Em nota, Anamatra, Ajufe e AMB afirmam que posição do ministro Joaquim
Barbosa em declarar que juízes têm mentalidade pró impunidade é
desrespeitosa para com os membros do Poder Judiciário brasileiro.
A Anamatra, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a
Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgaram na tarde
deste sábado (2/3) nota pública na qual rebatem declarações do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. O
magistrado, em entrevistaconcedida
a correspondentes estrangeiros na última quinta-feira, afirmou que os
juízes brasileiros têm mentalidade "mais conservadora, pró status quo,
pró impunidade".
Confira abaixo a íntegra da nota:
NOTA PÚBLICA
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes
Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra), entidades de classe de âmbito nacional
da magistratura, a propósito de declarações do presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) em entrevista a jornalistas estrangeiros, na qual
Sua Excelência faz ilações sobre a mentalidade dos magistrados
brasileiros, vêm a público manifestar-se nos seguintes termos:
1. Causa perplexidade aos juízes brasileiros a forma preconceituosa,
generalista, superficial e, sobretudo, desrespeitosa com que o ministro
Joaquim Barbosa enxerga os membros do Poder Judiciário brasileiro.
2. Partindo de percepções preconcebidas, o ministro Joaquim Barbosa
chega a conclusões que não se coadunam com a realidade vivida por
milhares de magistrados brasileiros, especialmente aqueles que têm
competência em matéria penal.
3. A comparação entre as carreiras da magistratura e do Ministério
Público, no que toca à “mentalidade”, é absolutamente incabível,
considerando-se que o Ministério Público é parte no processo penal,
encarregado da acusação, enquanto a magistratura – que não tem
compromisso com a acusação nem com a defesa – tem a missão
constitucional de ser imparcial, garantindo o processo penal justo.
4. A garantia do processo penal justo, pressuposto da atuação do
magistrado na seara penal, é fundamental para a democracia, estando
intimamente ligada à independência judicial, que o ministro Joaquim
Barbosa, como presidente do STF, deveria defender.
5. Se há impunidade no Brasil, isso decorre de causas mais complexas que
a reducionista ideia de um problema de “mentalidade” dos magistrados.
As distorções – que precisam ser corrigidas – decorrem, dentre outras
coisas, da ausência de estrutura adequada dos órgãos de investigação
policial; de uma legislação processual penal desatualizada, que permite
inúmeras possibilidades de recursos e impugnações, sem se falar no
sistema prisional, que é inadequado para as necessidades do país.
6. As entidades de classe da magistratura, lamentavelmente, não têm sido
ouvidas pelo presidente do STF. O seu isolacionismo, a parecer que
parte do pressuposto de ser o único detentor da verdade e do
conhecimento, denota prescindir do auxílio e da experiência de quem
vivencia as angústias e as vicissitudes dos aplicadores do direito no
Brasil.
7. A independência funcional da magistratura é corolário do Estado
Democrático de Direito, cabendo aos juízes, por imperativo
constitucional, motivar suas decisões de acordo com a convicção
livremente formada a partir das provas regularmente produzidas. Por
isso, não cabe a nenhum órgão administrativo, muito menos ao Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), a função de tutelar ou corrigir o pensamento e
a convicção dos magistrados brasileiros.
8. A violência simbólica das palavras do ministro Joaquim Barbosa acende
o aviso de alerta contra eventuais tentativas de se diminuírem a
liberdade e a independência da magistratura brasileira. A sociedade não
pode aceitar isso. Violar a independência da magistratura é violar a
democracia.
9. As entidades de classe não compactuam com o desvio de finalidade na
condução de processos judiciais e são favoráveis à punição dos
comportamentos ilícitos, quando devidamente provados dentro do devido
processo legal, com garantia do contraditório e da ampla defesa.
Todavia, não admitem que sejam lançadas dúvidas genéricas sobre a lisura
e a integridade dos magistrados brasileiros.
10. A AMB, a Ajufe, e a Anamatra esperam do ministro Joaquim Barbosa
comportamento compatível com o alto cargo que ocupa, bem como tratamento
respeitoso aos magistrados brasileiros, qualquer que seja o grau de
jurisdição.
Brasília, 2 de março de 2013.
HENRIQUE NELSON CALANDRA
Presidente da AMB
Fonte: Extraído do blog do Manuel Dutra
Parente, o ministro Joaquim Barbosa teve a coragem de dizer o que de fato acontece com referência à maioria do judiciário brasileiro. Claro fica que ele mexeu num vespeiro enorme. Ou será sem fundamento que somos considerados o País da impunidade.
ResponderExcluirJoão Carlos Dirte
Somos muito avançados na aprovação de lei de tudo quanto é jeito, mas, como disse o ministro Joaquim Barbosa, continuamos muito conservadores na aplicação delas. No Brasil, como diz o ditado, promotor pensa que é Deus. Juiz ter certeza que o é.
ResponderExcluirMarcelo Ubiratan Sanches