domingo, julho 06, 2014

A Cidade do Já Teve

Jota Parente, artigo na edição 182
            No estado no qual Itaituba vive à espera de cumprimento de promessas de seguidos governos, agora podemos dizer que vivemos na Cidade do Já Teve. O foco, neste momento é o esporte, pois Itaituba foi a cidade na qual, em um passado recente, alguns dirigentes de clubes investiram alto para montar grandes equipes para a disputa do campeonato itaitubense de futebol, no final da década de 1980 e começo dos anos 1990, tornando-o o mais caro de toda esta região, incluindo Santarém. Eram contratados a peso de ouro, jogadores de Santarém, de Belém e de Fortaleza, entre outras cidades. O futebol praticado era de alto nível. Então, já tivemos um bom e caro campeonato municipal.
            Isso faz parte de uma história recente, cujos registros foram feitos em textos, fotos e vídeos para que à posteridade possa ser mostrado um período de muito brilhantismo do futebol local. E no que diz respeito a esse arquivo, na parte de vídeo, é a TV Eldorado que tem um acervo respeitável, mesmo que apenas a partir de 1991 nos tempos em que eu era diretor e tive companheiros de trabalho como Ivan Araújo, Weliton Lima, Lamberto de Carvalho, entre outros. Pelo menos essa parte da memória foi preservada.
            Durante mais de duas décadas o evento Jogos Abertos foi o mais importante do gênero no interior da região amazônica em sua categoria. Eram formadas equipes com o que havia de melhor nas diversas modalidades, que incluíam esportes coletivos de quadra, futebol, atletismo e natação. Em muitos casos, empresas cujos donos se interessavam pelo esporte investiam boas somas em dinheiro para trazer atletas de fora, sobretudo, de Santarém. E a exemplo do futebol local, também existem muitos registros em vídeo e fotos dos Jogos Abertos, que se exauriram com o passar do tempo e, embora esteja existindo um louvável esforço do desportista Júnior Araújo, titular da DICULD, na tentativa de resgatas os Jogos Abertos, por enquanto não deu resultado.
            A mais recente cacetada na cabeça de quem gosta de esporte e ama o jogo bem jogado foi a notícia sobre a não realização da Copa Ouro de Futsal deste ano de 2014. Estava caminhando para isso e, de certa forma a informação não chegou a ser uma verdadeira bomba no meio esportivo local, apesar de todos terem torcido para que houvesse uma mudança de rumo.

            O fim da Copa Ouro de Futsal que talvez seja o fim de mais um ciclo do esporte local, é o que se pode chamar de crônica de uma morte anunciada, pois desde 2010, as pessoas que acompanhavam bem de perto os bastidores da competição, entre os quais eu me incluo, vinham alertando para o que se poderia denominar de Bolha da Copa Ouro. As equipes inflacionaram as contratações de atletas de fora, de tal maneira, com uma rapidez impressionante, que nem precisava ter bola de cristal para se concluir que os próprios times estavam levando a Copa Ouro para o abismo. Quando participei de mesas redondas promovidas pela TV Tapajoara, eu fiz um alerta a respeito do risco que estava correndo, de a Copa Ouro ser inviabilizada pelas próprias agremiações. Infelizmente isso aconteceu mais cedo do que se esperava.
            Atletas de elevado nível do mundo do futsal brasileiro ficavam esperando serem contatados por donos de equipes de Itaituba, pois aqui estava uma galinha que botava ovos de ouro. Era uma competição de curta duração, com altíssima remuneração para eles e para treinadores. Estou falando de jogadores de nível de Seleção Brasileira de futsal. Para citar apenas um que foi convocado, Dieguinho, grande responsável pela conquista do título da Manauara em 2011.
            Na edição 180 do Jornal do Comércio, na qual o diretor da TV Tapajoara, Ivan Araújo foi entrevistado especificamente sobre a Copa Ouro deste ano, a gente abordou esse assunto da inviabilização financeira patrocinada pelas equipes, que na ânsia de serem campeãs, fugiam totalmente de qualquer tipo de planejamento. Ivan lamentou durante a entrevista, que esse caminho tenha sido tomado, pois isso fez com que os propósitos iniciais tivessem sido abandonados. Um dos mais importantes, valorizar a prata de casa, ficou pelo meio do caminho, na medida em que os times foram pressionando a direção do evento para que pudessem ser contratados cada vez mais atletas federados, até abrir geral, praticamente excluindo totalmente jogadores de Itaituba e de outros municípios, excetuando Santarém. Lamentavelmente, o resultado foi esse que ninguém gostaria que fosse.
            Por fim, a cidade do já teve no esporte, um dia teve um estádio de futebol chamado Teófilo Olegário Furtado, que deu lugar à construção do Hospital Regional do Tapajós. Existe consenso entre os esportistas e desportivas, que a Prefeitura deveria ter conseguido outro local para o HRT, pois o estádio ainda teria vida útil por algumas décadas, bastando que fossem feitos os trabalhos necessários para torna-lo mais moderno. Pior do que isso é ficar ouvindo políticos prometendo um novo estádio, coisa que qualquer imbecil sabe que não vai acontecer nem em médio prazo. Todos eles tem mentido para a população quando falam em construção de uma nova praça para a prática do futebol, pois não existe, sequer, um terreno disponível para tal. Essas mentiras aumentarão muito daqui a poucos dias, quando começar a campanha política. Quem quiser crer nesses mentirosos, que creia, porque eu não acredito. A única coisa da qual tenho certeza é de que por muito tempo vamos continuar a sendo a Cidade do Já Teve.

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