam em falta.
"A nossa segurança é puramente Deus", diz
um agente do Rio.
"Por ser uma construção antiga, os detentos
conseguem facilmente derrubar uma parede. Eles sabem que é só molhar a
estrutura para conseguir abrir buracos entre as alas. É um tijolo feito de
barro", disse.
Os agentes também são alvos frequentes de
intimidação. Ao longo do tempo, presos passam a dizer que sabem detalhes de
suas vidas pessoais.
"Às vezes você mora numa região em que você
encontra parentes de presos, até presos que você viu criança. Eles passam
informações. A gente vive sob pressão. Somos uma presa muito fácil", conta
um agente do Rio.
"Me sinto zero seguro, principalmente com a
superlotação", afirma um agente de São Paulo. "A gente fica
receoso de qualquer hora acontecer alguma coisa, porque é a gente que vai ficar
com a faca no pescoço."
O vice-presidente do Sinspeam (Sindicato dos Agentes Penitenciários do
Amazonas), Antônio Jorge Santiago, há mais de 30 anos na profissão, diz que seu
cargo é o de "refém pago pelo Estado".
Nós não somos heróis. Todo mundo sente medo, principalmente. O
medo impera."
Antônio Jorge Santiago, vice-presidente do Sinspeam
Sem mão de obra para fiscalizar
Segundo os relatos, é comum que algumas dezenas de
agentes desarmados vigiem centenas de detentos, além do entra e sai de
visitantes, materiais e alimentos. Isso abre espaço para que os presos
determinem regras próprias para o que pode ou não ser feito dentro de uma
unidade prisional.
"Tem presídios com 3.000 pessoas e um
efetivo de oito, nove, dez pessoas trabalhando em um dia bom", diz um
agente do Rio de Janeiro.
Segundo o Sindasp-PE (Sindicato dos Agentes e
Servidores do Sistema Penitenciário de Pernambuco), há em média 12 agentes por
plantão para quase 7.000 detentos no Complexo do Curado, no Recife.
POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO
BRASIL AUMENTOU 85% EM 10 ANOS
compartilhe
vídeos relacionados
0:00
1:11
360p
1080p
720p
360p